Sim, a cidade de Berlim, reunificada, está uma cidade a meu ver realizada e natural...Tiergarten está magnífica! A cidade dos tempos do belíssimo filme Asas do Desejo de Wim Wenders está renascida. Os transportes públicos funcionam muito bem, há ciclovias por toda a cidade. É uma cidade muito arborizada, com novos parques e os antigos estão restaurados. Tem imensos museus e é muito viva culturalmente. Em todas as avenidas existem árvores. Vi muitos corvos e até falcões!! Portanto parece-me que está no bom caminho da sustentabilidade.
Não é uma cidade faustosa. Por isso lembrei-me da obra de Fausto de Goethe.
E a propósito disto tudo tenho aqui um texto de István Mészáros (autor do livro Para Além do Capital),intitulado O desafio do desenvolvimento sustentável e a cultura da igualdade substantiva . Afirma a certa altura que :o maior desafio do desenvolvimento sustentável, que agora devemos enfrentar, não pode ser devidamente tratado sem a remoção dos constrangimentos paralisantes de carácter adverso do nosso sistema de reprodução. Esta é a razão porque não pode ser evitada a questão da igualdade substantiva no nosso tempo como o foi no passado. Por sustentabilidade significamos o estar realmente no controlo dos processos culturais, económicos e sociais vitais através dos quais os seres humanos não só sobrevivem mas também podem encontrar satisfação, de acordo com os objectivos que colocam a si mesmos, em vez de estarem à mercê de imprevisíveis forças naturais e quase-naturais determinações sócio-económicas. A ordem social existente é edificada no antagonismo estrutural entre o capital e o trabalho, requerendo portanto o exercício de um controlo externo sobre todas as forças insubmissas. Adversariedade é o acompanhante necessário de tal sistema, não interessando quão elevados são os desperdícios humanos e económicos para a sua manutenção.O imperativo de eliminação de desperdícios está claramente nos nossos horizontes como a maior exigência do desenvolvimento sustentável . A economia a longo prazo deve ir de mãos dadas com um racional e humano propósito de economia , como é próprio ao núcleo do conceito. Mas o caminho de economia racional de modo a regular o nosso processo de reprodução social na base de um controlo interno/auto-dirigido , como oposição ao externo/de-cima-para-baixo actualmente prevalecente, é radicalmente incompatível com a desigualdade estrutural e adversariedade .
O que me impressionou neste discurso do filósofo István Mészáros é que estabelece uma comparação, e bem, entre a desregulação a vários níveis provocada pela (má) globalização com a visão faustiana de Goethe.
Berlim e os berlinenses penso que aprenderam com o seu Mestre Goethe e com a História e não desejam nem mostram ter pretensões faustianas.
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