Um Bem Que É de Todos e É Preciso Preservar
Por CARLOS ANTUNES, Biólogo, responsável técnico pelo projecto do Aquamuseu do
Rio Minho
Domingo, 30 de Maio de 2004
A importância do rio Minho em termos dos seus recursos naturais e culturais foi
tema abordado em diversas intervenções no âmbito do Congresso Internacional do Rio Minho, realizado em Melgaço. Este tema, ganhou uma ênfase especial em virtude das notícias que têm vindo a público sobre a intenção da construção de três barragens na porção internacional do rio. Com efeito,as barreiras físicas foram apontadas como um dos factores de risco para afauna piscícola. Não podemos esquecer que a pesca artesanal, no rio Minho,representa um factor importante em termos económicos para a região, não só pela comercialização do produto da pesca mas também pelo que representa emtermos turísticos, particularmente no campo cultural e gastronómico. O rio Minho corresponde ao limite Sul da distribuição do salmão do Atlântico (Salmo salar) na Europa. Tem havido, nos últimos anos, indícios de recuperação desta espécie neste rio. Outras espécies com o mesmo
comportamento migratório, como o sável (Alosa alosa), a savelha (Alosa fallax), a truta marisca (Salmo trutta trutta) e a lampreia (Petromyzon marinus) são afectadas directamente quando são impossibilitadas de prosseguir a sua viagem até aos locais de postura. Outro grande migrador, a enguia(Anguilla anguilla), fica limitado a um espaço cada vez mais reduzido para crescer, aquando da sua chegada do oceano na fase juvenil (meixão). Acresce a tudo isto, a falta de medidas efectivamente praticadas na execução deste tipo de projectos, que visem minimizar os impactos negativos sobre as diversas
populações de peixes. Outros factores, como a poluição, a extracção de inertes, a introdução de espécies exóticas e uma gestão da pesca desajustada da realidade regional podem igualmente afectar não só as espécies com valor comercial mas também as ecologicamente importantes. Estão inventariadas, no rio Minho, 45 espécies de peixes, das quais 13 têm estatuto de conservação. A falta de conhecimento da estrutura e dinâmica de muitas destas espécies, das relações alimentares entre elas, dos efeitos dos
factores de risco já mencionados em termos da realidade local, são os principais inimigos de qualquer estratégia de conservação. A promoção do conhecimento e divulgação deste património, nas suas múltiplas vertentes, nomeadamente a nível da população local e visitante, da comunidade escolar e científica é seguramente uma estratégia que dará os seus frutos num futuro próximo.
O Aquamuseu do Rio Minho, projecto promovido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, cuja abertura ao público acontecerá até final do ano, representa um passo importante neste caminho a percorrer para um mais e melhor saber, aumentando a responsabilidade colectiva sobre a conservação de um bem que é de todos.
Muitas imagens fantásticas da bacia do Minho através do Centro de Geologia FCUL
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