Quando a armada persa foi desfeita em Salamina,
aqui diante de meus olhos pairando na neblina levíssima
toda atravessada de luz,
os vencedores, sentindo-se em casa, vieram às águas de Éguina
de onde a vejo,
tranquilamente partilhar os despojos.
Hoje, os que vão longe fora de casa ocupar,
dominar e vencer
não ousam porém confessar que são os despojos de guerra
o que os move.
Belos pretextos, generosas intenções proclamam.
Mentira maior dos tiranos de mãos nuas que apenas tiranizar
procuram, sob o véu diáfano da pretensa liberdade.
Cruéis, a tudo decididos, nem por um momento hesitame as mais ridículas mentiras propagam.
Eles sabem que os ingénuos,
e são a imensa multidão,
apenas tarde descobrirão a falsificação sem disfarce.
E então o solo estará já nas suas mãos,
os despojos bem seguros,
os dividendos, as encomendas, os fluxos do negro óleo garantidos.
E as legiões ficarão, quanto tempo eles quiserem,
até que as contas se fechem em excesso,
o povo exótico tenha sido domesticado,
quiçá anestesiado,
e alguns prófugos regressados tenham fingido legitimar
a desapiedada conquista.
Os antigos pilhavam e repartiam
e outra coisa não diziam que faziam.
Progresso enorme hoje o da perversidade, porém ambíguo
porque o comum dos mortais não dispensa um pretexto
para a expoliação. E tomando à letra o pretexto,
eis que o ingénuo e volátil cidadão exige contas.
E os expoliadores habilidosos mas apressados,
já os enreda a própria perversidade.
Crentes da impunidade,
assegurando-a com as prodigiosas armas guiadas
pela informatizada rede, a mais infame,
eis que mais depressa do que supunham são despidos na praça.
O imperador vai nu,
mas ainda impera. Na universal cobardia se protege,
sabe que o hipotético sucessor contemporizará,
e tão só se dará ao trabalho de envernizar o império,
depois de feito o trabalho sujo. De mãos limpas,
e belos pretextos, perpetuará a presença das legiões
décadas a fio, até que o último barril seja vendido
ao preço do último diamante.
Imenso retrocesso do progresso,
hipocrisia imensa de uma época!
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