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terça-feira, 14 de dezembro de 2004

A SOCIEDADE E OS PROJETOS AMBIENTAIS

A natureza é o palco das relações sociais do ser humano, além de provedora dos recursos necessários para existência da vida em todas suas formas. É impossível pensar o planeta de forma fragmentada, como se não existissem conexões entre a sociedade, a cidade e os ambientes naturais. Esse tem sido um erro constante em projetos ambientais, principalmente nos que envolvem comunidades que vivem ou dependem de áreas naturais para sua subsistência.

Muitas instituições, públicas, privadas e não governamentais, já aprenderam esta lição, mas ainda é comum encontrarmos projetos onde o ser humano é ignorado, sendo levado em consideração apenas às necessidades preservacionistas, como se pudéssemos simplesmente excluir as pessoas destes ambientes.

A mudança do comportamento social é um fator primordial para o sucesso em projetos ambientais. Porém, não existe mudança de comportamento quando a mesma é imposta. Ela tem que partir do próprio homem, que precisa entender a necessidade da proteção daquele ambiente, do qual ele também faz parte.

É comum encontrarmos projetos onde comunidades inteiras são obrigadas, de um dia para o outro, a mudar seus hábitos e sua cultura e adaptar-se à nova realidade, imposta por um estranho, que do alto de sua prepotência acredita que seu diploma o torna capacitado a decidir o que é melhor para aquela região. Alguém que não vive a realidade local, de um momento para o outro, empunha uma bandeira conservacionista, e como se fosse o dono da verdade, estabelece novas regras que quebram a rotina local. Projetos assim causam revolta da população, ameaçando a continuidade e o sucesso do mesmo.

Um bom projeto ambiental deve ser iniciado, antes de qualquer coisa, com o comprometimento e a participação da comunidade local, que precisa entender a conservação daquele determinado ambiente como algo importante para a melhoria de sua própria qualidade de vida e para seu desenvolvimento.

É um processo lento, onde é preciso entender as necessidades da comunidade e suas relações com seu ambiente antes de propor mudanças. As decisões devem sempre ser tomadas em conjunto e as iniciativas devem partir da própria comunidade, que dentro deste contexto, é a maior interessada, pois os resultados influenciarão diretamente em suas vidas. Tudo que é construído a partir de bases sólidas tem mais chances de crescer e se tornar permanente.

Não se pode, por exemplo, de um dia para o outro, proibir a utilização dos recursos de uma área, se os mesmos representam além de uma necessidade de subsistência, um hábito cultural, por mais que essa seja uma atitude necessária para proteção daquele ambiente e das espécies ali existentes. Antes de se propor uma mudança drástica, é necessário oferecer outras opções. Deve-se discutir com esta comunidade. Ouvir as necessidades das pessoas. Incentivar que novas idéias partam delas mesmas. Sensibilizá-las ao fato de que se aquela ação continuar, não só o ambiente perde, mas elas mesmas, pois em breve aquele produto ou local que mantém seu sustento pode deixar de existir.

A própria comunidade precisa entender a necessidade de mudança de seus hábitos e buscar novas alternativas para suas carências e costumes, tornando-se assim uma forte aliada na conservação do ambiente.

Devemos entender que é preciso integrar o homem ao ambiente e não excluí-lo. Se o sujeito não se sentir parte da natureza, irá degradá-la sem remorsos.

POR OLIMPIO JUNIOR
Geógrafo-ambientalista, Gestor Nacional de Conteúdo da Rede de Comunicação Ambiental EcoTerra Brasil oaj@ecoterrabrasil.com.br - Fone: (41) 232 6700 ou (41) 9212 7266

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