A foto mostra um banco de germoplasmas de batatas bolivianas. Fonte : Opinion |
16 de Outubro - Dia Mundial da Alimentação
Quercus e Plataforma 'Transgénicos Fora do Prato' pedem protecção para a
biodiversidade agrícola portuguesa.
O Dia Mundial da Alimentação foi instituído pela FAO (Food and Agriculture
Organization, das Nações Unidas) para comemorar a sua fundação, em 1945,
data que marcou o início do combate internacional organizado contra a fome no
mundo.
Em 2004 este Dia Mundial é celebrado em torno do tema 'Biodiversidade é
Segurança Alimentar', o que significa o reconhecimento oficial da necessidade
de maximizar em todo o mundo o número de variedades vegetais e raças animais
empregues na agricultura, ao arrepio do último século em que, segundo a
própria FAO, se assistiu à perda de 75% de toda a diversidade genética
anteriormente disponível. Neste momento 90% de todos os nossos alimentos
provêm de 15 plantas e 8 animais, e 50% de todas as calorias são provenientes
de apenas três cereais: trigo, milho e arroz. Para um exemplo concreto desta
normalização alimentar repare-se na maçã: das 8000 variedades existentes na
Europa há 100 anos atrás, menos de 90 são ainda mantidas comercialmente no
século XXI.
As tendências que conduziram à actual situação de erosão genética e
agrícola não aconteceram por acaso ou coincidência: são o fruto de uma
estratégia bem intencionada mas mal direccionada que promoveu as monoculturas,
os inputs baseados em combustíveis fósseis, a uniformização da paisagem e
uma industrialização que depende de maquinarias complexas ao mesmo tempo que
exclui as pessoas. Os resultados, insustentáveis, estão à vista: segundo um estudo da Universidade de Essex, só no Reino Unido a agricultura custa
anualmente à sociedade britânica cerca de 3.8 mil milhões de dólares, ou
seja, 377 dólares por cada hectare cultivado. Este é o valor das
externalidades, que não são incorporadas no preço final dos alimentos nem são reembolsadas à sociedade, e incluem factores como o custo da eliminação
de pesticidas da água de beber, a reparação dos estragos causados pela
erosão do solo e o combate à poluição do ar de origem agrícola, entre
muitos outros. Os valores para Portugal não estão calculados mas estima-se
que atinjam a mesma ordem de grandeza.
Só com a protecção e promoção da diversidade agrícola será possível
alimentar a população mundial em crescimento. Basta lembrar que uma das
últimas grandes fomes europeias, que conduziu à morte de dois milhões de
pessoas na Irlanda do sécula XIX, foi causada por uma praga que destruiu toda
a cultura de batata - já na altura dependente de uma só variedade, sensível
ao fungo em causa.
A introdução de plantas geneticamente modificadas na agricultura - acelerada
no passado mês de Setembro pela decisão da Comissão Europeia de aprovar para
toda a União 17 variedades de milho transgénico - vem acelerar as tendências redutoras da agricultura intensiva actual e assim pôr em risco a segurança
alimentar de centenas de milhões de pessoas. Vale a pena atentar no exemplo da
soja transgénica: existe uma única variedade difundida em todo o mundo,
semeada neste momento em mais de 40 milhões de hectares - e se esta variedade
se revelar, inesperadamente, sensível a alguma praga como aconteceu à batata
na Irlanda?
Portugal tem de proteger as variedades tradicionais (de plantas e animais) que
ainda lhe restam como seguro para a sua própria segurança alimentar futura.
Nesse sentido o Banco Português de Germoplasma Vegetal é uma das iniciativas
a apoiar decisivamente, abrindo-a à interacção natural com os agricultores
portugueses - as plantas transgénicas, por outro lado, e considerando que já
contaminaram os centros de diversidade mais fulcrais do planeta, têm de ser
simplesmente proibidas enquanto se mantiverem uma tecnologia incontrolável.
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