Documentário - O que está errado com o Mundo? por John Perkins
Confesso que há muito tempo um livro não me perturbava tanto. Acho que o último que me deixou desorientado desta forma foi o “Sem Vestígios”, que tratava das confissões de um torturador do aparato de repressão brasileiro. Falo de “Confissões de um Assassino Económico”, de John Perkins.
A história do livro é a seguinte: um economista é recrutado para servir como “Assassino Económico” – ou simplesmente “AE” – durante a década de 70. Depois se torna presidente de uma empresa de energia alternativa até que se arrepende e resolve contar a sua história.
E o que seria um “AE” ? São técnicos – basicamente economistas – que têm a missão de gerar números fictícios a fim de respaldar enormes empréstimos de órgãos como Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), empréstimos impagáveis, e assim estabelecer uma relação praticamente colonial entre o país e os EUA.
Tais empréstimos eram utilizados em grandes obras de infra-estrutura, tocadas por empresas americanas necessariamente, que beneficiavam elites corruptas destes países. O preço a ser pago era a incapacidade de pagamento destes empréstimos e a consequente dependência total, com subserviência e facilidades de exploração de recursos naturais pelas empresas americanas.
O livro também relata que, quando os AEs, ou seja, a dominação económica, falhava, eram enviados os chacais, que removiam do poder via assassinato os presidentes que se opunham aos EUA . Cita explicitamente o caso dos Presidentes Omar Torrijos, do Panamá – que renegociou o Tratado do canal de mesmo nome – e Jaime Roldós, do Equador, que tentou expulsar as petrolíferas americanas de seu país.
Se nada desse certo, invasão pura e simples pelo Exército – i.e., Panamá e Iraque.
O esquema dos AEs é tão engenhoso que estes eram pagos por grandes empresas de consultoria, para que não aparecesse vínculo direto com o governo norte-americano ou suas agências de inteligência.
John Perkins trabalhou como um AE de 1971 a 1980. Esteve na Indonésia, Panamá, Equador, Irão, Arábia Saudita, Colômbia, entre outros. Saiu em 1980, fundou uma empresa de energia alternativa – onde teve o silêncio comprado através de diversas formas, vendeu a empresa, se tornou especialista em cultura indígena; até que o 11 de Setembro o fez finalmente escrever o livro.
Nos capítulos finais, analisa a questão da Venezuela – e a sorte de Chavez – e a do Iraque. Também disseca a sede dos EUA por petróleo e a miséria que no fim, toda esta dominação e o consumismo desenfreado causam.
Cunha o termo “corporatocracia”, para determinar as relações entre o governo e as grandes empresas, com pessoas indo de um lado para outro – no livro que li sobre a Monsanto este fenómeno é chamado de “portas giratórias”. Também determina a forma de imperialismo imposta ao restante do mundo.
O livro me deixou muito perturbado. Primeiro por mostrar quão sórdidas podem ser as pessoas quando buscam as suas realizações pessoais – mesmo que seu trabalho gere fome, destruição ecológica e de populações inteiras. Segundo, e isso já era tocado de leve no excelente livro do economista Joseph Stieglitz sobre globalização, por explicitar os métodos de dominação que representam instituições como Banco Mundial, BID e FMI. Terceiro por mostrar a influência que hábitos nossos do dia a dia exercem sobre populações inteiras. Quarto, pela influência do petróleo na história toda.
Indispensável.
Confesso que irei pensar duas vezes, a partir de agora, antes de por exemplo comprar um tênis Nike ou abrir uma Coca Cola – se bem que quase não bebo refrigerante. Pelo menos estou trocando meu carro por um mais económico.
Quando pensei este blog, a ideia era de lidar com alguns “fantasmas” que estavam em minha mente, bem como formatar opiniões e literatura e refletir um pouco sobre a correria atomata do dia a dia.
Vejo, felizmente, que além disso ele pode – e deve – engajar-se em causas justas. E este livro nos leva a pensar sobre um monte de coisa.
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