poesia de Merireu Bororo, Brasil
Não quero morrer. Tenho medo do oeste, o lado da morte,
mesmo tendo nascido desse lado
Mas, nesse tempo quando a morte sobrevém
meus feitos são cantados e chorados.
Como fazem o povo do IKUIAPÁ
acho que Bororo era seu nome,
que no pátio da morte, cantam a vida.
Os do Ikuiapá, no baito, no meio da tarde
os vivos morrem com a morte
E a morte vive um pouco com esses vivos
Sendo morto e vivo uma só essência
juntando lagrimas e sangue aos gritos dos cantos.
Neste IKUIAPÁ, que era desse povo,
Vivo angustiada, sons diferentes
O vento se limita, barrados por muitos obstáculos
das grandes árvores que não balouçam mais
São pesadas e de 15 andares.
As picadas enegrecidas pelo sangue da terra, estão
sinalizadas de amarelo e branco e de muitas placas
criado pelos homens que mudaram minha vida
O solo não absorve as águas da chuva.
Antes da noite da morte chegar. Tenho medo.
Mas, o povo do IKUIAPÁ,
da terra que hoje ocupo
dançam, cantam e choram no baito,
jogam sangue, lagrimas no meu solo umedecido.
Desse outro povo, das casas eternas, ouço
contar meu passado, passado tão perseguido,
lembram apenas um pouco das minhas glórias,
sussurrando, Igreja São Benedito, Palácio da Instrução
Igreja Senhor dos Passos, Praça Bispo Dom José,
Igreja do Bom Despacho, Museu do Rio, Casa do Artesão
SESC Arsenal, Cururu, Siriri, festas de santos.
Petete, Maria Taquara e Zé Bolo-Flor.
Mas do povo do IKUIAPÁ,
da terra que hoje ocupo, que dança e canta no pátio
não ouço mais seus lamentos.
Quero cantar sua glória Bororo Koxiponé
do Kujibô, Ikuiére, Toroári , Ikuiapá.
Hoje sou Cuiabá, dizem é que Guarani ou Payagua
Mas quero ser lembrado como IKUIAPÁ,
do povo da terra que hoje ocupo,
que dança e canta no pátio
mesmo quando a morte revive seus feitos
É noite, depois de dias de cantos e choro
sou esquecida, não quero morrer.
Até Breve!
António João de Jesus
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