A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza considera que o filme do realizador Roland Emmerich - “O dia depois de amanhã” que hoje estreia nos ecrãs de muitos cinemas em Portugal, pode ser uma importante forma de sensibilização e alerta para o problema inevitável do aquecimento global e das consequentes alterações climáticas.
Tratando-se de uma ficção exagerada do problema ambiental em questão, não deixa de ser mais uma forma de pressão para que Governos como o dos Estados Unidos da América, Austrália e Rússia ratifiquem o Protocolo de Quioto (a Rússia assumiu há poucos dias pela primeira vez na voz do seu Presidente que o iria fazer), como primeiro pequeno passo na concertação mundial na redução do aquecimento global.
A Quercus espera porém que haja ainda capacidade de concertação e antecipação para que se minimizem os efeitos e os consequentes custos sociais, económicos e ambientais à escala global que este problema ambiental acarreta, não sendo necessário recorrer de forma inevitável como este filme já o faz, à pedagogia da catástrofe.
No que respeita a Portugal, talvez a população perceba melhor a responsabilidade de todos os países, incluindo o nosso, em reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, nomeadamente a necessidade do governo aprovar de vez o Plano Nacional para as Alterações Climáticas e aplicar e monitorizar as medidas previstas.
Se o filme tem um argumento que apresenta situações porventura ampliadas em termos técnicos e científicos, não é por demais lembrar o que os cientistas mundiais do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e os cientistas portugueses através do projecto SIAM apresentam como as consequências das alterações climáticas nos próximos cem anos:
O que se já está a passar à escala mundial:
• aumento na temperatura média global (0,6 ºC) desde que há registos (1861);
• ano mais quente: 1998 (2003 na Europa);
• 2002 foi o segundo ano mais quente;
• década mais quente: 90;
• os últimos 6 anos estão nos 8 mais quentes de sempre (excluíndo 2003);
• os nove anos mais quentes ocorreram desde 1990;
• redução das áreas glaciares e da espessura do gelo.
O que já se está a passar em Portugal:
• temperatura média do ar: tendência crescente desde 1970;
• ano mais quente: 1997 (temp. méd. anual 16,6ºC);
• precipitação: tendência decrescente embora fraca no período 1931-2000; redução significativa durante a Primavera;
• tendência para o aumento de eventos meteorológicos extremos: secas e cheias;
• aumento do nível do mar: 1 a 2 cm/década.
As consequências à escala mundial:
• aumento de 1,4 a 5,8 ºC entre 1990 e 2100;
• maior concentração de vapor de água e de precipitação, principalmente no hemisfério Norte;
• maior frequência de ocorrência de fenómenos climáticos extremos (ex.: cheias, secas, freq. de dias muito quentes);
• aumento do nível do mar de 9 a 88 cm entre 1990 e 2100;
• fusão dos glaciares; redução do gelo nos cursos de água, lagos e mares;
• aumento da frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos;
• aumento do risco de extinção de plantas e animais (perda provável de metade da biodiversidade mundial);
• aumento da vulnerabilidade das infraestruturas e dos sistemas produtivos e de lazer associados às actividades humanas;
• aumento do risco de ocorrência de impactes a larga escala e com efeitos irreversíveis associados a alterações das correntes marítimas;
• aumento do risco de ocorrência de conflitos sociais e de migrações de populações.
As consequências para Portugal:
• aumento de 4 a 7 ºC na temperatura média do ar entre 2000-2100;
• redução das disponibilidades de água; aumento de cheias e pior qualidade da água;
• risco de perda de terreno em cerca de 67% das zonas costeiras;
• aumento do nível do mar entre 25 e 110 cm até 2080.
A Direcção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Lisboa, 27 de Maio de 2004
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