Até hoje, o antigo mapa de Alfred Russell Wallace, datado de 1876, tem sido a espinha dorsal da nossa compreensão da biodiversidade global. Graças aos avanços da tecnologia moderna e de dados sobre mais de 20.000 espécies, um grupo de cientistas produziu um novo mapa que representa a organização da vida na Terra. Publicado online na Science Express, no dia 12 de Dezembro de 2012, o novo mapa fornece informações fundamentais sobre a diversidade da vida em nosso planeta e é de grande importância para as futuras pesquisas em biodiversidade.
Uma questão essencial para a compreensão da vida na Terra é porquê as espécies estão distribuídas da maneira que estão à volta do planeta. Este novo mapa global divide a natureza em 11 grandes domínios biogeográficos e mostra como essas áreas se relacionam entre si. É o primeiro estudo a combinar informações evolutivas e geográficas de todos os mamíferos conhecidos, aves e anfíbios, num total de mais de 20.000 espécies. O estudo foi publicado no passado dia 12 de Dezembro, na Science, com base no trabalho liderado pelo Center for Macroecology, Evolution and Climate, da Universidade de Copenhague. O trabalho foi desenvolvido a partir de 20 anos de compilação de dados e envolveu 15 pesquisadores internacionais, entre os quais o português Miguel Bastos Araújo, titular da Cátedra “Rui Nabeiro – Delta Cafés” Biodiversidade da Universidade de Évora.
A primeira tentativa de descrever o mundo natural num contexto evolutivo foi feita em 1876, por Alfred Russel Wallace, co-descobridor da teoria da selecção natural, junto com Charles Darwin. "Nosso estudo é uma actualização de um dos mapas mais fundamentais para as ciências naturais. Pela primeira vez desde a tentativa de Wallace, estamos finalmente em condições de fornecer uma descrição ampla do mundo natural com base em informações incrivelmente detalhadas para milhares de espécies de vertebrados ", diz o Dr. Ben Holt, do Center for Macroecology, Evolution and Climate e um dos co-autores do estudo.
"Embora o nosso novo mapa de regiões zoogeográficas do mundo tenha diferenças importantes em relação ao trabalho original de Wallace, o que mais me impressiona são as semelhanças entre o nosso mapa e a primeira tentativa de Wallace para entender os padrões gerais de distribuição da vida na Terra", diz Miguel B. Araújo, titular da Cátedra “Rui Nabeiro – Delta Cafés” Biodiversidade da Universidade de Évora, também co-autor do estudo. "Os mapas de Wallace foram baseados no conhecimento adquirido em viagens de campo por todo o mundo, discussões com colegas e materiais compilados a partir de colecções de museus de história natural. Hoje temos mapas digitais com a distribuição da maioria dos vertebrados terrestres, bem como hipóteses evolutivas sobre como diferentes organismos se relacionam uns com os outros. Que as nossas conclusões sejam tão próximas às de Wallace confirma quão extraordinário foi o trabalho dele", conclui Miguel B. Araújo.
O novo mapa pode ser dividido em detalhes geográficos para cada classe de animais e está disponível livremente, de forma a contribuir com uma ampla gama de ciências biológicas, bem como com o planeamento da conservação e gestão da biodiversidade.
Centenas de milhares de registos
A tecnologia moderna, como sequenciamento de DNA, e uma enorme compilação de centenas de milhares de registos de distribuição de mamíferos, aves e anfíbios em todo o mundo, tornou possível produzir o mapa. "O mapa fornece informações de base importantes para as pesquisas futuras em ecologia e evolução. Ele também tem um significado importante na conservação, diante da crise da biodiversidade e mudanças ambientais globais em curso. “Considerando que a base para o planeamento da conservação tem sido a identificação de áreas prioritárias, baseadas na singularidade de espécies encontradas em um determinado lugar, podemos agora começar a definir as prioridades de conservação com base em milhões de anos de história evolutiva ", explicou o Dr. Jean-Philippe Lessard, co-autor do estudo, da Universidade de Copenhagen e actualmente colaborando na McGill University, Canada.
O autor Carsten Rahbek, director do Center for Macroecology, Evolution and Climate acrescenta:
"Apesar dos incríveis avanços da ciência natural, ainda estamos lutando para entender as leis básicas que regem a vida no planeta. Esta descrição holística do mundo natural que nós fornecemos pode ser uma nova pedra angular da biologia fundamental. "
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