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terça-feira, 30 de maio de 2006

Comunicação e Meio Ambiente

Fonte: Jornalismo Ambiental
Comunicação e Meio Ambiente: o jornalismo como forma de conhecimento na precaução a danos ambientais
Leia este trabalho na íntegra, em pdf

Por Michele Cardoso Pereira
Partindo de uma análise crítica, fundamentada em Adelmo Genro Filho, sobre a teoria do jornalismo, buscou-se no estudo e na pesquisa interdisciplinar enfatizar a potencialidade da profissão em informar a população com vistas à formação do conhecimento para a precaução aos danos ambientais.Partindo de uma análise crítica, fundamentada em Adelmo Genro Filho, sobre a teoria do jornalismo, buscou-se no estudo e na pesquisa interdisciplinar enfatizar a potencialidade da profissão em informar a população com vistas à formação do conhecimento para a precaução aos danos ambientais.
Objetivou-se, portanto, relacionar os conceitos tanto de comunicação como de meio ambiente, corroborando a potencialidade jornalística na difusão de informações de cunho ambiental e conteúdo informativo para a formação social do conhecimento, com vistas a impelir ao jornalismo sua responsabilidade diante da sociedade em geral.
Não se procurou colocar a responsabilidade por danos ambientais na imprensa, mas sim a sua possibilidade de precaver estes danos por meio do poder de divulgação sobre os riscos que a sociedade está exposta.
Enquanto a teoria vem buscar a confirmação desse potencial, que é também um dever ético e legal jornalístico, o estudo de caso exemplifica justamente o contrário: as matérias jornalísticas referentes à região carbonífera de Santa Catarina, com ou sem temáticas ambientais de fundo, desconsideram o princípio de precaução e apresentam-se desconexas e direta ou indiretamente relacionadas aos interesses econômicos e políticos. Percebe-se, assim, o apego jornalístico aos fatos consumados e à concepção fragmentadora do conhecimento, bem como a fluidez com que percorrem a redação notícias de interesse econômico, que favorecem uma minoria, sem maiores preocupações com o que é importante à sociedade em geral a longo prazo.
Em se tratando de comunicação e meio ambiente temos como base a interdisciplinaridade e por esta orientação segue esta Monografia. O método utilizado foi pesquisa bibliográfica de caráter indutivo.
No que se refere à comunicação, são apresentadas as escolas teóricas que justificam a prática superficial do jornalismo relacionada aos interesses capitalistas, buscando-se como alternativa a prática revolucionária da profissão, entendida aqui como tudo o que o jornalismo deveria ser, mas não é. A fundamentação deu-se na concepção de Adelmo Genro Filho sobre a potencialidade do jornalismo como mediador do conhecimento, em crítica ao pragmatismo da funcionalista Escola de Chicago e ao pessimismo da Escola de Frankfurt. Buscou-se, ainda, nos escritos de Paulo Freire e José Marques de Melo a conexão entre educação e comunicação.
Quanto ao meio ambiente, soma-se a crítica do conhecimento fragmentado à precaução aos danos ambientais num contexto de sociedade de risco, com vistas a encontrar no jornalismo uma possibilidade de auxiliar neste quadro. As referências consultadas deram-se no campo das Ciências Sociais, para definição do tema Meio Ambiente, com base teórica em Enrique Leff e na amplitude, interdisciplinaridade e complexidade da questão ambiental referenciada pelo autor. No Direito Ambiental, para a conceituação de democracia e cidadania ambiental, bem como do princípio de precaução na sociedade de risco foram consultadas as obras de José Rubens Morato Leite, prof. Dr. da UFSC, com amplo desenvolvimento científico na área, estudioso da teoria da “Sociedade de Risco”, formulada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck.
Ocorre neste trabalho a defesa pela prática responsável do jornalismo, considerando o mesmo como instrumento de democracia e de incentivo ao exercício da cidadania na defesa por um meio ambiente saudável, bem como a referência à profissão do seu dever de informar para a proteção da vida em todas as suas formas, propondo-se a interdisciplinaridade como método de abordagem jornalística para a formação do conhecimento na população. Todos estes conceitos encontram-se ilustrados e relacionados na cobertura jornalística da Região Carbonífera Catarinense desde a década de 1970, utilizada como estudo de caso.
O estudo de caso, ilustrativo da prática profissional, dispõe de matérias selecionadas de jornais estaduais que abordaram o tema carvão nas décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000. As matérias foram pesquisadas através de uma relação cronológica de acontecimentos da indústria carbonífera, que delimitaram os períodos para a pesquisa e os temas a serem abordados. Inicialmente trinta e seis matérias foram selecionadas. Destas, apenas vinte estão citadas no trabalho por terem sido consideradas ideais para explicitarem a realidade local conforme os critérios jornalísticos explanados na revisão bibliográfica.
Com a reunião entre a teoria pesquisada e a ilustração da prática profissional, percebeu-se que o Jornalismo, apesar de se apresentar em sua maioria relacionado aos interesses capitalistas e mantenedores dos veículos de informação, com conteúdo noticioso superficial e tendencioso, possui potencial formador de conhecimento e dever democrático na difusão de informações para o exercício da cidadania. Não há escola teórica, por mais pessimista ou pragmática que seja, nem prática, por menos independente e responsável, que possa destituir este potencial da profissão.
Mesmo que a maioria das abordagens jornalísticas sobre o meio ambiente dê-se no âmbito econômico há possibilidade de se fazer um jornalismo responsável através da inter-relação entre situações ambientais, sociais, comerciais, etc., por meio da transmissão de conhecimento referenciado à realidade. É por este caminho que se faz possível estabelecer relação com os receptores das mensagens, produzindo conhecimento para que este seja reproduzido através da disseminação de informações que incitem ações de cidadania entre a população.
É o jornalismo capacitado e interdisciplinar que pode se fazer entendido pela sociedade, por tratar da mesma como um todo. O jornalismo ambiental, compreendendo que o mesmo se ocupa da vida e de tudo que a ela está relacionado, só é válido se for feito com responsabilidade, através do cumprimento dos deveres da profissão, contidos tanto em seu código de ética, quando na constituição brasileira e nos tratados e relatórios internacionais.
O jornalismo, da forma como vem sendo feito, e da maneira como sugere a Indústria Cultural, não pode exercer seu dever democrático, pois tem sua autonomia e sua servidão absolutamente condicionadas aos interesses onipotentes. No entanto, as formas revolucionárias do fazer jornalístico, que ensejam o cumprimento dos próprios deveres da profissão, têm alto potencial de auxiliar na construção de uma nova racionalidade humana, ambiental e global.
Se não se faz por si só culpado, este jornalismo irresponsável e demasiado superficial, ao omitir-se de seus deveres democráticos, torna-se cúmplice dos efeitos maléficos que vemos na sociedade de hoje: o consumo pelo estímulo à insatisfação, a falta de informação quanto aos riscos a que estamos expostos, a carência da participação nas decisões políticas, a degradação ambiental pela não informação para a precaução, etc.
Nos rios da região sul, altamente ácidos pela mineração, não há condições de vida para manter a biodiversidade do local originalmente integrante da Mata Atlântica, o abastecimento de água para a população está em risco, a produção agrícola e pesqueira é decadente e a saúde humana debilitada. Trata-se de um pequeno câncer ao planeta, como muitos outros espalhados.
A doença da Terra se dá pelo não funcionamento de alguns dos seus sistemas ou ainda da reprodução sem limites de suas partes. O seu equilíbrio está em jogo, assim como a vida na forma que conhecemos. Se uma parte não cumprir com a sua tarefa, o todo está fadado à morte. Que a irresponsabilidade organizada , conforme elucida o sociólogo alemão Ulrich Beck na teoria da Sociedade de Risco, não atinja por total o jornalismo, e que restem os chamados utópicos, idealistas e advogados da profissão para, quando do colapso, explicar às futuras gerações sobre a negligência à vida que preponderou em nossos tempos. Torço, sinceramente, para que não cheguemos a tal ponto e acredito que não precisemos chegar. E é para lembrar a responsabilidade jornalística na precaução a este quadro que está concluído este trabalho.
Monografia (Graduação). Orientadora: Prof. (Msc.) Rosane Porto. Universidade do Sul de Santa Catarina, Curso de Comunicação Social – Jornalismo, 2006

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