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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Entenda como uma cidade-esponja é construída e como ela é capaz prevenir as enchentes decorrentes de eventos climáticos


Uma cidade-esponja é uma solução natural que usa a paisagem para reter a água da chuva, evitando enchentes e outros problemas resultantes da precipitação. Elas são comumente construídas em áreas urbanas com áreas naturais abundantes, como árvores, lagos e parques, que auxiliam na absorção da água.

O conceito de “cidade-esponja” foi popularizado em 2013 através da proposta do professor da Universidade de Arquitetura de Pequim e arquiteto chinês Kongjian Yu. A inspiração por trás do desenvolvimento dessas áreas deriva de estratégias internacionais de gestão integrada de águas urbanas, incluindo sistemas de drenagem sustentáveis e desenvolvimentos de baixo impacto.

Em 2015, o governo chinês lançou o The National Sponge City Pilot Program, apoiando 30 cidades chinesas e contribuindo para a redução dos riscos de inundação no país. Em todas as cidades, aproximadamente 56 mil quilómetros de vias verdes e cerca de 72 mil quilómetros quadrados de áreas verdes e parques foram construídos.

Segundo um relatório do Asian Development Bank, a implementação dessa solução resolveria os maiores problemas relacionados à água enfrentados em regiões urbanas do país: a escassez e excesso de água, a poluição e a água barrenta.

Por que as cidades-esponjas foram inventadas?

De acordo com um relatório do IPCC, cerca de 700 milhões de pessoas vivem em áreas de extrema precipitação. Assim, estima-se que a implementação de cidades-esponjas pode contribuir para o urbanismo sustentável, promovendo a resiliência e melhoria da habitabilidade dessas regiões.

Existem quatro problemas principais que as cidades-esponjas podem resolver: 
  • Menos água disponível nas áreas urbanas e periurbanas: através do desenvolvimento urbano, a maioria das cidades foi pavimentada — o que impediu a absorção natural de água do solo. A dificuldade de absorção dessas áreas impossibilita o abastecimento de aquedutos, criando a escassez da água.
  • Água poluída despejada em rios ou no mar: quando chove, muitas vezes as estações de tratamento de águas residuais não conseguem acomodar toda a água que os sistemas de drenagem transportam. Dessa forma, parte da água da chuva misturada com o esgoto é despejada sem tratamento nos rios, contribuindo para a poluição de corpos d’água.
  • Degradação de ecossistemas urbanos e áreas verdes: em decorrência da poluição, parte dos ecossistemas urbanos são afetados, contribuindo para a perda da biodiversidade.
  • Aumento da intensidade e frequência das inundações urbanas: uma das consequências das mudanças climáticas é o aumento de eventos climáticos extremos. À medida que a capacidade de absorção da superfície urbana diminui, o risco de inundações provocadas por tempestades aumenta.

Como são construídas?
Uma cidade-esponja possui espaços que promovem a absorção de água, diferentemente de áreas asfaltadas. Portanto, ela necessita de:
  • Espaços verdes abertos, como cursos de água, canais e lagoas;
  • Telhados verdes que podem reter água naturalmente;
  • Intervenções de design poroso, como a construção de “biovalas” e sistemas de biorretenção para deter o escoamento e permitir a infiltração de águas subterrâneas;
  • Poupança e reciclagem de água, incluindo a extensão da reciclagem de água.
No entanto, a adição de espaços verdes, implementação de parques urbanos, plantações de árvores e outras soluções naturais também podem contribuir para o poder de absorção das cidades. Ou seja, existe a possibilidade da adaptação de cidades já existentes à cidades-esponjas.

De fato, dados da Arup comprovaram que as formas naturais de absorver a água urbana são cerca de 50% mais acessíveis do que as soluções artificiais e 28% mais eficazes.

“Normalmente, em ambientes urbanos, você tem telhados, áreas pavimentadas e tudo isso cobre sujeira e vegetação que costumavam agir como uma esponja. Telhados verdes, jardins de chuva e outras intervenções podem ajudar a desacelerar a água e começar a desfazer esta alteração em grande escala no ciclo hidrológico”, disse Michael Kiparsky, diretor do Wheeler Water Institute da Universidade da Califórnia, Berkeley.

Características
As principais características de uma cidade-esponja incluem:
  • Ambientalmente adaptável
  • Sistemático e abrangente
  • Ambientalmente amigável
“Mais do que nunca, enfrentando as mudanças climáticas globais e as tecnologias industriais destrutivas, temos de repensar a forma como construímos as nossas cidades, a forma como tratamos a água e a natureza, e até mesmo a forma como definimos a civilização.”

“As cidades-esponjas são inspiradas na antiga sabedoria da agricultura e da gestão da água que utiliza ferramentas simples para transformar a superfície global em grande escala e de forma sustentável”, disse Yu ao portal Euronews.


Desafios da implementação de cidades-esponjas
Especialistas do Asian Development Bank identificaram três desafios principais para a implementação de cidades-esponjas. São eles: Baixa prioridade

Embora a agravação da crise climática e do aquecimento global, a prioridade dos governos locais se desvia do urbanismo sustentável cada vez mais. Em vez disso, boa parte dos investimentos na luta contra as mudanças climáticas é desviado para outras áreas.

Investimentos fragmentados e falta de sistematização em toda a cidade e implementação sistêmica

Uma cidade-esponja não pode ser a única arma na luta contra as enchentes decorrentes dos eventos climáticos. Isso é evidenciado através de algumas cidades pilotos do projeto, em que as inundações ocorreram como antes ou pioraram, deixando a percepção de que o conceito falhou.

Assim, é importante considerar que a cobertura da infraestrutura da cidade-esponja está longe de ser suficiente para reduzir significativamente o risco de inundações urbanas em uma cidade, destacando a necessidade de mais planejamentos sistemáticos. Falta de integração entre setores e departamentos:

O programa de implantação de cidades-esponjas não é capaz de superar a departamentalização de responsabilidades dos governos locais. Desse modo, a coordenação entre os departamentos de administração e especialistas é essencial para que o projeto funcione.

Fontes


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