A escassez de água potável e o agravamento das inundações, estão já a afetar a China. A solução para uma melhor gestão dos recursos hídricos pode passar pela criação de cidades ecológicas que absorvem as águas das chuvas.
A sobrevivência e o desenvolvimento da sociedade humana dependem da água. Entre 1900 e 2010, a procura global de água aumentou quase oito vezes, como resultado de fatores como o crescimento populacional, o desenvolvimento económico e uma mudança na dieta alimentar.
Mas na China, onde a economia tem tido um dos crescimentos mais rápidos do mundo, a água está a esgotar-se. Com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes, o país precisa de água para prosperar, mas esse recurso vital tornou-se limitado e é distribuído de forma desigual.
China: escassez de água e inundações
Hoje em dia, após décadas de urbanização e poluição, a China enfrenta, por um lado, a escassez de água, por outro, inundações, que têm vindo a ser agravadas pelos efeitos das alterações climáticas.
Também a qualidade da água tem vindo a piorar, devido à poluição e a uma má gestão dos recursos locais, o que significa que grande parte dos recursos hídricos disponíveis é inutilizável.
O Norte da China está a ser particularmente afetado pela escassez de água ao longo de todo o ano, enquanto no Sul da China, o problema é sazonal. Para esta situação contribui o facto de que 80% da água no país está concentrada no Sul, quando o Norte é o epicentro do desenvolvimento nacional.
As inundações são também um enorme problema. As alterações climáticas estão a gerar chuvas e tempestades mais fortes, afetando grandes áreas do sul da China, incluindo a bacia do Yangtze e os seus afluentes.
Em julho de 2021, a cidade chinesa de Zhengzhou, na província de Henan, lutou contra as chuvas mais fortes num milénio e inundações devastadoras que mataram pelo menos 300 pessoas e obrigaram à deslocação de mais de um milhão de habitantes.
"Cidades-esponja" tentam resolver a crise da água
Uma "cidade-esponja" é uma solução baseada na natureza para manter as inundações à distância, através da utilização da paisagem para reter água na sua fonte, retardar o seu fluxo e limpá-la ao longo de todo o processo.
O objetivo é reter a água das chuvas em áreas urbanas, impermeabilizando o pavimento pavimentado, de modo a que parte da água evapore e o resto seja gradualmente drenado.
Além de se impermeabilizar as estradas e os pavimentos, são plantadas mais árvores e construídos edifícios inteligentes para se adaptarem à esponja da cidade. Isto implica a cobertura dos telhados com relva, para maior absorção da água, e pitar os edifícios com cores claras para refletirem mais calor, em vez de o absorverem.
No fundo, as "cidades-esponja" são cidades ecológicas que oferecem uma estratégia para incorporar o ciclo da água no planeamento urbano.
O conceito foi concebido por Kongjian Yu e proposto por investigadores chineses, em 2013.
Yu é um planeador urbano e arquiteto paisagista ecológico. É também professor de arquitetura paisagista na Universidade de Pequim e fundador do gabinete de planeamento e design Turenscape, em Pequim.
Parque pantanoso de Tianjin
Inspiradas em estratégias internacionais de gestão integrada da água urbana (IUWM), incluindo sistemas de drenagem sustentáveis (SuDS), usados no Reino Unido, ou de desenvolvimento de baixo impacto (LID), como nos Estados Unidos da América, as "cidades-esponja" de Yu têm como objetivo controlar as inundações urbanas, a poluição da água e a reciclagem das águas pluviais.
Do ponto de vista científico, uma "cidade-esponja" tem de ser:
- Ambientalmente adaptável
- Sistemática e abrangente
- Amiga do ambiente
"Embora infraestruturas cinzentas de betão, aço, tubos e bombas, possam ser necessárias para resolver problemas individuais urgentes, consomem enormes quantidades de betão e energia, carecem de resiliência e muitas vezes acumulam um risco de desastre mais elevado. Quebram a ligação entre o homem e a natureza", diz o arquiteto paisagista à Euronews Green.
"Mais do que nunca, face às alterações climáticas globais e às tecnologias industriais destrutivas, temos de repensar a forma como construímos as nossas cidades, a forma como tratamos a água e a natureza, e mesmo a forma como definimos a civilização.
As "cidades-esponja" são inspiradas pela sabedoria antiga da agricultura e da gestão da água que usam ferramentas simples para transformar a superfície global a uma vasta escala e de uma forma sustentável".
Rio Haikou Meishe - antes e depois da "cidade-esponja"
Onde estão as "cidades-esponja" da China?
O parque de águas pluviais Qunli, de 34 hectares, na cidade de Harbin, no norte da China, é um exemplo de uma "cidade-esponja" com sucesso. Recolhe, limpa e armazena águas pluviais, ao mesmo tempo que protege o habitat natural nativo e proporciona um espaço público verde para uso recreativo.
O governo chinês já escolheu 16 cidades-piloto para a implementação de estratégias inovadoras de gestão da água. A lista inclui Wuhan, Chongqing e Xiamen. Cada uma das contempladas vai receber entre 400 e 600 milhões de yuan (cerca de 55 milhões de euros) para levar a cabo o projeto ambiental.
A procura de um modelo de "cidade-esponja" está a aumentar. De acordo com a empresa de de arquitetura Turenscape, com a China a anunciar atingir o pico das emissões de carbono até 2030, 70% das cidades chinesas estão a esforçar-se por elaborar projetos ecológicos.
De acordo com o engenheiro civil a trabalhar na neerlandesa Royal Haskoning DHV, a transformação "está a mostrar que o design ecológico pode ser mais do que apenas telhados verdes e jardins pluviais, pode levar a um pensamento revolucionário da própria textura de uma cidade".
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