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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Prece ao estrume de Tim Guénard, retirado da sua obra "Mais forte que o ódio" (2000)


Para que belas flores crescam num jardim,
é necessário estrume. É o nosso passado.
Deus serve-se dele para nos fazer crescer.
Quando o cavalo expele os seus excrementos,
são demasiados quentes, demasiados ácidos,
demasiados pesados.Cheiram mal, metem nojo.
Se os espalharmos sobre as flores,
sobre as sementes, queimam-nas e destroem-nas.
O estrume deve deixar-se repousar, secar, decompor lentamente.
Com o tempo, torna-se maleável, inodoro, leve, fecundo.
Então dará as mais belas flores e os mais belos rebentos.
Deus serve-se do nosso passado, como estrume, para as nossas vidas.
Para nos fazer crescer.
Mas se metermos a nossa cabeça no passado ainda quente, ele asfixia-nos.
É necessário deixá-lo repousar.
Em nós, o que é mau, decompõe-se invisivelmente
sob a ação do tempo e do Perdão.
É preciso amar aquilo de que tínhamos vergonha
E que nos parecia ignóbil.
Este estrume tornar-se-á fonte de fecundidade.
O nosso passado, o nosso sofrimento, as nossas galeras, os nossos gritos,
são un cântico na língua dos pobres.
Não podemos ser hoje sem termos sido ontem.
Sejas tu quem fores, com as tuas feridas e o teu passado doloroso,
não te esqueças:
Na memória magoada espera-te uma eternidade de amor.
Tim GUÉNARD

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