Não é só a Monsanto que patenteia componentes da natureza, como as sementes, orientando os agricultores a comprar apenas as sementes certificadas, mas agora também a Nestlé está patenteando componentes do ser humano, como o leite materno e outros elementos do corpo.
A Organização Netzfrauen salientou que o fato de que os produtos naturais, sejam humanos ou vegetais, como as sementes de plantas, estejam sendo patenteados e tornem-se propriedade das grandes corporações é uma grande mudança de gestão, o que concede a elas seu poder e domínio.
Netzfrauen criticou o fato de que a Food and Drug Administration (FDA) define as células humanas como uma droga, a fim de que possam competir com produtos registrados.
“As pessoas têm suas células-tronco, seus tecidos e fluidos. Uma empresa que concede patentes que se relacionam com o leite materno é uma loucura “, destacou em seu relatório.
O ser humano tem esses produtos próprios para defender o organismo contra vírus, bactérias e outras doenças.
O leite materno contém proteínas, lactose, carboidratos, triglicerídeos e gordura. Contém ácido oleico, que remove as células tumorais de gordura, bem como as gorduras insaturadas, destacou a organização.
Com a amamentação, que nos tempos modernos foi reduzida a seis meses e que no passado chegava a dois anos, os bebês se mantêm saudáveis até formar seu próprio sistema imunológico e defesas que perdurarão por toda a vida.
Pediatras do mundo todo promovem o aleitamento materno como sendo vital para a saúde humana.
“O material genético contido no leite materno não pode ser patenteado para fins comerciais”, diz Netzfrauen, observando que nem mesmo pode ser combinado”, como um fator adicional para suas patentes existentes.”
“Converter um produto humano como algo sob posse de uma patente é grotesco e nunca deve ser permitido. Os cientistas mal podem esperar para dizer que eles são donos da terra, do ar, da água e de tudo o que está ao seu alcance, então “descobriram” que o leite materno já não pertence à vida, mas é propriedade das empresas”, acrescentou a organização.
No mês de julho, a organização informou que há 2.000 patentes de componentes do leite, e detalhou o caso da Nestlé, contra a qual existe uma petição: “Nestlé, pare com as patentes de componentes do leite humano”, promovida pela nutricionista Valerie McLain, do Canadá, e a organização IBFAN (Rede International Baby Food Action).
A Netzfrauen também cita, com preocupação, que a empresa Prolacta Biosciences, da qual um dos diretores é Ernie Strapazon, da Nestlé, planeja coletar leite materno de hospitais e comprá-lo em parceria com outras empresas para comercializá-lo como uma droga no mercado, para os mesmos hospitais, disse a organização, de acordo com uma reportagem da BBC.
“A empresa também planeja realizar uma análise detalhada do leite materno.
De acordo com estimativas preliminares, o leite materno contém cerca de 100 mil componentes diferentes. Até agora, os pesquisadores sabem de apenas alguns poucos deles “, acrescenta Netzfrauen. Em seu site, a Prolacta promove doações de leite materno “para arrecadar fundos para caridade e ajudar doentes e bebês prematuros.”
A Prolacta destaca, por sua vez, que o Sr. Strapazon “liderou um esforço pioneiro para estabelecer o negócio de nutrição infantil da Nestlé dos EUA”. Foi Presidente da Divisão de Nutrição Nestlé, e estava incumbido da “gestão de marca, planejamento estratégico global, inovação / renovação e administração geral.”
Venda de produtos paralelos
Paralelamente ao questionamento ético da certificação de produtos próprios do corpo humano, nas redes sociais e na Internet surgem negócios ilegais onde estes componentes são mencionados.
Em fóruns femininos difundidos na Internet, encontram-se publicidade de produtos descritos como patenteados e aprovados por algum Ministério da Saúde e que, supostamente, incluem componentes do leite materno “patenteado”.
Estes produtos vendidos em redes de comércio marginal são normalmente oferecidos para prevenir doenças como a depressão, a doença de Alzheimer, dor de cabeça e outros estados não normais, que podem ser evitados com uma dieta saudável, a partir de leite materno.