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terça-feira, 10 de julho de 2018

As florestas tropicais perderam 40 campos de futebol de árvores por minuto em 2017

Além de causas naturais como os furacões ou os incêndios, os autores de um novo estudo mundial atribuem a perda de área florestal a práticas como a agricultura, a exploração mineira, a extracção ilegal de madeira ou as plantações de óleo de palma.

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O ano de 2017 foi o segundo pior ano de que há registo (imediatamente atrás de 2016) no que à redução de florestas tropicais diz respeito, com 15,8 milhões de hectares de árvores devastados, segundo novos dados obtidos por satélite da Universidade de Maryland revelados nesta quarta-feira.

No total, as florestas tropicais de todo o mundo sofreram uma perda de cobertura vegetal de 15,8 milhões de hectares – que praticamente corresponde à área geográfica do Bangladesh –, divulgou em comunicado o World Resources Institute, de acordo com dados do Global Forest Watch, uma ferramenta de monitorização das áreas florestais em tempo real. Posto de outra forma: o equivalente a perder cerca de 40 campos de futebol (0,73 hectares por campo) de árvores a cada minuto, durante um ano.

Apesar de esforços no sentido da reflorestação e dos alertas dos ambientalistas, as perdas superam os ganhos e o abate de árvores nos principais países tropicais tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos 17 anos (o estudo analisou dados entre 2001 e 2017). As causas são, por um lado, desastres naturais como incêndios e tempestades tropicais – cuja frequência e severidade estão directamente relacionadas com as alterações climáticas, e por outro, as actividades humanas que continuam a causar um desflorestamento em larga escala.

A Colômbia foi um dos países mais afectados, com mais 46% de área florestal devastada face ao ano anterior, registada maioritariamente em três províncias do país: Meta, Guaviare e Caquetá (parte da região amazónica colombiana). E se o acordo estabelecido em 2016 entre o Governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) trouxe paz ao país, trouxe também aspectos negativos. De acordo com os investigadores, a ex-guerrilha mantinha um controlo rígido daquelas áreas e impunha limites à exploração dos recursos para fins comerciais, pelo que a desmobilização das FARC permitiu o acesso a zonas anteriormente remotas e conduziu à apropriação e limpeza ilegal dos terrenos por outros grupos armados, que agora são utilizados para outros fins como a plantação de cocaína, a extracção de madeira e mineral e a criação de gado. Face a um pedido de reforço das medidas de combate à desflorestação na Amazónia pelo Supremo Tribunal Federal (a mais alta instância do poder judiciário brasileiro), o Governo colombiano mostrou-se empenhado: anulou o projecto de uma auto-estrada que ligava a Venezuela e o Equador; expandiu a área do Chiribiquete National Park (parque natural em Guaviare) em mais de um milhão de hectares; e lançou uma iniciativa chamada "Green Belt" para proteger e reflorestar uma área de 9,2 milhões de hectares.

O Brasil registou a maior perda de área florestal em 2016 mas foi no ano seguinte que a Amazónia sofreu o maior número de incêndios desde 1999, que levaram a uma redução de 31% das florestas e contribuíram para o aumento das emissões de dióxido de carbono. Um ciclo vicioso, uma vez que a falta de árvores aliada às alterações climáticas e à acção humana aumentam a prevalência de períodos de seca que, por sua vez, tornam os terrenos mais vulneráveis aos fogos. A falta de fiscalização e a instabilidade política e económica que assolou o Brasil nos últimos tempos, assim como a desvalorização por parte do actual Governo em relação às políticas de conservação ambiental poderão estar na base deste problema, dizem os investigadores.

Indonésia, um caso de sucesso 

A Indonésia, por outro lado, tornou-se o exemplo a seguir. Viu a sua perda de floresta diminuir em 2017, com um declínio de 60% no que diz respeito às florestas primárias (as florestas antigas que mantém o seu estado natural sem sinais de exploração), com algumas províncias de Samatra como excepção à regra. Os cientistas atribuem estes resultados a uma moratória nacional, em vigor desde 2016, sobre a drenagem das turfeiras (zonas de solos orgânicos com elevada concentração de humidade e dióxido de carbono) levadas a cabo pelos agricultores nas últimas décadas por causa das plantações de óleo de palma. Nestas zonas, a perda de florestas primárias diminuiu 88% entre 2016 e 2017, atingindo o nível mais baixo de sempre. Além disso, em 2017 não houve sinais do El Niño (fenómeno cíclico de aquecimento das águas do oceano Pacífico), o que proporcionou condições mais húmidas e menos incêndios. 

Na República Democrática do Congo, a perda de cobertura vegetal aumentou 6% desde 2016, devido essencialmente à agricultura, extracção ilegal de madeira para fins artesanais e a produção de carvão. A intensificação das práticas agrícolas faz com que os períodos de pousio sejam cada vez menores, o que dificulta a regeneração natural da vegetação. Já nas Caraíbas, os furacões que assolaram a região em 2017 (Irma e Maria), causando a morte a várias pessoas e inúmeros danos materiais, também tiveram impacto negativo nas florestas daquela região, com a Ilha Dominica (conhecida como "a ilha da Natureza") a registar uma diminuição de 32% na sua área florestal. Porto Rico viu a sua área verde reduzida em 10% com perdas significativas na Floresta Nacional de El Yunque.

"A principal razão pela qual as florestas tropicais estão a desaparecer não é um mistério: vastas áreas continuam a ser desflorestadas para soja, carne bovina, óleo de palma, madeira e outros produtos comercializados globalmente", disse Frances Seymour, porta-voz do World Resources Institute citada pelo diário britânico Guardian. "Grande parte dessa limpeza é ilegal e está ligada à corrupção", acrescentou. Apenas 2% do financiamento internacional para o combate às alterações climáticas é direccionado para a preservação das florestas. "Estamos a tentar apagar um incêndio em casa com uma colher de chá", disse Seymour. Perante os resultados, os investigadores alertaram para o facto de a biodiversidade estar também em risco. As florestas tropicais são ainda fundamentais na regulação do clima e para a qualidade da água e do ar, sendo que o abate de árvores leva à libertação de dióxido de carbono de volta para a atmosfera. De acordo com estimativas do diário New York Times, a desflorestação é responsável por mais de 10% das emissões de dióxido de carbono todos os anos. O mesmo jornal avança que, nesta semana, ministros de várias nações reúnem-se em Oslo para debater formas de intensificar os esforços de conservação das florestas tropicais em todo o mundo.
Texto editado por Maria Paula Barreiros

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