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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fragmento do Homem

Este ano, a partir do dia 22 de Agosto e até ao dia 31 de Dezembro, a humanidade estará a consumir recursos que o Planeta não conseguirá recuperar ou repor durante o ano de 2013.No ano de 2011, o Overshoot Day foi no dia 27 de Setembro... August 22 is Earth Overshoot Day. A atender às "tendências", será provável que em 2014 esse dia se situe em Julho, em 2015 será em Junho... Em 2016 em Maio, 2017 Abril, 2018 Fevereiro e antes do final do ano 2020, a humanidade já terá gasto todos os recursos renováveis do ano 2021... 
Assistimos a duas dicotomias convergentes- mais maldade e mistificação do que é o genuíno desenvolvimento sustentável: por um lado são imenos os entraves legais: é na criação de zonas livres de OGM, é na recuperação de edifícios, é no arrendamento a jovens em centros urbanos, é na mobilidade urbana e adaptada e construção de ciclovias, é no orçamento participativo, é nas cidades sustentáveis..e pior de tudo, criamos cada vez mais excluídos/iniquidade e a privataria está a humilhar os excluídos! Por outro lado é o crime cibernético: apesar de múltiplas gotículas de Esperança e Eco-soluções, contudo falta a vaga comum. Vamos furando a muralha de Jericó (desculpem a homologia bíblica) mas agora estamos cada vez mais a entrar na guerra e no casino da deep web e aí há uma rede de piratas (criminosos) que estão a destruir a nossa superfície económica e de direitos humanos conquistados com tanto suor e dor, após a II Guerra Mundial.




Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.
E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em «cadáver adiado que procria», como poderia a arte deixar de reflectir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida? 
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição, morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem! Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral, que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto reduzir o homem a um fragmento do homem. Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão. 

Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio'

3 comentários:

  1. Facto, muito bom.

    Like, Share e afins! :)


    pedro,
    http://lifetimewar.wordpress.com/

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  2. Há que lutar sem esmorecer,embora pareça impossível.Lutar é conseguir impossíveis.

    Um abraço,
    mário

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