A consolidação do capitalismo associada ao desenvolvimento das idéias liberais fez com que o indivíduo se tornasse centro da ética, e a liberdade individual o seu valor mais precioso. Se o capitalismo de cada dia mostra a que aberrações leva o individualismo absoluto, a derrota do socialismo soviético provou que de fato não se pode construir uma sociedade sem levar em conta os indivíduos com seus interesses e seus desejos. O futuro parece estar na reconciliação do coletivo e do individual, da solidariedade e da liberdade, da igualdade e da diferenciação. Ao recapitular o que se constitui no melhor do que somos, pergunto-me por qual monstruosidade chegamos a ter como categoria essencial do pensamento comum a economia, e ainda por cima maquilada de “desenvolvimento sustentável”? Sem medo de ser chamado de dinossauro, penso que o momento atual deveria ser de reafirmação do valor central da solidariedade, valor assentado sobre o senso do dever e sobre a esperança, aquela que pode nos levar a assumir a “responsabilidade-projeto” para com o futuro da humanidade e do planeta.
Quem sou eu para atrever-me comentar um texto deste nível, brilhante do ponto de vista acadêmico, lógico e bem fundamentado. Gostei bastante. Mas senti falta, e sempe sinto ante análises deste tipo, de uma proposta prática, do que e como algo pode ser feito objetivando melhorias reais. Senão fico lendo e relendo como a tantos outros trabalhos semelhantes de análise, sem nenhum movimento em prol das mudanças. Alem de perceber, em minha visão não acadêmica, e o autor refere-se a isso, uma certa ingenuidade na análise dos processos éticos - entendendo aqui ética não como fundamento da moral, mas a moral em si, o comportamento, ethos - quando fala por exemplo nos compromissos éticos assumidos pelo ser humano quando do nascimento de outro ser humano, quando sabemos que na realidade não é bem isso que ocorre, em grande número de casos no mundo todo e em todo o processo histórico. A omissão de um dos pais, quando não de ambos, as ações negativas, o abandono material e/ou moral da criança é visto com uma frequencia muito maior do que o tolerável. O que pretender de humanos que não reagem ao que seriam os fundamenntos da formação moral/ética quanto à pessoa, a pessoa próxima, o que esperar então quanto aos diferentes, ou à natureza? Que grau de compreensão pode se desejar de seres humanos que não reagem èticamente nem à condições que lhes são absurdamente familiares? Como esperar que olhem para o que lhes é distante e diferente, tanto temporal como espacialmente? Mas, principalmente, o que e como fazer algo para mudar este estado de coisas?
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