"O período mais quente e que afectou mais continentes, países e regiões dos últimos dois mil anos ocorreu durante o século XX. Estas são as principais conclusões de uma investigação que reconstruiu a evolução das temperaturas médias anuais desde o ano 1 (d.C.) até ao ano de 2000 e que foi divulgada pela revista científica Nature."
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Caso existissem termómetros há dois mil anos, dificilmente teriam registado temperaturas tão altas como as que se fizeram sentir nos últimos anos. De há dois milénios para cá que as temperaturas não atingiam picos tão altos em pelo menos 98% do planeta — e tudo por causa da mão humana.
O período mais quente e que afectou mais continentes, países e regiões dos últimos dois mil anos ocorreu durante o século XX. Estas são as principais conclusões de uma investigação que reconstruiu a evolução das temperaturas médias anuais desde o ano 1 (d.C.) até ao ano de 2000 e que foi esta quinta-feira divulgada pela revista científica Nature.
Os cientistas responsáveis pela investigação fazem parte de vários institutos internacionais que se especializam no estudo das alterações climáticas, como o Centro de Pesquisa Climática de Bjerknes (Bjerknes Center for Climate Research), na Noruega, o Centro de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas de Oeschger (Oeschger Centre for Climate Change Research), em Berna, na Suíça, o Observatório Terrestre de Lamont-Doherty (Lamont-Doherty Earth Observatory) da Universidade Columbia, nos Estados Unidos ou o Departamento de Física da Universidade de Múrcia, em Espanha.
Sem termómetros, tudo o que os cientistas têm à mão são indicadores climáticos indirectos ("proxies", na linguagem académico) tais como documentos históricos, registos escritos de colheitas, épocas de floração, de observação do tempo e catástrofes meteorológicas, ou seja, dados que ajudam a reconstituir o clima numa determinada época. No entanto, foi na própria Natureza que os investigadores encontraram as maiores fontes. As amostras de gelo das regiões polares guardam testemunhos milenares sobre a precipitação, sobre a fusão periódica da cobertura gelada e sobre a composição da atmosfera — dos corais do Pacífico também se extraem dados climáticos.
Usando precisamente estes registos paleoclimáticos, como anéis de árvores, análise do crescimento dos glaciares e da composição dos sedimentos de lagos, os cientistas estudaram mais de 700 destes registos e concluíram que o aquecimento actual “não tem paralelo em termos de temperaturas absolutas” nos últimos dois milénios, e é também o mais abrangente. Até mesmo no ponto mais alto da Anomalia Climática Medieval (950-1250), só 40% da superfície da Terra atingiu as temperaturas mais altas ao mesmo tempo.
Os anéis de árvores foram particularmente importantes, uma vez que a sua largura e densidade indicam, ano a ano, se o clima foi mais quente ou mais frio, mais húmido ou mais seco. Combinando-se amostras de diferentes idades, é possível reconstituir as condições climáticas ao longo de milhares de anos.
A influência do Homem
Os primeiros registos oficiais das temperaturas médias anuais não vão além dos meados do século XIX, nos primeiros anos da Revolução Industrial, altura em que as máquinas de vários países começaram a queimar carvão, um passo que acabaria por marcar o primeiro contributo do Homem para o aquecimento global.
Mesmo assim, os períodos de aquecimento e arrefecimento antes da Revolução Industrial estavam dentro dos parâmetros das variações naturais do clima, dizem os cientistas. O sobreaquecimento actual está a acontecer em simultâneo em várias zonas do planeta, como na Europa central, no Árctico, no sudeste da Ásia e na bacia amazónica. De fora da equação tem ficado apenas a Antárctica – mas o continente gelado está a começar a sentir cada vez mais os efeitos do aquecimento do planeta.
“O nosso estudo fornece fortes indícios de que o aquecimento global causado pelo homem não pode ser comparado com outras causas, como as erupções vulcânicas. Não há precedentes para estes acontecimentos nos últimos 2000 anos”, lê-se no estudo.
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