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quarta-feira, 28 de março de 2012

Grupo de cientistas vencedores do Prémio Planeta Azul reivindicam nova forma de medir riqueza


O PIB já era. O consumo inveterado, idem. Subsídios para setores como energia, agricultura e transportes, então, nem se fala. O fim destes pilares do sistema econômico mundial foi profetizado por 20 cientistas, vencedores do Prêmio Planeta Azul, uma espécie de Nobel do meio ambiente. O grupo propõe uma nova forma de medir as riquezas de um país, que leve em conta, por exemplo, os custos ambientais do crescimento econômico, seu capital verde e o nascimento de um mercado com menos uso de CO2. A proposta foi apresentada ontem em Nairóbi, no Quênia, em um encontro promovido pelas Nações Unidas.

Alerta para emissões de CO2
O grupo acredita que a sociedade global não conseguirá manter seu atual crescimento nas bases levantadas décadas atrás. Talvez o maior sinal de esgotamento do planeta venha das emissões de carbono. Os laureados com o Planeta Azul lembram o que ocorreu nas últimas seis décadas com o Brics. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, neste período, viram sua participação no PIB mundial crescer de 23% para 32%. O motor deste fenômeno foram os combustíveis fósseis — responsáveis por 90% do consumo energético destes países. Agora, eles respondem por 35% da liberação de gases-estufa. Sessenta anos atrás, o índice era de 15%.

“Este caminho, de desenvolvimento energético intenso, é claramente insustentável”, condena o relatório. “Os impactos já são sentidos, como o rápido crescimento da desertificação na China e o colapso da biodiversidade nos oceanos. A falha na mudança para uma sociedade de baixo carbono — que requere, entre outras ações, corrigir falhas do mercado e remover perigosos subsídios à energia —, pode resultar em mudanças climáticas prejudiciais e perdas ao meio ambiente”.

Há, no entanto, sinais encorajadores, embora sejam isolados. No Brasil, por exemplo, o desmatamento na Amazônia foi reduzido em 80% nos últimos sete anos. E a China, em seu mais novo plano quinquenal, que abrange até 2015, faz claros sinais de que buscará uma economia de baixo carbono.

— Alguns países levaram o problema das mudanças climáticas a sério, principalmente na União Europeia, que efetivamente reduziu suas emissões de carbono — conta o físico José Goldemberg, único brasileiro vencedor do Planeta Azul, em 2008. — Já os EUA se mantiveram fora do Protocolo de Kioto, o que reduziu muito a sua eficácia.

Numa escala de 0 a 10, segundo Goldemberg, o mundo merece nota 5 em sua integração com o desenvolvimento sustentável. O Brasil, até agora, é digno de um conceito “um pouco mais alto”.
— Digamos 7 ou 8, devido ao seu programa de hidroelétricas e de álcool — lembra. — Mas, no que se refere ao desmatamento da Amazônia, o Brasil até recentemente ganharia apenas uma nota 3, que agora subiu para 5. A ideia equivocada de que preocupações ambientais são um obstáculo ao desenvolvimento ainda não foram superadas.

Como todos os conceitos usados por analistas parecem subjetivos ou incompletos, por não considerarem os consequências ambientais provocadas pela economia, a sugestão para destronar a ultrapassada medição do PIB seria taxar o carbono. Um mecanismo eficiente atende por Redd (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal). Os premiados com o Planeta Azul recomendam a implantação deste índice, uma espécie de incentivo financeiro para que governos protejam suas matas “tanto para reduzir o desflorestamento quanto para, em alguns países, manter as já baixas taxas de desmatamento”.

Tirar o Redd do papel, no entanto, implica acelerar acordos globais cujas negociações se arrastam há anos. E fazer com que líderes globais aceitem pôr a mão na bolso para financiar a manutenção de florestas fora de suas fronteiras, assim como, em boa parte dos casos, a troca de sua própria matriz energética.

— É difícil “vender” a ideia de conservação ambiental e da biodiversidade para tomadas de decisão, porque eles, de modo geral, são eleitos para mandatos de 4 a 8 anos e só pensam em termos imediatos, enquanto os problemas ambientais produzem impactos que aparecerão em uma escala de tempo mais longa — lamenta Goldemberg. — Existe, porém, uma consequência das mudanças globais que está ocorrendo agora e que forçará os governantes a se movimentarem: o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos, como tufões, inundações e secas, algo que já ocorre no mundo inteiro. São “pegadas” do aquecimento global que estamos identificando.

O Prêmio Planeta Azul foi criado no mesmo ano da Rio 92 pela Fundação Asahi Glass. Seu objetivo é reconhecer pessoas e organizações que atingiram conquistas significativas na luta contra os problemas ambientais globais. O nome do prêmio foi inspirado na frase “A Terra é azul”, dita em 1961 pelo primeiro homem a chegar ao espaço, o cosmonauta russo Yuri Gagarin.
Fonte:  o globo ciencia


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