No seguimento da sua fixação numa nomenclatura binomial, em latim, o grande naturalista sueco Carlos Lineu (1707-1778), a meados do século XVIII, deu o nome de Lapis philosophorum à grafite, com base no facto de, então, este mineral ser a “pedra” (lapis, em latim) com a qual se podia escrever num suporte macio como o papel e porque escrever era prática de estudiosos, ou seja, de filósofos. Um outro nome da grafite foi “mica dos pintores”, em alusão ao seu aspecto lamelar e por deixar traço negro e fácil sobre o papel. Repare-se que o nome desta espécie no léxico mineralógico actual reflecte a última destas características, contida no elemento grego graph, que traduz o acto de escrever.
Numa época em que se não distinguiam as rochas dos minerais, tudo era pedra. É por isso que ainda hoje se fala de pedra-mármore, uma rocha de todos conhecida, e de pedra-hume, um mineral (sulfato duplo de alumínio e potássio), de uso corrente, pelo seu carácter adstringente e cicatrizante. Foi neste contexto que surgiram os nomes lápis, para designar o objecto com que escrevemos e desenhamos, e mina, para o estilete de grafite no seu interior. Lápis e mina duas palavras que radicam no referido contexto. Com efeito, no passado, a palavra mina era usada como sinónimo de minério e a grafite era já então explorada como tal. No que se refere à palavra lápis, disse-se atrás que, na origem latina, significava pedra e que qualquer mineral era referido como tal. Porque a macieza ao tacto, a cor negra e o brilho metálico da grafite a confundiam com a molibdenite, então referida por molybdaena, e porque nesse tempo não se distinguia o molibdénio do chumbo (plumbo, em latim) também se lhe chamou “plumbagina” e “chumbo negro”.
Com a mesma composição química do diamante e como ele, um polimorfo de carbono nativo, a grafite é um bom condutor do calor e da electricidade e uma das substâncias de mais baixa dureza, à semelhança do talco (silicato de magnésio hidratado) e da molibdenite (sulfureto de molibdénio). A grande diferença que a separa do diamante, a mais dura conhecida, reside no modo de arrumo dos átomos de carbono.
Se dermos o nome de grafeno a uma estrutura planar na qual os átomos de carbono estão fortemente unidos (ligação covalente), constituindo folhas em que cada átomo (através de três dos seus quatro electrões) se liga a três outros, formando hexágonos, a estrutura grafite define-se como sendo um empilhamento de folhas de grafeno unidas por uma ligação muito fraca (ligação de van der Waals) a uma distância de 3,35 Ångstroms.
Com largas aplicações na metalurgia do ferro, nas indústrias dos lápis (misturada com argila), dos lubrificantes (o pó da grafite é usado a seco), dos refractários, das tintas, das borrachas e na eletrónica, parte da grafite que se explora de entre as rochas, no subsolo, já foi hulha ou antracite e, centenas de milhões de anos antes, madeira de árvores das florestas de então.
A primeira mina de grafite foi descoberta na Baviera, no início do século XV. Cem anos depois, idêntica descoberta teve lugar em Cumberland, na Inglaterra, mas só no final do século XVIII se soube a sua verdadeira natureza química, em resultado do trabalho do químico sueco Karl Wilhelm Scheele (1742-1786).
Em 1761, o alemão Kaspar Faber deu início à produção de lápis, em Stein, próximo de Nuremberga. Um seu bisneto, Lothar von Faber, modernizou a produção a partir de 1839. Passou, então a ser possível fabricar lápis com diferentes graus de dureza, através da mistura de argila com grafite. Oriunda da região de Irkutsk, na Sibéria, a grafite usada pela fábrica Faber era localmente referida por “ouro negro” e transportada no dorso de renas até ao porto de onde saía, em navios, para os seus destinos.
A indústria dispõe hoje de grafite produzida industrialmente, a temperatura e pressão elevadas, a partir de coque, de petróleo ou de antracite.
António Galopim de Carvalho in “As Pedras e as Palavras”. Âncora Editora, 2014
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