Em 1886 o País explodia de rádios clandestinas que invadiram o espaço nacional com todo o género de temas e conteúdos. No grupo de tertúlias que habitualmente frequentava, uns no café Ceuta (onde falava mais de teatro, cinema), outros no Aviz (onde falávamos e trocávamos discos e músicas), no Estrela de Ouro (onde encontrava os activistas ambientais, na altura em crescimento) e finalmente convivia com um grupo mais "anarquista" que se reunia pomposamente no Majestic. Nesse grupo muito politizado, discutia-se muito de política, declamávamos poemas escritos uns dos outros - um dos membros era dono da livraria ETc- e vários assuntos relativos a artistas e pintores e pintoras vanguardistas). Desse grupo cresceu a ideia e concretizou-se que foi a da criação de uma estação de rádio ímpar, "louca" e absurda. Nasceu assim a Rádio Caos.
O meu programa chamava-se "Terra-Mãe" e nem será preciso estar aqui com muitas explanações quais seriam os objectivos principais. O título é por demais sugestivo: notícias, eventos, reflexões e entrevistas, tudo à volta da promoção da Conservação da Natureza e a prática de soluções mais amigas do Ambiente.
O primeiro dia e das cerca de 30 sessões que fiz, ainda me recordo da primeira vez. Correu muito bem. O fundo musical escolhida era excertos do álbum "Ambient 1: Music for Airports" de Brian Eno. A cada fala ou pergunta e resposta ou durante uma entrevista, interrompia o programa com uma música. A primeira música que toquei no Terra Mãe foi "Avatar" dos Dead Can Dance.
A escolha não foi nada inocente e já era ecoprovocadora. Avatar vem do sânscrito Avatāra, que significa "Descida de Deus", ou simplesmente "Encarnação". No fundo qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra. Eu adoro a Ecologia Profunda e a Ecologia do Ser.
E foi uma aventura espectacular que guardo como muito bons momentos da minha vida.
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