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«Glória aos fotógrafos, a essa objectiva humilde que vai visitar as árvores na mata, no jardim público ou à beira da estrada, e delas recolhe a imagem menos imperfeita, porque menos individualista - árvore em estado de árvore. Não me achando em condições de possuir um sítio, nem mesmo uma araucária particular, incompatível com as dimensões do metro quadrado em que resido, eu (e aqui sou João, Leovigildo, Heitor, homem urbano em geral) consolo-me contemplando algumas fotografias de olmos, faias, eucaliptos, jequitibás, espécies resinosas e essências. Amo vê-las em grupo ou isoladas, oferecendo à pressão do vento a massa compacta de folhagem; reflectindo, interceptando ou matizando os raios solares que tentam penetrá-las; lavando-se à beira da corrente, em sincera solidão; ou ainda contrastando com os frágeis monumentos de pedra, tijolo e cimento, que chamamos de casas, e que é tão raro não "sobrarem" na natureza; e até mesmo esparsas entre esses outros monumentos, os mais frágeis de todos, de nervos e vasos sanguíneos, que chamamos homens, e tampouco sabem integrar-se no conjunto natural onde folhas, raízes, insetos e ventos se organizam sem política.»
Carlos Drummond de Andrade, Passeios na Ilha (1952)
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