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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

'O entãosismo' || Whataboutism

'« (...) Whataboutism , em inglês, é uma variante dos argumentos tu quoque», da expressão latina que significa "tu também" (...)»'

'Os "entãosistas” não pretendem que as suas ideias sejam mais úteis ou verdadeiras, mais libertadoras, mais instrutivas ou mais honestas. Pretendem apenas desviar o assunto daquilo que mais os incomoda.
Imaginem que se escreve sobre [Viktor] Orbán. Razões não faltam. Orbán manda cessar a alimentação dos requerentes de asilo de forma a que a fome os impeça de usarem o seu direito de recurso nas decisões judiciais que os afetam. A Universidade da Europa Central, em Budapeste, vê-se forçada a suspender todos os programas com refugiados por causa da nova lei húngara que pune com impostos extorsionários as organizações que ajudem refugiados, incluindo com assistência jurídica. Para completar, Orbán vai a Itália e promove a exportação das suas táticas para violar os valores com que o seu governo se comprometeu através dos tratados europeus.

A resposta não se faz esperar: «então e quando escreves sobre Nicolás Maduro e o desastre em que se tornou a Venezuela?» Um tipo lá assinala que já escreveu (e voltará a escrever) sobre Nicolás Maduro e o desastre, aliás mais do que anunciado e doloso, em que Maduro e [Hugo] Chávez antes dele transformaram a Venezuela. Poderia até dizer que já não são de hoje os avisos sobre a demagogia, o autoritarismo e culto da personalidade que na Venezuela não poderiam deixar de dar em desastre – porque dão sempre em desastre (no meu caso poderia até acrescentar a autoria e a aprovação de resoluções condenando as violações de direitos humanos na Venezuela ou defendendo as liberdades políticas no país). Mal o faça, porém, célere vem o desafio: «então e os crimes do capitalismo? quando é que vão ser denunciados, julgados e condenados os crimes do capitalismo?»

Boa pergunta. Antes de respondermos a essa, lá virá alguém com: «então os crimes do socialismo?» E logo depois «então e os crimes do catolicismo?» Não, espera, antes haveria que responder a «então e os crimes dos islamistas?» E por aí adiante.

Se às vezes parece que boa parte daquilo que passa por debate público, na imprensa e nas redes sociais, é uma repetição infindável deste esquema – é porque é verdade. Em inglês há uma palavra para isto: o whataboutism. A wikipédia define o whataboutism como «uma variante dos argumentos tu quoque», da expressão latina que significa «tu também». Diz a wikipédia que o whataboutism é praticamente uma «ideologia nacional na Rússia de [Vladimir] Putin», que no entanto já tinha sido desenvolvida na União Soviética, onde a réplica «e na vossa terra há linchamentos de negros» era uma resposta corrente – tanto mais eficaz quanto verdadeira, diga-se – a qualquer crítica dos EUA à trágica situação das liberdades na URSS. Se assim é, a disseminação generalizada do whataboutism no comentário público e nas redes sociais é uma prova do triunfo metodológico de Putin. Digo metodológico, e não ideológico. Pode não haver muita gente a querer viver como na Rússia de Putin, mas não há praticamente recanto no espaço público que não esteja dominado pela sua forma de discutir.

E esse é precisamente o objetivo daquilo que decidi traduzir em português por “entãosismo”. Os "entãosistas” não pretendem que as suas ideias sejam mais úteis ou verdadeiras, mais libertadoras, mais instrutivas ou mais honestas. Pretendem apenas desviar o assunto daquilo que mais os incomoda: que alguém tenha o topete de chamar a atenção para os crimes e as violações de direitos humanos que são levados a cabo pelos seus ídolos políticos.

Com isso perverte-se e corrompe-se uma bela palavra. Sim, porque é útil e importante iniciar uma pergunta com «então e?» e é bom fazê-lo para desmascarar um hipócrita. Mas quando o debate é só isso, enfim, os “entãosistas” logram uma vitória tática às custas de um fracasso intelectual e moral – deles e para nós todos.

É possível ser-se conservador, liberal ou socialista e ser-se decente, honesto e inteligente. Vou mais longe mesmo e direi que é por serem decentes, honestas e inteligentes que a maior parte das pessoas de quem discordo pensam como pensam – e ainda bem. Mas não é possível ser um “entãosista” e ser-se intelectualmente honesto. Qualquer pessoa que queira dar um contributo ainda que pequeno à humanidade precisa de crescer para lá do entãosismo e tratar os entãosistas com o escárnio que eles merecem.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Hubert Reeves lançou um novo livro


Hubert Reeves, por muitos considerado como o “Poeta do Espaço”, lançou um novo livro. A obra do astrofísico canadiano “O Banco do Tempo que Passa – Meditações Cósmicas” está nas bancas desde Julho.

Nascido em 1932 na cidade de Montreal, no Canadá, Hubert Reeves tem-se destacado como um dos mais prolíficos e populares divulgadores de astronomia e astrofísica a nível mundial.

Com mais de uma dezena de livros de divulgação científica publicados em diversos países, que alcançaram muito sucesso, Reeves destaca-se pela sua escrita translúcida e acessível, mas que mantém o rigor científico, escrita pautada com um estilo poético que o caracteriza e que, por isso, é por muitos considerado como o “Poeta do Espaço”.

Entre nós, as obras de Hubert Reeves têm sido publicadas pela editora Gradiva, principalmente na sua prestigiada colecção “Ciência Aberta”. O primeiro, “Um pouco mais de Azul”, publicado em 1983, foi logo o número 2 desta colecção. O leitor encontra na “Ciência Aberta” os outros títulos deste autor, cuja leitura continua sempre interessante e actual.

Em Julho, foi publicado o mais recente livro deste cativante astrofísico, o número 228 da colecção “Ciência Aberta” da Gradiva.

Com tradução de Tiago Marques e revisão científica de Carlos Fiolhais, este novo livro de Hubert Reeves é destinado a todos os que se questionam sobre a natureza do Universo, sobre as questões imemoriais e primordiais da Humanidade, sobre as novas questões que o conhecimento científico tem feito desabrochar, sobre as questões que ainda não têm resposta e que nos inquietam.

Como escreve Hubert Reeves no preâmbulo, «este livro destina-se a todos os que se interrogam sobre o grande mistério da realidade na qual o nascimento nos pôs a viver durante algum tempo». É um livro para todos.

Ao longo de 336 páginas, Hubert Reeves partilha connosco as suas reflexões e a sua visão do Universo em que coabitamos e convida-nos a participar nesta aventura Humana, que é a de sermos capazes de nos interrogar sobre a nossa própria existência, sobre as nossas origens e o nosso destino.

Com uma liberdade de pensamento genuína e livre de preconceitos, mantendo uma consciência lúcida sobre a incompletude do conhecimento científico e o papel crucial da dúvida, do erro e da incerteza na ciência, com uma humildade que advém da consciência da ainda muita ignorância que detemos sobre como o Universo “funciona”, Reeves reflete connosco sobre a existência de Deus, sobre a necessidade de humanizar a Humanidade, sobre as alterações climáticas, sobre a evolução do Universo desde o Big Bang até ao aparecimento da consciência neste planeta azul, sobre o papel do acaso na evolução e no aumento da complexidade do Universo, entre muitos outros assuntos com que todos somos confrontados ao longo da nossa viagem pela vida.

Carlos Fiolhais escreve que este «é o livro dos livros de Reeves: uma súmula dos seus pensamentos sobre o Universo e sobre nós próprios». E é, de facto, um privilégio podermos partilhar com o Hubert Reeves o seu conhecimento e a sua cultura, o seu fascínio pela música e outras formas de arte que são, segundo o astrofísico, as expressões mais maravilhosas da evolução da vida no nosso planeta.

Sentemo-nos com Hubert Reeves neste seu “Banco do Tempo que Passa” e enriqueçamo-nos com os diálogos que ele estabelece com o leitor. Um livro para ler e reler ao acaso da nossa liberdade de escolha e interesse.

domingo, 19 de agosto de 2018

O Dinheiro Atrai o Egoísmo, por Albert Einstein


"Estou firmemente convencido de que nem todas as riquezas do Mundo poderiam fazer progredir a Humanidade, mesmo que se encontrassem na mão de um homem tão dedicado quanto possível à causa do progresso. Só o exemplo dos grandes e dos puros pode conduzir a concepções e feitos nobres. O dinheiro atrai o egoísmo e arrasta consigo o desejo irresistível de dar-lhe mau uso. 
Alguém poderá imaginar Moisés, Jesus ou Gandhi equipados com o saco de dinheiro de Carnegie?"

Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

sábado, 18 de agosto de 2018

Poema da Semana - As aves, por Gonçalves Dias

Teja por Lisa Larson

"As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores." 
in Canção do Exílio, de Gonçalves Dias

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Gorongosa: um caminho para o futuro


No final da guerra civil 90% da vida selvagem tinha desaparecido.

Hoje, para além de ser um dos maiores ecossistemas do país, o parque é a casa de um centro de atividade cientifica concebido para explorar, documentar e proteger a biodiversidade do Parque.

Amemarlita de Matos é aluna do mestrado em Biologia de Conservação:

Todos os dias descobrimos coisas novas e temos a grande oportunidade de conhecer outros investigadores que vêm cá. Podemos aprender coisas novas de áreas muito diferentes”.

Ana Ribeiro, que integra o corpo docente do mestrado, destaca as novas metodologias disponíveis para professores e alunos:

"É uma nova metodologia, com novas técnicas muito ligadas à investigação, muito práticas. É muito diferente para todos nós. É uma abordagem completamente diferente".

Abordagens diferentes em várias áreas de pesquisa. Uma das apostas é a Paleontologia.

René Bobe é paleontólogo e professor na Universidade de Oxford e no Centro de Investigação do Parque Nacional da Gorongosa:

"Usamos a paleontologia de um ângulo que não é apenas académico. Usamos a paleontologia de uma forma que pode ser útil para decisões de gestão e conservação".

Considerado um dos lugares da Terra com mais "biodiversidade", Gorongosa é agora local de estudo para a próxima geração de biólogos e estudantes da preservação da vida selvagem.

Fonte: Euronews, 09/07/2018

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Os serviços da floresta nos Açores


Cada floresta pristina organiza-se e adopta uma sociedade de seres que dela dependem mas com ela interconectam-se em redes de energia e de matéria impensáveis e de uma liquidez económica incriveis. 
Exemplo, os Açores: 

- A faia-da-terra é usada em sebes e dela chegou a produzir-se um carvão medicinal utilizado como “absorvente de gases do estômago e intestinos”. Também era utilizada em tinturaria para a preparação de uma coloração amarela.

- O cedro-do-mato foi utilizado pelos antigos na construção de igrejas, conventos e barcos, era empregue em tinturaria para a obtenção do cinzento-escuro e avermelhado. Trata-se da mais nobre essência dos bosques do arquipélago. 

- O óleo da baga de louro para além de ser usado na iluminação era excelente remédio para a cura das feridas do gado e, com a sua madeira, leve e resistente, faziam-se charruas e cangas para as juntas de bois.

- A urze era usada em tinturaria para a obtenção do verde e no fabrico das vassouras.

- A madeira do folhado era usada no fabrico de alfaias agrícolas e a do pau- branco era muito procurada para a construção de carros.

- A madeira de azevinho, sanguinho e gingeira-do-mato era muito utilizada em obras de marcenaria.

- O fruto da camarinha era utilizado no Pico e os da uveira-da-serra (romania) são muito agradáveis sobretudo em compota.

- A murta planta apreciada pela fragrância das suas flores era utilizada para fins medicinais e de perfumaria. Chegou a ser exportada da Inglaterra onde as suas folhas eram usadas no curtimento de peles.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

'Deficit de natureza' provoca problemas físicos e mentais em crianças, alerta especialista

Texto e imagem aqui

Saem as brincadeiras no quintal, entram os apartamentos. Saem as praças e parques, entram os prédios. Saem os jogos na rua, entram os tablets e videogames.

Basta um olhar rápido para perceber que nas grandes e médias cidades o contato das crianças com a natureza, em geral, vem diminuindo.

E para o americano Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, essa constatação nada tem a ver com um saudosismo barato. Mas, sim, com os impactos negativos causados pelo o que ele chama de Transtorno de Deficit de Natureza.

Em visita a São Paulo para o lançamento de seu livro, Louv contou à BBC Brasil que ele começou a se interessar pelo tema no início dos anos 90, quando fazia pesquisas para seu livro Childhood's Future ("O Futuro da Infância", em tradução livre).

"Entrevistei mais de 3 mil pais e professores. Queria saber deles sobre como o cenário da infância estava mudando. E uma constante nos depoimentos foram pais reclamando de que não conseguiam tirar seus filhos de casa. Mesmo se morassem perto de áreas verdes ", disse.

"Na época, não haviam estudos sobre a aflição desses pais. Somente há menos de 10 anos surgiram as primeiras pesquisas sobre isso - e todas apontam para a mesma direção: a falta de contato das crianças com a natureza causa problemas físicos, como a obesidade, e mentais, como depressão, hiperatividade e deficit de atenção."

Louv, no entanto, vai além do cenário triste que pinta para as crianças dos dias atuais: ele também aponta medidas simples que pais, educadores, médicos e o poder público podem adotar para evitar o "deficit de natureza" até mesmo em grandes metrópoles. Confira os principais trechos da conversa:

BBC Brasil - Ainda há esperança para as crianças que vivem em cidades como São Paulo ou outras do estilo "selva de pedra"?

Richard Louv - (Risos). Sim, é claro que há esperança! Vi experiências muito interessantes em cidades na China e também em Atlanta, Chicago e em outras metrópoles americanas que podem ser comparadas com as brasileiras.
São escolas e associações que estão usando hortinhas, caminhadas em bosques e outras soluções simples para combater uma série de novos problemas que atingem muitas das crianças de hoje, por estarem tão afastadas da natureza.

BBC Brasil - Quais exatamente são esses novos problemas? São físicos ou mentais?

Richard - Os dois. Na parte física temos, por exemplo, a obesidade infantil, que hoje é epidemia em vários países mundo afora, inclusive, até onde eu sei, no Brasil. (47% das crianças brasileiras têm excesso de peso ou são obesas).
As crianças hoje passam menos horas ao ar livre e, consequentemente, mais tempo confinadas em casa, vendo TV ou jogando videogame. Essa é uma das grandes causas da obesidade infantil. Meninos e meninas que ficam na frente de telinhas são menos ativos do que os que correm no parque, sobem em árvores...

BBC Brasil - E os transtornos psicológicos?

Richard - São muitos e são novos. Porque até a poucos anos atrás, era raro os pediatras atenderem crianças bem novas com sintomas de depressão. Também posso citar transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), além de problemas cognitivos.

BBC Brasil - Como a natureza pode amenizar esses problemas?

Richard - Hoje, há muitos estudos mostrando que o contato com a natureza - ainda que pequeno e por pouco tempo - pode reduzir os sintomas desses distúrbios.
Uma pesquisa de um grupo na Universidade de Chicago que estuda distúrbios de atenção entre crianças comprovou que meninos e meninas de 5 anos tiveram uma melhora significativa com caminhadas curtas em parques.
Pesquisadores da Universidade de Essex também mostraram impactos psicológicos mensuráveis em adultos depois de apenas cinco minutos andando entre árvores. Porque adultos, obviamente, também se beneficiam do contato com a natureza.

BBC Brasil - Você acha que conviver com a natureza é mais eficiente do que receitar remédios?

Richard - Veja, não estou dizendo que remédios como a Ritalina (usado para o tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, por exemplo) são ruins. Eles podem ser muito úteis para alguns casos.
Mas quando há escolas nos EUA em que 30% dos meninos tomam Ritalina, sabemos que algo não está certo. E os pediatras sabem disso. (O Brasil é o segundo maior consumidor do medicamento no mundo, com cerca de 2 milhões de caixas vendidas em 2010 - um aumento de 775% na última década, segundo a Anvisa.)

BBC Brasil - Sabem mesmo?

Richard - Acredito que muitos estão passando a se dar conta disso. E vejo cada vez mais profissionais começando a prescrever "brincar no parque". Prescrever mesmo, por escrito.
Em algumas partes dos EUA, por exemplo, associações de médicos começaram a usar dados com mapeamento das áreas verdes de suas cidades. Assim, dizem para os pais "tem um bosque a duas quadras da sua casa, portanto não há desculpas para não levar seu filho lá duas vezes por semana."

BBC Brasil - E o que exatamente acontece com essas crianças que são taxadas, corretamente ou não, de hiperativas quando elas passam mais tempo em áreas verdes?

Richard - Essa mudança costuma ser visível e rápida. Vou dar um bom exemplo. Recebo muitos comentários de professores que passaram a incluir mais passeios ao ar livre em suas turmas.
E, juro, perdi a conta de quantos professores me falaram exatamente a mesma coisa, com praticamente as mesmas palavras: "Richard, é impressionante. Meu aluno que é encrenqueiro na classe se transforma no líder quando estamos no parque". E o que estamos fazendo com essas crianças? Dando Ritalina.

BBC Brasil - Isso também mostra como o papel da escola é importante, não?

Richard - Com certeza. Eu diria inclusive que, em grandes cidades, as escolas devem liderar o caminho de resgate do convívio das crianças com a natureza, já que as áreas verdes são poucas e a vida dos pais é corrida.
E há estudos mostrando que uma educação baseada no meio ambiente melhora o aprendizado não somente em áreas ligadas à ciências da terra, por exemplo, mas também em idiomas, matemática, história.

BBC Brasil - Mas como isso acontece?

Richard - Há muitos exemplos. São alunos aprendendo a somar ou dividir na beira de lagos. São escolas que exploram as áreas verdes não só em suas dependências, mas também no bairro.
Há dados impressionantes mostrando como alunos de escolas baseadas no meio ambiente se saem melhor em testes tradicionais e também desenvolvem melhor a capacidade de ter um pensamento crítico, de solucionar problemas, de tomar decisões, entre outras características cognitivas.

BBC Brasil - E esses impactos positivos se dão sempre que a criança tem mais contato com a natureza, seja na escola ou não?

Richard - Exato. Pegue os exemplos dos parquinhos. Há dois tipos: os com brinquedos estruturados (escorregador, balanço, etc) e os chamados "playgrounds de aventuras", em que em vez dos pisos de cimentos, temos terra, areia, grama; e não tem brinquedos prontos, e sim tocos de madeiras, morros e afins.
Pesquisas mostraram que crianças brincando nesse playground natural tinham uma propensão muito maior de inventar seus próprios jogos, de convidar outras crianças para a brincadeira, inclusive crianças de outras idades e outros gêneros, e de brincar de uma maneira mais cooperativa.
É isso que a natureza proporciona para as crianças.

BBC Brasil - Você cita muita crianças pequenas. Para uma mais velha, com 10 ou 11 anos por exemplo, é tarde demais para reconquistar esse convívio com o ambiente natural?

Richard - De jeito nenhum. Nunca é tarde demais. É claro que o ideal seria começar isso desde de bebê até os 3 anos. Mas o nosso cérebro tem o que se chama de plasticidade. E graças a ela abrem-se janelas para mudar o caminhos neurológicos que usamos para aprender ou perceber coisas novas em qualquer idade.

BBC Brasil - A poucas quadras daqui, há uma área (na Rua Augusta, centro de São Paulo) que virou alvo de disputa e que pode tanto virar um grande empreendimento imobiliário como um parque municipal. Certamente há disputas assim em todas as grandes cidades do mundo. Como o sr. se posiciona diante dessas situações?

Richard - É preciso ter uma visão pragmática. Por isso eu diria que o prefeito precisa colocar na ponta do lápis. Quanto a cidade gasta com saúde pública, com problemas como síndromes respiratórias, sedentarismo e saúde mental? Uma área verde no meio da cidade pode ajudar nisso.
Outro ponto: já está mais que provado que quando há um parque natural em uma determinada área, todo o entorno é valorizado, elevando o valor de mercado das propriedades ao redor. Isso também precisa entrar na conta. Aliás, a gestão municipal pode fazer muita diferença.

BBC Brasil - Por quê?

Richard - Eu queria lançar um desafio para o prefeito de São Paulo, como eu fiz na China. A cidade tem metas de ser uma cidade rica em áreas verdes? Isso pode entrar no marketing da cidade, para atrair grandes empresas, por exemplo.
Quais as metas de São Paulo ou de outras cidades no Brasil para ter mais parques, áreas de caminhada, playgrounds naturais, trilhas?

BBC Brasil - O sr. acha que isso hoje não é encarado como prioridade?

Richard - Bem longe disso. Um parque é encarado como uma coisa a mais para se ter, algo extra, um mimo. Enquanto pensarmos assim, nada vai mudar.
Porque a verdade é que uma área verde não é algo legal para se ter, é algo do qual todos precisam. É parte da nossa humanidade ter contato com a natureza, é parte dos direitos humanos básicos, como muitos órgãos internacionais já reconheceram. Por isso não pode ser negado pelas autoridades.

BBC Brasil - Além das autoridades e das escolas, qual o papel dos pais nessa retomada de contato das crianças com a natureza?

Richard - Como em tudo, os pais precisam ser exemplos. Precisam também usufruir da natureza - mesmo porque isso é benéfico para todas as idades. Precisam proporcionar passeios ao ar livre para as crianças, mostrar a importância desse contato...

BBC Brasil - Mas será que os pais que vivem dias corridos nas cidades dão conta disso também?

Richard - É importante é deixar claro que não é preciso ir acampar toda a semana, fazer trilhas na mata todo dia. O convívio com a natureza se dá também em atos simples, compatíveis com o dia a dia corrido das famílias atuais.
É ter uma hortinha em casa ou até na varanda do apartamento, é aproveitar áreas ao ar livre como quadras esportivas, quando não houver um super parque perto de casa. E até mesmo ler Tom Sawyer ou outros livros que despertem o encantamento das crianças com a natureza.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Estudo revela que elefantes plantam árvores e têm grande papel na estrutura florestal

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Os elefantes desempenham um papel muito importante na dispersão das sementes de uma árvore das florestas da Tailândia, de acordo com um novo estudo publicado na revista científica PLOS ONE. O trabalho também sugere que a composição de uma floresta pode sofrer alterações, à medida que certas espécies de animais desaparecem.

Conhecidos coletivamente como megafauna, os animais de maior porte – e especialmente os herbívoros – são essenciais para a dispersão das sementes de muitas plantas terrestres, particularmente das que dão frutos de grandes dimensões. 

O novo estudo examinou o consumo de frutos, a dispersão e a germinação das sementes da árvore Platymitra macrocarpa, um membro da família das Anonáceas, à qual pertence a anona. 

Muitos mamíferos de grande porte comem o fruto desta árvore, incluindo os elefantes asiáticos (Elephas maximus), o cervo sambar (Rusa unicolor), os ursos e os gibões. Ao comer os seus frutos, a megafauna leva as sementes da árvore a novas áreas, juntamente com um pouco de adubo para auxiliar o seu desenvolvimento

Os investigadores descobriram que os animais de grande porte desempenham um papel fundamental na reprodução da Platymitra macrocarpa, já que 78% das sementes examinadas que produziram plântulas tinham sido, num dado momento, ingeridas por um destes animais. Contudo, a eficácia da dispersão realizada pelas diferentes espécies varia. 

Apesar de consumirem apenas 3% das frutas disponíveis, os elefantes foram responsáveis pela maior percentagem das sementes que produziram plântulas viáveis – 37%.

Em comparação, o cervo sambar consumiu 23% dos frutos e só respondeu por 17% das plântulas, o que se deveu, em parte, aos danos mais graves causados pelos escaravelhos às sementes que estes animais excretaram.

“Os dispersores da megafauna tinham estratégias de dispersão muito diferentes, sendo que os herbívoros de grande porte (cervos e ursos) não foram capazes de reproduzir o papel dos mega-herbívoros (elefantes)”, escreveram os autores do trabalho. 

Os cientistas repararam ainda que a árvore P. macrocarpa está atualmente em declínio na região, o que sugere um decréscimo recente das populações de um ou mais dispersores de sementes. Segundo eles, isto poderá estar ligado à dizimação dos rinocerontes e ao declínio das populações locais de elefantes

“Há relativamente pouco tempo, as florestas tropicais da Tailândia eram habitadas por dois mega-herbívoros – o rinoceronte (de Samatra e de Java) e o elefante”, escreveram os investigadores. “Não existe praticamente nenhuma informação sobre a capacidade de dispersão de sementes destes rinocerontes e as suas populações existem apenas como vestígios, tendo desaparecido de quase toda a sua antiga área de distribuição.”

“Se os grandes herbívoros menos vulneráveis, como os cervos, não são capazes de reproduzir a dispersão de sementes efetuada pelos mega-herbívoros ameaçados, como os elefantes, as frutas de grandes dimensões poderão sofrer retrações na sua distribuição, afetando a composição da comunidade florestal e, possivelmente, as reservas de carbono na floresta”, alertou Kim McConkey, autora do estudo e investigadora do Instituto Nacional de Estudos Avançados de Bangalore. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

10 dicas para reduzir o consumo de plástico quando viaja ou vai de férias

Lembre-se de não deixar nada além das suas pegadas! Texto e imagem aqui

Hoje em dia, já é difícil pensar na palavra “plástico” sem a associarmos ao impacto negativo que os resíduos deste material estão a ter no nosso planeta. Todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de lixo plástico acabam nos oceanos, ferindo e matando milhares de tartarugas, golfinhos, aves e outros animais e poluindo os ecossistemas.

Talvez já tente evitar os plásticos descartáveis em casa, mas, quando viaja, esta tarefa pode tornar-se mais difícil. Afinal de contas, o número de coisas que pode levar consigo é limitado, comer fora acaba por se tornar uma rotina e, se calhar, nem percebe a língua do país que vai visitar.

Contudo, com um pouco de preparação, também pode reduzir facilmente a quantidade de plástico que utiliza durante as suas férias. Para o ajudar nesta tarefa, o UniPlanet reuniu estas 10 dicas para si!

1 Leve consigo uma garrafa reutilizável
Pode enchê-la em cafés, restaurantes, hotéis, etc. Em alguns países em desenvolvimento, a água da torneira pode não ser potável, o que resulta na compra de muitas garrafas de água. Mas sabia que uma garrafa de plástico pode demorar 450 anos a decompor-se? Como alternativa, utilize um dispositivo como o SteriPEN, que mata os agentes patogénicos na água em apenas alguns minutos.

2 Em vez de pedir take-away, coma as refeições nos restaurantes locais
Esta é uma das formas mais fáceis de evitar o plástico de uso único durante a sua viagem, para além de o ajudar a desacelerar e a aproveitar o momento. Em países com uma forte cultura de “street food” (como no sudeste asiático), procure vendedores que sirvam a comida em recipientes reutilizáveis ou de papel. Evite os de plástico e esferovite.

Da mesma forma, em vez de pedir um café para levar, saboreie-o num café local para evitar o uso de copos take-away, que são feitos de papel revestido com plástico e muito difíceis de reciclar.

3 Leve os seus próprios artigos de cuidado pessoal
Em vez de usar os sabonetes e champôs embalados em plástico que as cadeias de hotéis oferecem, leve os seus próprios artigos de higiene. Muitos hotéis descartam as embalagens ainda meio cheias destes produtos, mal os clientes se vão embora. Tenha em atenção as normas relativas ao transporte de líquidos nos aviões. Pode optar por sabonetes e champôs sólidos.
Não se esqueça de levar a sua própria escova de dentes de bambu ou de outro material sustentável.

4 Leve um saco reutilizável
Provavelmente, já está acostumado a andar sempre com um saco reutilizável. Quando viaja, não se esqueça de levar um saco leve na carteira, para estar preparado quando precisar de o usar para as compras da mercearia ou da loja de lembranças.

5 Escolha um cone de bolacha para o seu gelado ou sorvete
É bem simples: na gelataria, opte por um cone de bolacha em vez de um copo de plástico com uma colher descartável.

6 Leve snacks para comer no avião
Em vez de comprar snacks embalados em plástico no avião, leve um recipiente reutilizável com frutos secos, frutas desidratadas, bolachas ou uma sanduíche envolta num guardanapo de tecido. Desta forma, poupará dinheiro e evitará a produção de mais resíduos plásticos.

7 Leve talheres reutilizáveis
Pode levar consigo na sua carteira ou mochila uma colher-garfo (“spork”) ou até um pequeno conjunto de talheres para evitar usar os de plástico que lhe poderão oferecer quando come fora.

8 Aprenda algumas frases chave
Se quiser, poderá aprender algumas frases nas línguas locais, como “sem palhinha, por favor” ou “não preciso de um saco”, para facilitar a sua luta contra o plástico.

9 Leve os seus auscultadores
Em vez de utilizar os auscultadores oferecidos pelas companhias aéreas, que vêm embalados em plástico e podem acabar no lixo depois de os ter usado, leve os seus próprios.

10 Recuse as palhinhas de plástico
As palhinhas (ou canudos) são um dos detritos mais frequentemente encontrados nas praias em todo o mundo e representam uma ameaça para a vida marinha. Recuse as palhinhas que lhe oferecerem, mas, se precisar de utilizar uma, leve uma versão reutilizável de inox, vidro, silicone ou bambu na sua carteira ou mochila.

domingo, 12 de agosto de 2018

Bélgica vai acabar com as quintas de produção de peles

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No dia 21 de julho, o governo da região belga da Flandres adotou um decreto que proíbe a criação de animais para produção de peles e a alimentação forçada de gansos e patos, conhecida como “gavage”, a técnica usada para produzir foie gras.

As 17 quintas de produção de peles de marta e o único produtor de foie gras localizados na região flamenga terão de fechar as portas até 2023, disse o ministro do Bem-Estar Animal, Ben Weyts.

“A criação de animais para produção de peles foi proibida recentemente na Valónia (2015) e em Bruxelas (2017), mas trataram-se de proibições simbólicas, dado que não existem quintas de produção de peles nas duas regiões. A Flandres ainda possui 17 quintas (...) Todos os anos, mais de 200 mil animais continuam a ser mortos nestas quintas”, declarou o ministro num comunicado. 

A alimentação forçada de animais já tinha sido proibida em Bruxelas no ano passado, mas continua a ser legal na Valónia, que possui o maior número de produtores de foie gras da Bélgica, explica o jornal belga Le Soir

Várias organizações de defesa dos direitos dos animais aplaudiram a decisão do governo. “É o resultado de uma luta de mais de 20 anos”, disse, num comunicado, a organização Gaia. “Com esta proibição, a Bélgica torna-se o 11º Estado-membro da UE a pôr fim à criação de animais para produção de peles.” 

A Gaia salienta ainda que, excetuando a França, Espanha, Bulgária, Hungria e Bélgica, “todos os Estados-membros da União Europeia proibiram formalmente a gavage ou interpretam as suas leis de proteção animal como não permitindo essa prática”. 

Há cada vez mais países a proibir a criação de animais para o aproveitamento das suas peles. A Noruega, outrora o maior produtor de peles de raposa, votou a favor da sua proibição em janeiro. Já na República Checa, as quintas de produção de peles terão de fechar as suas portas até ao dia 31 de janeiro de 2019.


sábado, 11 de agosto de 2018

Cidade inglesa substitui relva por flores silvestres nas bermas das estradas

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Em Kingston upon Hull, uma cidade no nordeste da Inglaterra, os separadores centrais e as bermas de muitas estradas, incluindo algumas das mais movimentadas, estão agora cobertos de milhares de flores silvestres.

Esta é uma iniciativa da Câmara Municipal de Hull, que decidiu apostar na promoção da biodiversidade e plantar flores silvestres em cerca de 16 mil metros quadrados de terra.

Os novos espaços silvestres contrastam com as áreas cobertas de relvado seco na cidade, uma consequência da falta de chuva e do calor que se tem feito sentir na região.

As flores coloridas atraem fotógrafos e polinizadores importantes, como as abelhas e as borboletas. Entre as espécies plantadas, contam-se centáureas, linho, papoilas, delfínios, entre outras.

Segundo a Câmara, estes espaços também se inserem nas medidas destinadas à redução do risco de inundação na cidade. Como requerem menos manutenção do que os relvados, ainda ajudam a poupar dinheiro.

“Estou muito satisfeito por ver as flores silvestres a colorirem algumas bermas em Hull e é fantástico ouvir dizer que as pessoas estão a adorar o que está a acontecer”, disse Alan Clark, ex-vereador que ajudou a iniciar este projeto.

Durante os próximos três anos, a cidade planeia criar mais espaços silvestres urbanos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Ferrel Capital da Luta Contra o Nuclear


18 AGOSTO | 10,00 H. | FERREL
Passados 40 anos do I Festival Pela Vida e Contra o Nuclear, a PATRIMONIUM - Centro de Estudos e Defesa do Património da Região de Peniche, a Junta de Freguesia de Ferrel e a Associação ProFerrel uniram-se para afirmar o Património histórico e as memórias associadas à luta do povo de Ferrel contra a instalação da primeira central nuclear em território nacional, como elemento identitário e diferenciador.

Neste Ano Europeu do Património Cultural 2018 o trabalho de investigação histórica e de dinamização cultural que tem sido desenvolvido pela PATRIMONIUM, com o apoio da Junta de Freguesia de Ferrel, já vai dando frutos.

O registo da marca Ferrel Capital da Luta Contra o Nuclear, pela Junta de Freguesia contou com a estreita colaboração da PATRIMONIUM, num reconhecimento do valor que o património cultural tem para o desenvolvimento local e para a valorização do território. Esta marca é também corolário de diversos acontecimentos que marcaram a História dos Movimentos Socias em Portugal e, também, a História do Movimento Ecologista Português. Trata-se de um justo reconhecimento ao Povo de Ferrel, pela sua união e mobilização face à ameaça do nuclear em Portugal.

Reconhecendo a importância deste património histórico e cultural de Ferrel, para a valorização do território e para autoestima das gentes desta vila, a PATRIMONIUM tem apostado no desenvolvimento de formas inovadoras de valorização e salvaguarda do Património local. Assim, acedeu ao convite da associação ProFerrel, e as duas associações organizaram uma caminhada ao longo do percurso da marcha de 15 de março de 1976 até ao local onde estavam já a iniciar os trabalhos de construção da central nuclear. A atividade intitulada CAMINHAR CONTRA O NUCLEAR tem início no Largo da Nossa Senhora da Guia, em Ferrel.

Para ter acesso à t-shirt com o novo logotipo da marca registada, uma peça de fruta e uma garrafa de água, os participantes pagam um contributo no valor de 5 euros. O valor angariado reverte para a investigação histórica de Ferrel contra o nuclear.

Pretende-se desenvolver atitudes de defesa do património cultural e natural, ao mesmo tempo que associamos esta temática à promoção de hábitos de vida saudável.

Fica demonstrado como, no âmbito de uma estratégia para o Património no século XXI, o Património histórico-cultural de Ferrel constitui um elemento diferenciador e um contributo relevante para o desenvolvimento local.

PATRIMONIUM - Centro de Estudos e Defesa do património da Região de Peniche

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A mudança climática é como o impacto de um asteróide




"Sim, temos que fechar todas as usinas a carvão", exige Hans Joachim Schellnhuber.

Há 25 anos, Hans Joachim Schellnhuber vem alertando para as consequências da mudança climática. Em entrevista SZ o pesquisador explica por que ele não é amargurado, apesar do grande desinteresse.

Diretor fundador do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático. Presidente do Conselho Consultivo Alemão sobre Mudança Global. Pai da fronteira de dois graus. Ah, sim, e a teoria dos elementos de inclinação (pontos de inflexão), tão central para a ciência do clima, também é dele. Hans Joachim Schellnhuber poderia, entretanto, andar como um monumento de si mesmo.

Em vez disso, está sentado em seu escritório em Potsdam, um homem ágil, combativo e muito pensativo, em um bávaro maravilhosamente suave (Schellnhuber vem perto de Passau) desenha um lúdico científico - e agora apenas surpreso com a estranha serenidade, com o sobre Os meios de comunicação sobre o relatório da mudança climática: "Nós caminhamos para uma situação global incontrolável a uma velocidade insana, os riscos aumentam quase a cada hora, mas muitos meios de comunicação relatam apenas com receio sobre isso." Um relatório do Banco Mundial saiu: 140 milhões de refugiados climáticos até 2050, e sozinho mesmo dentro dos países afetados, sem a migração transfronteiriça, é claro, há uma mensagem na ZS e no Guardian, mas é isso. "



Homem, a força natural

Nós sabemos sobre mudança climática e extinção de espécies. Mas quais são as consequências para a cultura, democracia e convivência em nosso planeta? Uma nova série destaca as consequências do Antropoceno. Por Jörg Häntzschel e Alex Rühle e mais ...

Você tem que engoli-lo se Schellnhuber disser com sobriedade: "Isso levou dezenas de milhares de anos em comparação com a maior extinção em massa da história da Terra, na fronteira Permiano-Triássica, quando o clima aqueceu em cinco graus." Hoje, a Terra esquenta cem vezes assim 90% de todas as espécies marinhas estão extintas naquela época, 70% das terrestres. A biosfera foi gradualmente se reorganizando. O que o homem faz hoje é mais como o impacto
de um asteroide na fronteira Cretáceo-Paleogeno. nesse ritmo, em um planeta superlotado e sobre-utilizado, é como uma tentativa coletiva de suicídio ".


"Todos nós temos fugido da nossa responsabilidade por muito tempo", diz Hans Joachim Schellnhuber, diretor fundador do Instituto de Pesquisa sobre Impacto Climático de Potsdam.

Obesidade, aluguéis, engarrafamentos - a pessoa ocidental tem muitas preocupações. O pesquisador do clima Hans Joachim Schellnhuber explica por que tudo isso pode se tornar irrelevante se não agirmos finalmente.

Entrevista por Alex Rühle

SZ: Sr. Schellnhuber, você fundou o Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático há 26 anos. Qual era o clima então - o real e também o metafórico - e como é hoje?

Hans Joachim Schellnhuber: No que diz respeito ao clima real: no início da década de 1990, houve o trabalho pioneiro do notável pesquisador do clima Klaus Hasselmann e seus colegas. Em seus dados climáticos, as impressões digitais ligeiramente borradas dos seres humanos se tornaram visíveis pela primeira vez. Desde então, o sinal físico do aquecimento global subiu poderosamente do ruído dos dados, e a causa dominante é o CO₂ da queima de combustíveis fósseis. Nós já estamos um grau Celsius acima da média pré-industrial, e isso aconteceu essencialmente nos últimos 25 anos. O homem está mudando o planeta como uma enorme força geológica, e o aquecimento da superfície da Terra está acontecendo mais rápido do que nunca na história de nossa civilização. Isso não é mais comparável à mudança histórica da Era Glacial para o Tempo Quente, para o Tempo Quente - estamos radiantes para uma estação quente.

E o clima metafórico?

Quando fundamos o instituto em 1992, o debate sobre as mudanças climáticas foi conduzido com prazeres quase frívolos. Assim como você olha para um thriller à noite, onde você sabe: tudo apenas sangue falso. Sentiu-se que um dia poderia surgir um problema, mas estava longe, muito longe. No entanto, quanto mais claro percebemos, a mudança climática é um problema existencial - que não desaparece novamente, que tem profundas implicações, e que só pode ser enfrentado com a descarbonização total da economia mundial nas próximas duas ou três décadas. - o mais irritante se tornou o debate da política e da sociedade. Diminuiu o desejo, cresceu o susto, mas não contra os riscos das mudanças climáticas, mas antes das medidas para limitá-lo. Afinal, a "grande transformação para a sustentabilidade" requer um esforço internacional historicamente único. A esmagadora maioria prefere mudar, por exemplo, para o debate indescritível sobre a migração.

Dos textos sobre a fundação do instituto, em 1992, um grande otimismo pode ser encontrado: Nós, cientistas, temos apenas que explicá-lo às pessoas melhor e precisar de
mais alguns números, então será com o resgate mundial. Até agora você já tentou de todas as maneiras, e você tem milhões de números, mas ainda está indo para baixo. Como você
explica isso?

O então otimismo tinha a ver com a queda do Muro de Berlim. Viu-se que as nações podem concordar com o bloco cruzado, que a razão e a humanidade têm uma chance. O cientista político Fukuyama acabara de proclamar o "fim da história", o que era um disparate, mas havia um sentimento tão básico: agora vamos pensar também no ambiente global para resolver os problemas residuais deste planeta. A outra razão para o otimismo: naquela época, teria sido simplesmente possível manter o aquecimento global bem abaixo de dois graus, conforme exigido pelo Acordo de Paris de 2015. Mas a ciência caiu numa armadilha.

Qual armadilha você quer dizer?

A economia argumentou: espere! Você ainda não sabe exatamente o suficiente. Você tem 90 por cento de certeza, nos dá 95. Quando entregamos 95 por cento, foi então chamado: 98.

Uma manobra de distração gigante, porque significava: Antes de não todas as evidências na mesa, você não precisa agir. Os lobistas deram assim à política uma desculpa para escapar da responsabilidade. O inverso é verdadeiro: se houver uma probabilidade de três por cento de comprometer nosso sustento, devo relatar imediatamente. E se eu tiver 90% de certeza, vou ter que ficar na rua e gritar bem alto. Nós, pesquisadores, nos trancamos nesta roda de hamster e, assim, perdemos um tempo precioso. A ideia de que, se nos comunicássemos com fluidez suficiente, a sociedade sairia do carvão e se livraria do motor de combustão interna, seria ingênua. Em vez disso, nós temos firmemente e sem adornos para dizer: as pessoas, se não mudarmos radicalmente claro, nós dirigimos a civilização na parede.
Até que ponto o modo como nos reportamos à média mudou em seus olhos nestes 26 anos? 
No início, os jornalistas estavam na fila para as entrevistas. Então a desagradável palavra de "alarmismo" foi cunhada. Ele vem de círculos americanos reacionários e foi avidamente atraído por partes interessadas na Alemanha: Hasselmann, Crutzen, Schellnhuber e outros defensores da ciência, estes são emblemas e freios divertidos. Quem colocou isso em perspetiva e menosprezou, foi prudente realista. Lembro-me de uma entrevista em 1995, quando jornalistas tentaram realmente incitar-me a retratar a crise climática de forma ainda mais dramática. Dez anos depois, a média se virou e nos retratou como apocalípticos ridículos.

  
E hoje?

Predomina uma serenidade estranha. Numa velocidade insana estamos caminhando para uma situação global incontrolável, os riscos aumentam quase a cada hora, mas muitos meios de comunicação só relatam sobre isso com casualidade atormentada. Um relatório do Banco Mundial acaba de sair: 140 milhões de refugiados do clima até 2050, e somente isso dentro dos países afetados, sem migração internacional. Claro, há uma mensagem na SZ e no Guardian, mas apenas é isso, nada mais.

Como você explica essa inércia?

Através da dissonância cognitiva. Se eu tiver um grande problema em que não sei como me controlar, vou reprimi-lo. Ou eu até intensifico minha má conduta. Historicamente, os sistemas intensificaram a falha fatal do momento em que eles caem em uma crise que os colocou na lama. Então, agora a economia mundial deve continuar crescendo, mesmo que a destrua.

"Diabo, todos devem realmente contribuir com algo"

Em seu livro "Autoimolação" Você escreve: "desespero - por isso realmente deve ler a minha conclusão se eu tivesse que resumir os insights sobre as mudanças climáticas e as perspetivas para a proteção do clima após os 25 anos." Você está desesperado?

É uma passada montanha-russa. Às vezes eu penso de manhã, melhor eu não teria me levantado. Ou leio um artigo mal-humorado: mais uma vez, um estudo que acumulou mais evidências, novamente uma entrevista sem sentido. Mas também há dias em que vejo tudo como uma grande oportunidade para reinventar a modernidade e, a propósito, também como um desafio científico fantástico.

Você uma vez disse: "Eu renunciaria se Merkel renunciasse de Paris." Ela não Mas também faz pouco para garantir que a Alemanha atinja seus próprios objetivos climáticos. Pelo contrário, o governo disse que, até 2020, não poderemos fazê-lo de qualquer maneira. Você era muito ingênuo sobre o poder da política?

Angela Merkel é notável. Por um longo tempo, faz negócios como de costume e procura equilibrar todos os interesses, tanto quanto possível. Mas existem duas grandes diferenças entre ela e alguns outros principais políticos. Por um lado, ela é verdadeiramente inteligente. Por outro lado, ela às vezes se atreve a dar o grande passo. Isso foi em 2011 na fase de eliminação nuclear. E 2015, na crise dos refugiados. A este respeito - espere um minuto. Sim, deveria haver uma Lei de Proteção Climática, uma comissão de mudança estrutural, cada uma para o setor de construção, mobilidade, agricultura. Também uma saída de carvão com data final é discutida. Pode ser que, então, o impasse seja totalmente institucionalizado. Mas também pode ser que este chanceler diga que esta é a nossa última chance de uma política climática sensata. Perdemos muito tempo, mas temos que sair da energia a carvão antes de 2030. O motor de combustão interna pertence ao depósito de lixo da história e assim por diante. Então deixamos nos surpreender.

Quando foi questionado, se há algum otimista entre os cientistas do clima, você respondeu em 2016: "A questão é: existem pesquisadores que apresentam bravamente seus resultados, não importa o quão ruins sejam?" Alguns são intimidados e, portanto, retendo seus números? Ou você acha que: os números são tão flagrantes, de qualquer maneira é uma imposição demasiada grande para as pessoas?

Após a cúpula do clima em Copenhague, houve uma verdadeira caça dirigida por climatologistas. Infamemente, isso foi nomeado após o escândalo de Watergate americano "clima-gate". Os opositores da pesquisa climática hackearam nossos e-mails e os publicaram de maneira enganosa. Fomos acusados de manipular dados em grande escala. Naquela época, recebemos cartas nojentas, incluindo ameaças de morte. E fomos tratados realmente humilhantes pela média. Embora mais tarde todas as alegações tenham sido refutadas por especialistas independentes em minuciosos trabalhos detalhados. Mas a impressão
permaneceu que os climatologistas não podem ser confiáveis. Foi vergonhoso como até mesmo a média de qualidade saltou em cima de nos. Mas pior é o outro tópico: será que nos
atrevemos a apresentar os dados com clareza? Quão difícil é manter a linha de dois graus? Embora esteja convencido de que ainda é possível - se agirmos agora muito rápido.

Repetidamente, fala-se dos chamados Tipping Points, pontos de inflexão, além dos quais o desenvolvimento não pode ser revertido. Qual deles é o mais rápido para se aproximar?

Estamos mais preocupados com os recifes de coral e os lençóis de gelo da Groenlândia e da Antártica Ocidental. Sabemos que a partir de um aumento de temperatura de 1,5 graus, as chances de sobrevivência dos recifes tropicais diminuem drasticamente. E na Groenlândia, o derretimento da camada de gelo pode se tornar irreversível em apenas 1,5 ou 1,6 graus, o que, é claro, acontece muito lentamente. Quando o gelo derrete lá completamente, o nível do mar sobe a longo prazo por uns loucos sete metros. Lagos, as Maldivas, um terço da área de Bangladesh - isso tudo acabaria. Isso afeta muitas centenas de milhões de pessoas. Quem iria subir para isso? Alguns pontos de inflexão podem ter sido excedidos. É ainda mais importante defender a fronteira de dois graus. Se desistirmos, pode ser que o Holococo, com suas temperaturas amenas, seja logo um passado distante e estamos nos transformando em um efeito estufa autorreforçado com seis ou oito graus de aquecimento.

Vamos fazer plástico: na fronteira entre o Perm e o Triássico, o clima aqueceu em cinco graus. Quão rápido isso foi? Que tipo de consequências isso teve? E esta época geológica é comparável à situação atual?

Isso levou dezenas de milhares de anos. Hoje a terra aquece cem vezes mais rápido. 90 por cento de todas as espécies marinhas foram extintas naquela época, 70 por cento das terrestres. A biosfera gradualmente se reorganizou completamente. O que o homem faz hoje é mais como o impacto do asteroide na fronteira Cretáceo-Paleogéneo. Que tal coisa aconteça agora, nesse ritmo, em um planeta superlotado e sobre utilizado, é como uma tentativa coletiva de suicídio.

Você está esperando por um movimento de cidadania mundial. Como isso poderia parecer? Onde eles já estão?

O movimento de desinvestimento, que exige a retirada de dinheiro de ativos prejudiciais ao meio ambiente, é um bom começo. E eu sempre achei que não era político levar o indivíduo em consideração. Mas todo mundo deveria contribuir com alguma coisa. Todos nós temos fugido da nossa responsabilidade por muito tempo. Sim, temos que fechar todas as usinas a carvão, sim, a Alemanha precisa de 100% de energia renovável, mas você e eu podemos decidir durante a noite para não de comer carne e não fazer voos de longa distância.

Como a historiografia, uma vez, olhará para nós?

Colegas cínicos dizem que não haverá mais historiografia. Eu não acredito nisso. Mas acho que, se não o fizermos, vamos ser vistos para trás com grande desprezo. Quando a peste atingiu a Europa em 1347, ninguém sabia de onde vinha o desastre e não havia cura. As pessoas estavam completamente perdidas e desesperadas. Hoje, entretanto, sabemos exatamente o que está acontecendo. No entanto, mostrar nenhuma reação, é vergonhosa. E muito estúpido. Pode-se comparar a situação com um navio espancado até o fracasso em alto mar. Claro, também há problemas próximos a este acidente: a comida na terceira classe é miserável, os marinheiros
são explorados, a banda toca sucessos alemães, mas quando o navio afunda, tudo isso é irrelevante. Se não conseguirmos lidar com a mudança climática, se não conseguirmos manter o navio sobre a água, não precisamos pensar em distribuição de renda, racismo e bom gosto.



Nota: traduzi a entrevista, publicada no jornal alemão Südeutsche Zeitung, Bernd Markowsky