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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Ainda Educação Ambiental e Religião: Tabu ou abertura, mesmo na Educação Ambiental?


Quando se fala em religião há sempre um certo tabú?? Não acham?? Levanta-se a poeira do acriticismo ou do laicismo e insurgem-se grupos (pseudo)religiosos extremistas, confiantes e a acharem-se os donos da verdade e da fé?
Outros à espera do Reino de Deus futuro, quando não fazem quase nada para servir com alguma dignidade e humildade os mandamentos e textos sagrados no seu dia-a-dia?
Muitos refugiando-se no consumismo, no materialismo e noutros ismos, prejudicando a si e ao planeta, numa busca incompreensiva de felicidade e apoiados numa visão muito egocêntrica do mundo?
A curto, a médio ou a longo prazo, nas nossas vidas, a religião/espiritualidade vem ter connosco, mesmo aos ateístas e agnósticos mais convictos....independentemente da cor, do sexo, da idade, profissão, de língua,  de opinião política.
A religião que podia ser uma planície de reflexão, de enriquecimento e de ajuda ética, é hoje em dia, fruto de muitas divisões e sectarismos, fracturada, vilipendiada e arma de arremesso entre políticas de guerra e de poder, de contra-informação...misturada em conflitos socioambientais (água, petróleo, recursos pesqueiros, etc).
Não defendo que cristãos, muçulmanos, budistas, etc criem movimentos católicos/muçulmanos/budistas/etc ambientalistas, p.ex...mas defendo que os teóricos/arautos de cada religião abram as suas perspectivas a todos....para todos...e promovam o diálogo entre religiões e que as promovam entre o seu "rebanho" orientando-os também para estas questões socioambientais.
Deixo-vos mais um testemunho, que me foi enviado por mail e que levanta mais questões importantes.
Quer queiramos quer não a Religião é um facto cultural humano de enorme importância...No fundo o que as une é o questionamento da vida e da morte...da dor e do amor....Vamos dar uma força de maior transparência religiosa na estratégia de Ecodesenvolvimento....No caminho da Paz e da Carta da Terra.


Por Alberto Vieira da Silva, Mestrando em Educação Ambiental; licenciado em Gestão de Empresas (ISCTE, Lisboa); actualmente responsável pelo Sistema de Informação de Alta Gestão na Reitoria da Unisul (Universidade do Sul de Catarina, Brasil)


Prezado João Soares
Concordo com a sua colocação abaixo e achei esse texto bem interessante, do ponto de vista das sinapses (ou falta delas) entre os diferentes aspectos de nossa cultura ocidental, e não só. Qualquer abordagem religiosa tradicional tem como objetivo a purificação do ser humano e, portanto, uma aproximação progressiva a algo transcendente, seja qual for o nome que lhe seja dado e em qualquer religião.
Porém, é surpreendente como, de um modo geral, as pessoas soi-disant envolvidas com a prática religiosa - vulgo praticantes, que devem ser a maioria da população - não conduzem seus co-religionários à reflexão, que bem poderia retornar comportamentos ambientais ou, pelo menos, pró-ambientais. Se, como se acredita, a maior parte das pessoas tem uma religião, e diz praticá-la, como pode haver tanto lixo, tanta sujeira, tanta concentração química e bio-química prejudicial no ar, na terra e na água?... tanta... destruição perpetrada pelo ser humano contra a Natureza e contra si mesmo? ...
Um sura do Corão diz assim: Deus é belo e ama a Beleza. Belíssimo. Mas quanto lixo nos países muçulmanos! E quanto lixo nos países que se dizem cristãos!... Quantas latas, garrafas plásticas e sacolas tenho visto serem arremessadas de automóveis, caminhões ou carretas com grandes dísticos como : Deus é Fiel, Veículo monitorado por Deus, Jesus é o Senhor, Este veículo pertence a Jesus, etc. etc?
Numa praia em Santa Catarina onde estive ancorado na época de férias, um grupo religioso fez uma celebração ritual na praia, à noite, com uma enorme fogueira e tochas ao redor; resultado visível - na hora, o vento encheu de fumaça a casa mais próxima, a ponto de os ocupantes terem que fechar todas as portas e janelas, numa noite bem caliente! De manhã, as cinzas da fé estavam tapadas com areia, mas o tronco ainda estava ardendo... Não sei se alguém pisou nessa areia e queimou o pé, mas poderia ter acontecido; entretanto, a maré subiu e distribuiu, por uma área extensa, milhares de bocados de carvão que estavam escondidos logo por baixo na areia, muitos dos quais continuam lá ainda hoje...sujando a areia branca e o pé de todo o mundo que passa por lá.
Bem sei que todo esse assunto é extremamente sensível e polêmico, por isso estou fazendo uma abordagem com o devido respeito a qualquer crença, e também à ausência dela, nos casos aplicáveis.
No fundo, se existem verdades universais acessíveis pelo entendimento humano, chamem-se de Leis Naturais, Leis Universais, A Verdade ou qualquer outra designação, as pessoas com bom senso, sensibilidade e inteligência devem começar a concordar em certos pontos fundamentais e agir de acordo, respeitando, ao mesmo tempo, as opções existenciais umas das outras, sem perda aparente de sua identidade; mas, com certeza, numa perspectiva de melhoramento, de aperfeiçoamento permanente (fará sentido de um outro jeito?).
Será que, aos olhos da Divina Providência, a prática ambiental, a preservação da beleza natural, da limpeza aceitável do ar, da terra e da água, não será tão importante como a fé mais profunda? Por que, então, há-de haver tanta fé para falar, e tão pouca fé para praticar? Por que a fé ilumina a alma mas não ilumina o entendimento de que tudo está ligado, e de que a destruição da Natureza é a destruição da própria Criação? Se considerada a tradicional e judaico-cristã salvação da alma, suponho que tal salvação não poderá ser um processo egoísta, voltado
para si mesmo, cego e esquecido de tudo e de todos que estão no entorno.
Com efeito, se formos buscar todas as teologias e cosmogonias históricas, nenhuma delas deixa de afirmar, com mais ou menos variações, que Deus encontra-se por todo o lado na Criação.
Ora, se o ser humano é considerado a criatura portadora de discernimento por excelência, tocada pela própria Divindade - Criada à imagem e semelhança de Deus, segundo as Escrituras -, não se entende, então, tanta fé, tanta religiosidade e, ao mesmo tempo, tanto desvario, tanto estrago realizado pelo predomínio humano na Criação.
Ou será que a prática da religião se resume apenas à rotina ritual? Haverá redenção possível para tal pecado contra-natura?... Haverá desculpa para tal destruição perante o Criador? O Homem, criatura dileta do Criador, fazer tanto mal à Criação e a si mesmo? Algo parece errado, num mundo com tantas religiões. O que está errado? Por definição, não será certamente o Eterno que está errado. Caso, talvez, para refletir e começar a ligar as coisas. Será que não é a hora de refletir um pouco e rever as formas como a religião é entendida e... praticada, justamente no que diz respeito ao ambiente, ao entorno? à obra da Criação?
Abraços

1.Livros (se conhecerem mais bibliografia, comuniquem-me por mail)
Dalai Lama- O Dalai Lama Fala de Jesus. Ed. Fissus
Tich Nhat Han- Jesus e Buda. Ed. Vozes
Jesus e Buda Versículos Paralelos- Ed. Instituto Piaget
Buddhism and Ecology: The Interconnection of Dharma and Deeds, edited by
Mary Evelyn Tucker and Duncan Ryuken Williams

2. Um site excelente

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