Arquitecto Manuel Graça Dias destaca casos de sucesso como o metro do Porto e sistema de autocarros inovador na Colômbia
Com a crise mundial a afectar o sector automóvel e geradora da necessidade de injecção de capital em vários grandes construtores, não parece, por isso, muito provável que a cidade do século XXI deixe de apostar no carro como meio de transporte predilecto. Porém, não é essa a opinião do arquitecto Manuel Graça Dias, para quem o século será de muitas coisas novas, mas não em louvor do automóvel.Na conferência que anteontem à noite decorreu no Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa, subordinada ao tema Da cidade que deixará de ser viária, o arquitecto e professor universitário disse que a crise do petróleo é um dos motivos que o levam a acreditar que a era do automóvel pode estar a chegar ao fim. A necessidade cada vez mais premente de proteger o ar que ainda se respira nas cidades vai levar à criação de carros menos poluentes. "Mas isso não resolve o problema do espaço, já que a cidade ficaria mais silenciosa, mas igualmente engarrafada", justificou.
Por isso, à semelhança do que já foi dito em outras intervenções deste ciclo de conferências (A cidade no século XXI), organizado pela Parque Expo, Manuel Graça Dias enfatizou a extrema importância dos transportes públicos de alta qualidade.
Casos de sucesso
Como bons exemplos, o arquitecto destacou o caso do metro do Porto e o sistema inovador de autocarros, TransMilenio, que começou a ser utilizado em Bogotá, na Colômbia, no ano de 2000. Segundo o conferencista, ambos os transportes têm uma vantagem: circulam à superfície. Não se mostra adepto das "catacumbas" criadas pelo metro subterrâneo, pois acredita que essa solução é muito pouco democrática.
No caso colombiano, diz que se criaram pequenas estações com plataformas cobertas, colocadas ao nível dos autocarros, evitando-se o tempo perdido nas entradas e saídas de passageiros que se verifica no sistema de autocarros usual.
Ao longo da conferência, o arquitecto evocou diversas vezes as medidas empreendidas por um autarca de Bogotá, Enrique Peñalosa, no sentido de melhorar a qualidade de vida da população na cidade. Aumentaram-se os impostos sobre os combustíveis, proibiu-se a utilização do carro nas horas de ponta, e ofereceram-se espaços em vias principais para os autocarros TransMilenio.
Quanto ao metro do Porto, classifica-o como uma "opção inteligente que aproveitou a maioria dos canais já existentes na cidade". "Os transportes à superfície têm a vantagem de não enterrar as pessoas, nem de as transformar em toupeiras autistas que desconhecem a cidade que está acima delas ao viajarem de metro", considerou.
E se, por um lado, acredita que a era de ouro do automóvel está à beira do fim, por outro ela não dita, para já, a extinção deste meio de transporte. Durante a sua intervenção, Graça Dias sublinhou a necessidade de uma maior diversidade nos meios de transporte disponíveis na cidade: carros mais pequenos e ecológicos, seg-ways, bicicletas e outros modos de circulação que ainda possam vir a ser inventados. Ainda assim, o arquitecto relembrou que "o transporte público de qualidade será provavelmente o traço distintivo das cidades de todo o mundo no século XXI".
Fonte: Publico, 2008
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