Especialistas apontam acções para evitar falta de água
Se em cada dia for plantado meio hectare de árvores – o que equivale a meio campo de futebol –, por cem mil agricultores, em um ano teríamos uma bela floresta, com 50 mil hectares. Uma ação diária que pode evitar a falta de água nos próximos 10 anos.
O reflorestamento é uma das ações – de curto a longo prazo –, apontadas por especialistas, que precisam ser postas em prática para que o Estado do Espírito Santo consiga reverter a situação de déficit hídrico que já levou várias cidades ao racionamento, inclusive Vitória.
Um dos passos mais importantes, ressalta Renato Moraes de Jesus, engenheiro florestal e doutor em Ecologia, é começar a plantar árvores: “E logo. Se fizermos isto, em dez anos teríamos 500 mil hectares de floresta. Um bom começo”.
Um córrego deu lugar ao Rio Santa Maria da Vitória, no distrito de Recreio. O manancial está sendo castigado pela escassez de água no interior do Estado. Fonte: Gazeta Online
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Com cerca de dois anos as mudas vão ter de 2 a 3 metros e vão ajudar a acabar com a impermeabilização do solo. “A gota de chuva não cairá direto no solo, mas vai na folha, no tronco e chega ao solo numa velocidade menor, o que ajuda na infiltração. Não escorre, lavando o solo”, relata.
A prioridade seria para as matas ciliares - ao longo das margens dos rios e nascentes – e os topos de morro, que são as áreas de recarga. “Chove no Estado cerca de 1.200 milímetros por ano e 60% desta chuva seria absorvida pelo solo, se tivesse floresta”, pondera o engenheiro.
Desmatamento
É assim, que se começa a mudar as características do solo, relata. “O Espírito Santo já chegou a ter 90% de sua área coberta por florestas. Desmataram tudo e estamos vendo o resultado”, assinala o engenheiro, lembrando que em 2013 toda a água da enchente que assolou o Estado foi perdida.
Na avaliação dele os agricultores seriam os responsáveis pelo plantio. “Não chega a um dia de trabalho”, pontua Renato. Mas caberia ao governo o custo das mudas, dos insumos e da tecnologia. Mas a cidade também teria que pagar o preço. “Consomem o que não produzem e há um custo”, destaca.
Acções
Mas até que as florestas consigam mudar o atual cenário de escassez, é preciso aprender a conviver com pouca água. “A tarefa é aprender o uso racional. E pôr em prática algumas medidas importantes”, destaca Élio de Castro, presidente do Fórum Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas. (Veja as ações aqui)
Há mudanças que começam no campo, com o uso de equipamentos mais eficientes para a irrigação, que economizem água. “Somos o segundo Estado que mais irriga no Brasil. E ainda estamos muito atrasados na tecnologia. Temos que utilizar, por exemplo, espécies (plantas) que sejam produtivas, mas que consumam menos água”, pondera.
Outras ações passam pela cidade, com o reaproveitamento da água da chuva, hoje toda ela descartada. E também nas indústrias, que precisam lançar mão do reúso de água. “É inconcebível a construção civil lançar mão de água tratada para fazer seus prédios”, destaca Castro. Ações que dependem de mudanças na legislação.
Outro ponto importante é a gestão plena dos comitês de bacias hidrográficas, os responsáveis por cuidar dos mananciais. E isto inclui a cobrança pelo uso da água, recursos que vão ajudar na recuperação dos rios. “A política nacional de recursos hídricos é de 1997. A estadual é de 1998. E nada foi feito até agora. Isto tem que mudar”, assinala Castro.
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