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segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

"Antes que o clima mude, mudemos nós"

Quercus moderamente satisfeita com compromisso obtido

Os detalhes completos são ainda desconhecidos, mas as linhas fundamentais do acordo obtido após quase toda uma noite de negociações e ainda por aprovar formalmente este sábado de manhã, deixam os ambientalistas moderadamente satisfeitos. A intransigência da União Europeia em alguns pontos foi fundamental em todo o processo. O início da discussão do põs-2012 está efectivamente marcada para Maio de 2005 com uma ligação à Convenção das Nações Unidas e à próxima Conferência das Partes através de um Seminário de vários dias a realizar em Bona e não se está a criar um caminho paralelo para discutir as alterações climáticas.

Os Estados Unidos sempre insistiram que a informalidade deste "Seminário" deveria ser fundamental, e apesar de tal fazer parte da decisão, a ligação ao caminho formal seguido pelas Nações Unidas é assegurada. De igual forma, os Estados Unidos, que continuam a assegurar que não querem discutir
quaisquer compromissos, concordaram que a reunião de Maio terá uma componente sobre esta matéria, o que é decisivo em termos de futuro para a resolução do problema das alterações climáticas. Porém, o compromisso de discussão é ainda frágil, pelo que a satisfação é moderada. Buenos Aires
acabou por marcar politicamente mais um passo que infelizmente não teve a presença de Portugal ao mais alto nível com a ausência de governantes verificada.


Fósseis do dia são os fósseis da Conferência

As organizações não governamentais de ambiente atribuíram o primeiro, segundo e terceiro lugar dos denominados "fósseis do dia" (atribuídos aos países com pior comportamento em prol do ambiente nas negociações) aos Estados Unidos da América e à Arábia Saudita, em simultâneo, pelo sistemático boicote à discussão de acções e compromissos futuros sobre alterações climáticas.


Portugal não pode esperar mais - política sobre climáticas requer acordo de Estado supra-partidário e acções imediatas

A escalada de emissões de gases de efeito de estufa em Portugal não pára. A Quercus, no decorrer da Conferência de Buenos Aires, estimou que em 2004 vamos ultrapassar 50% a mais que em 1990, 23% acima do que o Protocolo de Quioto nos autoriza a cumprir em 2008-2012.

É inadmissível que as medidas do Plano Nacional para as Alterações Climáticas não tenham qualquer reflexo na política económica e financeira, nomeadamente no Orçamento de Estado.

É inadmissível que o consumo de electricidade e combustíveis não pare de aumentar, sem haver uma enorme campanha pública a explicar aos portugueses o que fazer em termos de gestão de procura.

É inadmissível que não se tomem as decisões em termos de política pública, nacional e municipal que se impõe, em sectores como os transportes, as residências e os serviços, explicando o desperdício enorme de dinheiro que isso vai significar para o Estado que terá que comprar licenças de emissão a
outros para compensar o nosso aumento, em vez de conseguir em grande parte tomar medidas internas com maior custo-eficácia. Do investimento na conservação de energia e em energias renováveis, às limitações do transporte individual nas grandes cidades, todos os especialistas sabem o que é preciso fazer; só falta fazê-lo.

Entre o anúncio de medidas e a realidade, a distância continua assim a ser abissal. À beira de um período de campanha eleitoral, o problema das alterações climáticas e da redução de emissões de gases de efeito de estufa, pela sua natureza transversal e importância para o ambiente, merecem um
maior protagonismo. A monitorização e a avaliação dos resultados que está a ser feita pelo actual Governo é fundamental para se perceber como estamos a fazer tão pouco. É também fundamental que Portugal na União Europeia tenha posições de vanguarda coincidentes com a liderança que no contexto mundial a UE tem revelado.

"Antes que o clima mude, mudemos nós"
(frase-chave de anúncio da COP10 em Buenos Aires)

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