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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tempo poético: Os Vivos Ouvem Poucamente





Os vivos ouvem poucamente. As plantas,
como o elemento aquático domina,
são dadas à conversa. A menor brisa abala
...a urna de concórdia estremecida
que, assim, sensível, se derrama
e é solidão solícita.
Os vivos não ouvem nada.
Mas, havendo acedido a essa malícia
de experiência cândida,
os mortos deixam que o ouvido siga
o fluvial diálogo das plantas
umas com outras e todas com a brisa.
Melhor ainda. Quando, nas noites cálidas,
as plantas se sentem mais sozinhas,
os mortos brincam à imitação das águas
inventando palavras de consonâncias líquidas.
E esse amoroso cuidado de palavras
a urna de concórdia vegetal espevita
até que, a horas altas,
a noite, os mortos e as plantas
caiam no sono duma luz solícita.

Fernando Echevarría, in "Sobre os Mortos"



En Catalá (traduzido por meu amigo Joan Vicenç Lillo Colomar
Els vius escolten poc. Les plantes,
...
quan l'element aquàtic domina,

es donen a la conversa. A la menor brisa sacseja

... una harmonia que batega

i, així, sensible, es vessa

i soledat reclama.

Els vius no escolten res.

Més, havent accedit a aquesta malícia

d'experiència càndida,

els morts deixen que l'orella segueixi

el fluvial diàleg de les plantes

unes amb altres i totes amb la brisa.

Millor encara. Quan, a les nits càlides,

les plantes se senten més soles,

els morts s'agiten a imitació de les aigües

inventant paraules de consonàncies líquides.

I aquesta amorosa cura de paraules

en una harmonia vegetal acaba

fins que, a altes hores,

de nit, els morts i les plantes

cauen en el son d'una llum necessària.
 

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