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sexta-feira, 30 de abril de 2021

“Chamas simbólicas” durante protesto na Praça do Comércio


Rede de organizações da sociedade civil instala letras gigantes na Praça do Comércio em protesto contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul

Dia 29 de Abril, pelas 6h da manhã, a Rede STOP UE-Mercosul fez a instalação de uma mensagem de protesto na Praça do Comércio contra o acordo comercial entre a União Europeia e os países pertencentes ao Mercosul. Numa extensão de 125 metros, viam-se as palavras “STOP UE-Mercosul, envoltas por sinalizadores de fumo, simbolizando assim a floresta Amazónica em chamas.

A Rede de organizações afirma que o governo português não tem representado as pessoas, já que “um estudo realizado pela Yougov mostra que 85% dos portugueses acredita que o acordo deveria ser travado enquanto a desflorestação da Amazónia não cessar”. Além da destruição irreversível da floresta Amazónica, do Cerrado e outros biomas, o acordo incentiva as violações de Direitos Humanos por parte do Presidente Jair Bolsonaro. “De forma oposta à vontade popular, vemos o governo português como sendo o maior entusiasta deste acordo no palco europeu”, afirma Mariana Jesus, uma das organizadoras do protesto.

Abrangendo 780 milhões de pessoas, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul seria, se aprovado, o maior acordo de livre-comércio envolvendo o ocidente. O tratado internacional foi assinado em 2019, mas não foi ainda ratificado.

O acordo tem enfrentado a oposição de grupos ambientalistas, preocupados com o aumento das emissões de gases de efeito de estufa que o acordo irá provocar, bem como com o aumento da desflorestação e perda de biodiversidade. As maiores organizações sindicais na Europa e América do Sul também já se manifestaram contra este acordo, alegando que o mesmo não salvaguarda a protecção e respeito pelos direitos laborais, e alertando para os homicídios de líderes sindicais no Brasil, a repressão de greves e perseguição aos sindicatos, que transportaram o Brasil para os lugares cimeiros da tabela dos países mais perigosos para os trabalhadores. O Acordo UE-Mercosul tem também motivado a oposição de representantes dos povos indígenas, que temem o aumento dos conflitos territoriais, que recentemente já provocaram a triplicação dos homicídios de indígenas . Na União Europeia, várias associações de agricultores também se têm manifestado contra a ratificação do acordo, alertando para riscos para o sector e para a saúde pública.

A Rede STOP UE-Mercosul, composta por 25 colectivos portugueses tais como a Greve Climática Estudantil, a Quercus e a TROCA-Plataforma por um Comércio Internacional Justo, faz parte de uma aliança internacional com mais de 450 organizações que lutam contra a ratificação do acordo.

Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares

Tratado de Não Proliferação Nuclear: uma garantia cada vez mais frágil e ameaçada



Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares by João Soares on Scribd


Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares

Bibliografia: 
- Daniel H. Joyner, Interpreting the Nuclear Non-Proliferation Treaty, Oxford Universtity Press, 2011, 200 pp.

- Ian Bellany, Outflanking missile defences: the Nuclear Non-proliferation Treaty, nuclear weapons and terrorism, in Defense & Security Analysis, Vol. 28, n.º 1, 2012, p. 81-96
- Arsalan M. Suleman, Bargaining in the Shadow of Violence: The NPT, IAEA, and Nuclear Non-Proliferation Negotiations, in Berkeley Journal of International Law, Vol. 26, n.º1, Fall 2007, p. 206-253
- Orde F. Kittrie, Averting Catastrophe: Why the Nuclear Nonproliferation Treaty is Losing its Deterrence Capacity, in Michigan Journal of International Law, Vol. 28, n.º2, Winter 2007, p. 337-430
- Jonathan Granoff, The Nuclear Nonproliferation Treaty and Its 2005 Review Conference: A Legal and Political Analysis, in New York University Journal of International Law & Politics, Vol. 39, n.º4, 2007, p. 995-1006
- Christopher A. Ford, The Nonproliferation Bestiary: A Typology and Analysis of Nonproliferation Regimes,in New York University Journal of International Law & Politics, Vol. 39, n.º4, 2007, p. 937-993
- Gary J. Meise, Securing the strength of the renewed NPT: China, the linchpin " middle kingdom", in Vanderbilt Journal of Transnational Law, 1997, V.30, n.3, p.539-578
- Paul Szasz, IAEA safeguards for NPT, in Review of European Community & International Environmental Law, 1996 V.5, n.3, p.239-245
- Tuiloma Neroni Slade, 1995 review and extension of the treaty on the non-proliferation of nuclear weapons, in Review of European Community & International Environmental Law, 1996, V.5, n.3, p.246-252
- Jozef Goldblat, The nuclear non-proliferation régime: assessment and prospects, in Recueil des Cours, T.256 (1995), p.9-191
- Mohamed I. Shaker, La conférence des parties au traité sur la non-prolifération des armes nucléaires (TNP) : New York, Avril-Mai 1995, in Annuaire Français de Droit International, v.41 (1995), p.169-183

Estados Partes: NPT

Documentário: Coreia do Norte- armas nucleares, terror e propaganda


A cada ano, 5.000 turistas ocidentais visitam a Coreia do Norte. À frente do país, um estadista misterioso e caprichoso, Kim Jong-un. Seu país nunca esteve tão perto de se tornar uma potência nuclear. Na imersão, vimos o que o regime quer mostrar aos estrangeiros através da propaganda. Reportagem secreta na Coreia do Norte.
Nota: para ver em Português, clicar em definições.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Como a definição de Floresta da FAO prejudica pessoas e florestas? Carta aberta à FAO

Fonte: WRM
Lançada no dia 21 de setembro de 2016, Dia Internacional de Luta contra as Monoculturas de Árvores

Em setembro de 2015, durante o XIV Congresso Florestal Mundial, milhares de pessoas foram às ruas de Durban, na África do Sul, para protestar contra a forma problemática em que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) insiste em definir as florestas.(1) A definição da FAO basicamente considera as florestas apenas como “um monte de árvores”, enquanto ignora outros aspectos fundamentais, incluindo as suas muitas outras formas de vida, como outros tipos de plantas, animais e as comunidades humanas que dependem da floresta. Da mesma forma, a definição ignora a contribuição vital das florestas para os processos naturais que proporcionam solo, água e oxigênio. Além disso, ao definir “florestas” como sendo apenas uma área mínima de terra coberta por um número mínimo de árvores com um percentual mínimo de altura e copa, a FAO tem promovido ativamente o estabelecimento de muitos milhões de hectares de plantações industriais de árvores, principalmente de espécies não nativas e nos países do hemisfério Sul. Como consequência, apenas um determinado setor tem se beneficiado: a indústria de plantações de árvores. As plantações industriais de árvores têm sido a causa direta de muitos impactos negativos sobre as comunidades locais e suas florestas, os quais têm sido bem documentados. (2)

Na marcha de protesto que aconteceu em Durban, as pessoas tinham cartazes dizendo Plantações não são florestas!, e a manifestação terminou em frente à sede do Congresso Florestal Mundial, que foi organizado pela FAO. Em resposta a um chamado de líderes da sociedade civil na marcha, um membro do WFC saiu do prédio onde ocorria o Congresso para receber um abaixo-assinado com mais de 100.000 assinaturas de pessoas e grupos de todo o mundo. O documento chamava a FAO a alterar urgentemente sua definição de floresta e reconhecer as florestas por seu verdadeiro significado. Mas, mais uma vez, a organização não alterou a sua definição.

No entanto, algo novo aconteceu: ao contrário do silêncio diante das reivindicações anteriores para que a FAO mudasse sua definição equivocada de floresta, desta vez a organização reagiu ao protesto e enviou uma carta. Um ponto que consta da carta da FAO é particularmente interessante: “Na verdade, há mais de 200 definições nacionais de florestas que refletem uma variedade de interessados no tema…”. E continua: “… para facilitar a comunicação de dados…, é necessária uma categorização globalmente válida, simples e operacional das florestas”, que permita “comparações constantes, durante longos períodos, sobre o desenvolvimento e as mudanças florestais globais”. Ao escrever isto, a FAO tenta nos convencer de que o seu papel é apenas o de harmonizar as mais de 200 diferentes definições de florestas de diferentes países.

Mas será que a definição atual de floresta da FAO não influencia a forma como as 200 definições nacionais foram formuladas? E a FAO está correta ao afirmar que as muitas definições nacionais de floresta refletem uma variedade de interessados nesses países, novamente menosprezando sua própria influência?

Nós acreditamos no contrário. Para começo de conversa, a definição de floresta da FAO foi adotada há muito tempo, em 1948. De acordo com uma análise conjunta feita recentemente por diferentes autores de conceitos e definições florestais, “a definição da FAO, acordada por todos os seus membros [membros da ONU], é a primeira a ser usada por todos os países para fazer relatórios com padrões comuns; a definição de floresta adotada pela FAO continua sendo a mais usada hoje em dia”.(3)

Um bom exemplo para ver se a definição da FAO está sendo usada é o Brasil, o país com a maior cobertura florestal no Sul global e, de acordo com fontes oficiais, com quase 8 milhões de hectares de plantações industriais de árvores, principalmente monoculturas de eucalipto. Em sua publicação Florestas do Brasil, de 2010 (4), o Serviço Florestal Brasileiro (SBF), que faz parte do Ministério do Meio Ambiente e é responsável por questões relacionadas a florestas, “(…) considera como floresta as tipologias de vegetação lenhosas que mais se aproximam da definição de florestas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)”. Como consequência lógica do fato de que sua definição se baseia no que a FAO já definiu, afirma que “o Brasil é um país (…) de florestas naturais e plantadas”, onde a expressão “florestas plantadas” se refere aos 8 milhões de hectares de monoculturas, em sua maioria de eucalipto. A forma como o governo brasileiro define floresta, portanto, não é resultado de um processo que “…reflete uma variedade de interessados no tema”. Pelo contrário, é resultado do que a FAO já havia determinado.

Mas a influência da definição de floresta da FAO vai além de determinar as definições nacionais. Nestes tempos de mudanças climáticas, ela tem sido o principal ponto de referência para definir o que é uma floresta no âmbito da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU (UNFCCC). Ao adotar a definição estreita da FAO, baseada na madeira, a UNFCCC também promoveu uma visão da floresta como uma área de terra contendo apenas árvores. Para a UNFCCC, o mais importante em uma floresta são as árvores, por causa de sua capacidade de armazenar carbono à medida que crescem, e não as comunidades que dependem da floresta. Na maior parte, essas comunidades afetadas são impactadas negativamente pelas restrições impostas ao uso de recursos florestais por “projetos de compensação carbono florestal”, também chamados, muitas vezes, de projetos de REDD+ (5). Uma definição de florestas que trata apenas de árvores abre a porta para incluir “florestas plantadas” – leia-se: plantações industriais de árvores – uma forma completamente falsa de “redução do desmatamento e da degradação florestal” – como opção dentro da convenção de mudanças climáticas, através da qual o carbono pode supostamente ser sequestrado da atmosfera e armazenado permanentemente. Na prática, é apenas mais uma oportunidade para a indústria das plantações de árvores ganhar dinheiro e uma grande ameaça para as comunidades afetadas pela tendência de expansão dessas plantações como “sumidouros de carbono”.(6)

Na sequência das últimas negociações da UNFCCC, os países têm revisto suas leis florestais recentemente, na esperança de atrair o chamado “financiamento para o clima”. Previsivelmente, as definições usadas têm por base a definição de florestas da FAO. Em Moçambique, por exemplo, em um seminário sobre REDD+, um consultor propôs uma nova definição de floresta para o país. Assim como a da FAO, ela também se baseia na presença de árvores, dizendo que uma floresta é uma área onde há “… Árvores com potencial para alcançar uma altura de 5 metros na maturidade (…)”. Também na Indonésia, a apresentação do Ministério do Meio Ambiente e Florestas à Conferência da ONU sobre o Clima em 2015 declarou que tinha “… adaptado a definição de floresta da FAO…” para definir suas florestas. Mais uma vez, é uma formulação que define e valoriza uma floresta somente através de suas árvores e divide “florestas” em um número de diferentes categorias, incluindo “floresta natural” e algo chamado de “florestas de plantação”.

A definição de floresta da FAO também influencia as ações das instituições financeiras e de desenvolvimento que promovem atividades baseadas na madeira, como a extração industrial de madeira de florestas, as plantações industriais de árvores e a compensação de carbono por REDD+. O principal exemplo é o Banco Mundial (BM), o qual, como parte do conglomerado da ONU, tem feito parcerias com a FAO por décadas, em uma série de iniciativas relacionadas a florestas. Recentemente, eles uniram forças mais uma vez, em um dos planos mais ambiciosos lançados durante a COP 21 em Paris, a chamada Iniciativa para a Restauração da Paisagem Florestal Africana (AFR100) (7). A AFR100 visa cobrir com árvores 100 milhões de hectares de terras desmatadas e chamadas de “degradadas” em diferentes países africanos. O Banco Mundial vai disponibilizar um bilhão de dólares para o plano. Mas, para entender o que o Banco considera como “reflorestamento”, é crucial ver como ele próprio define uma floresta. Previsivelmente, sua definição também é emprestada da FAO, descrevendo uma floresta como “uma área de terra … com cobertura de copa de mais de 10% e que tenha árvores …”. (8) Ao definir florestas dessa forma, o Banco Mundial escancara as portas para que empresas de plantação da árvores expandam suas grandes monoculturas sobre os territórios comunitários na África e, assim, façam parte do ambicioso plano de “restauração” que ele está promovendo em conjunto com a FAO e outros parceiros. A proposta da AFR100 se parece muito com o fracassado Plano de Ação para a Silvicultura Tropical (TFAP) da década de 1980, que também foi idealizado pelo Banco Mundial em colaboração com a FAO.

Considerações finais

É urgente que a FAO pare de apresentar as plantações industriais de árvores como “florestas plantadas” ou “silvicultura”, pois governos nacionais, outras instituições da ONU e instituições financeiras, bem como os principais meios de comunicação, seguirão seu exemplo inadequado. Essa confusão deliberada de plantações de árvores com florestas está enganando as pessoas, porque as florestas em geral são vistas como algo positivo e benéfico. Afinal de contas, quem seria contra “florestas”?

Acima de tudo, a FAO deve assumir total responsabilidade pela forte influência que sua definição de “floresta” tem sobre as políticas econômicas, ecológicas e sociais globais. O abaixo-assinado de 2015, que foi apresentado à FAO em Durban, afirma que ela se apresenta, em seus princípios fundamentais, como um “fórum neutro, onde todas as nações se reúnem como iguais”. Para corresponder a essa afirmação, entre outras coisas, a FAO deve rever urgentemente sua definição de floresta, passando de uma visão que reflete as preferências e perspectivas de empresas de madeira, celulose/papel, borracha e comércio de carbono, para uma que reflita as realidades ecológicas, bem como os pontos de vista dos povos que dependem da floresta. Em contraste com a atual influência dominante que as indústrias baseadas na madeira exercem através da FAO, um processo transparente e aberto para estabelecer definições novas e apropriadas para florestas e plantações de árvores também deve envolver efetivamente essas mulheres e esses homens que dependem diretamente das florestas e por isso as protegem.

1 – “Terra com cobertura de copa (ou densidade equivalente) de mais de 10% e área de mais de 5 hectares (ha). As árvores devem ter potencial para atingir uma altura mínima de 5 metros na maturidade in situ”.
3 – Chazdon, R. L., Brancalion, P. H. S., Laestadius, L. et al. Ambio (2016). doi:10.1007/s13280-016-0772-y. When is a forest a forest? Forest concepts and definitions in the era of forest and landscape restoration (http://link.springer.com/article/10.1007/s13280-016-0772-y).

Entrevista a Thomas Lovejoy


Considerado um dos principais líderes do movimento ambientalista e o “pai da biodiversidade”, termo que ele cunhou originalmente como “diversidade biológica”, Lovejoy atuou em conselhos de ciência e meio ambiente durante os governos Reagan, Bush e Clinton e também foi o principal consultor de biodiversidade do Banco Mundial e especialista em meio ambiente para a América Latina e o Caribe. É bacharel em ciências e doutor em biologia pela Universidade de Yale e atua como professor universitário no Departamento de Ciência e Política Ambiental da George Mason University, além de fazer parte do conselho deliberativo da Conservação Internacional e ser membro sénior da Fundação das Nações Unidas.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Estudo mundial encontra pesticidas em 75% de amostras de mel

Fonte: Visão, 2017
A concentração de inseticida neonicotinóide é inferior ao limite permitido para consumo humano, mas está a afetar as abelhas, passando pelo seu sistema nervoso ao libertar o néctar

Com a colaboração de dezenas de voluntários, um grupo de investigação científica reuniu 198 amostras de mel provenientes dos cinco continentes, para procurar os cinco principais neonicotinóides, habitualmente, usados na prevenção, controlo e tratamento de várias culturas agrícolas contra organismos considerados prejudiciais. Estes pesticidas sistémicos, à base de nicotina, aplicam-se geralmente nas sementes, fixando-se em toda a planta à medida que cresce, incluindo flores e frutas. Atuam no sistema nervoso e, em princípio, afetam apenas os invertebrados que se alimentam das plantas tratadas, sendo inócuo para vertebrados, como os humanos.

A análise liderada por Edward Mitchell, biólogo da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, encontrou restos de pesticidas modernos na maioria das amostras de mel. A concentração é residual, ficando abaixo dos limites impostos pela União Europeia para consumo humano. Ao certo, a média de quantidade de pesticida encontrada nas amostras positivas é de 1,8 nanogramas (ng) por grama de mel. A União Europeia estabeleceu o limite admissível de 50 ng para três dos neonicotinóides analisados e em 10 ng para os outros dois. No entanto, os níveis detetados podem estar a afetar as abelhas.

Os resultados da investigação, publicada na revista Science, mostram que em 75 porcento das amostras de mel havia vestígios de pelo menos um neonicotinóide. Quase metade do mel analisado tinha restos de dois ou mais pesticidas. E dez porcento dos potes tinham uma mistura de quatro ou cinco desses pesticidas. Geograficamente, a maior percentagem de mel com resíduos fica na América do Norte (86%), Ásia (80%) e Europa (79%). O mel com menor rastro vem da América Latina (57%) e da Oceania (64%). “Pensávamos que encontraríamos muitas amostras contaminadas, mas não 75 por cento. Muitos deles provêm de áreas remotas ou principalmente de áreas naturais e os resultados são ainda mais chocantes”, diz Edward Mitchell, principal autor do estudo. “Quarenta e cinco porcento apresentam múltiplas contaminações. É uma percentagem alta e preocupante, pois não estamos bem conscientes do impacto dessas misturas. E nós apenas analisámos cinco dos aproximadamente 500 que existem. Esta é apenas a ponta do iceberg”, acrescenta.

A sucessão de estudos que ligam esses pesticidas ao declínio das colónias de abelhas levou à sua proibição total ou parcial. França, por exemplo, vetou-os. No resto da Europa, apenas alguns são permitidos e para certas culturas, como soja, milho ou colza. Este trabalho parece confirmar que as abelhas também estão expostas a esses inseticidas, ingerindo-os junto com o mel. Na opinião de João Branco, líder da Quercus, Associação Nacional de Conservação da Natureza, “Portugal, que em 2013 demonstrou uma posição muito débil relativamente a este assunto ao votar contra a proibição de três neonicotinóides muito tóxicos para as abelhas, terá agora a oportunidade de se redimir.” Uma situação que terá uma resolução até ao fim deste ano.

Protocolo de Montreal (ODS)




O Protocolo de Montreal é um acordo global que visa proteger a camada de ozono estratosférico através da eliminação progressiva dos químicos que a empobrecem. Esta eliminação progressiva abrange tanto a produção como o consumo de substâncias que enfraquecem a camada de ozono (ODS - ozone depleting substances).

Tendo em conta que as ODS são igualmente gases com efeito de estufa com elevado potencial de aquecimento, esta eliminação progressiva é também crítica para a atenuação das alterações climáticas. Além disso, não obstante o facto de os hidrofluorocarbonetos (HFC) não empobrecerem a camada de ozono, o protocolo visa reduzir progressivamente a sua produção e consumo para evitar que as ODS sejam substituídas pelos HFC, que contribuem significativamente para as alterações climáticas.

O Protocolo de Montreal foi acordado em 1987, entrou em vigor em 1989 e foi alterado diversas vezes. Na sua alteração mais recente, a emenda de Quigali apela à redução progressiva dos HFC.

As emissões de HFC estão abrangidas pelo Acordo de Paris, aprovado pela Decisão (UE) 2016/1841. Assim, o Protocolo de Montreal ajuda a cumprir o objetivo de manter o aumento da temperatura global bastante abaixo dos 2 ºC acima dos níveis pré-industriais e a prosseguir esforços para limitar ainda mais o aumento da temperatura a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais.

Saber mais:

Novo projeto EcoEconomy 4.0 da AEP apoia transição energética e ambiental das PME

Fonte: Greensavers

O novo projeto EcoEconomy 4.0, promovido pela Associação Empresarial de Portugal (AEP), propõe-se usar as tecnologias digitais da Indústria 4.0 para “reduzir o baixo conhecimento” das PME industriais das regiões Norte, Centro e Alentejo.

Orçado em mais de 700 mil euros, o projeto será apresentado na terça-feira e irá apostar em “áreas que constituem fatores críticos de inovação e competitividade sustentável, usando as tecnologias digitais da Indústria 4.0”, para apoiar as pequenas e médias empresas (PME) destas regiões economicamente mais desfavorecidas.

Segundo adiantou à agência Lusa fonte oficial da AEP, com o EcoEconomy 4.0 a associação pretende “mobilizar a força motriz da economia portuguesa para potenciar o cumprimento das metas nacionais e europeias, mostrando às empresas a importância de adotarem comportamentos numa lógica de economia regenerativa”.

O projeto apoia “o universo empresarial mais carente de intervenção, designadamente as PME, e atua no Norte, Centro e Alentejo, embora se esperem impactos positivos a nível nacional, tendo em conta os efeitos de disseminação previstos”, precisou.

O EcoEconomy 4.0 irá focar-se em dois domínios temáticos com impacto na pegada carbónica (emissão de carbono) e na produtividade dos materiais (relação entre o consumo de materiais na economia e o Produto Interno Bruto (PIB)): a descarbonização/transição energética e a economia circular.

“Como área transversal, o projeto incluiu a análise das tecnologias digitais da Indústria 4.0, originando um triângulo crítico de inovação e competitividade sustentável, indutores de uma subida na cadeia de valor”, refere a AEP.

Entre os principais objetivos do EcoEconomy 4.0 estão, assim, “diagnosticar a situação atual das PME industriais” das regiões abrangidas e “as suas necessidades mais prementes em matéria de sustentabilidade ambiental”, para então “definir as áreas prioritárias de atuação” no âmbito da descarbonização/transição energética e da economia circular, bem como as tecnologias digitais da Indústria 4.0 que mais potenciam o desenvolvimento nessas áreas.

O projeto propõe-se ainda criar e disponibilizar ferramentas de diagnóstico e autoavaliação que permitam às PME fazerem um ‘benchmarking’ setorial e evidenciarem as áreas de intervenção com maior potencial (em termos económicos e ambientais), assim como informação de ‘benchmarking’ nacional e internacional “que inspire a criação de soluções inovadoras e aplicáveis a empresas”.

As prioridades passam ainda por “desmistificar ideias erradas que persistem nas mentes de empresários e gestores” nos domínios da descarbonização/transição energética e da economia circular, criar ferramentas que os ajudem a implementar novas soluções nestas áreas e promover redes de negócios compostas por PME e “orientadas para a exploração de oportunidades de sinergias, nomeadamente no domínio das simbioses industriais e na partilha de boas práticas de negócio”.

Em declarações à Lusa, o presidente da AEP disse acreditar que o novo projeto “será capaz de atrair mais empresas para o processo” e que “os impactos das atividades a desenvolver se farão sentir no tecido empresarial, tornando-o mais sustentável e competitivo”.

“Tendo em conta que os planos nacionais de recuperação e resiliência vão dedicar pelo menos 37% dos gastos totais a investimentos e reformas que apoiem os objetivos climáticos, a AEP considera que o EcoEconomy 4.0 contribuirá ativamente para fazer chegar esta mensagem às PME portuguesas, garantindo uma transição justa e inclusiva, condição necessária para o sucesso”, salientou Luís Miguel Ribeiro.

O projeto EcoEconomy 4.0 é cofinanciado pelo Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Stephen Hawking: Ganância e estupidez são o que acabará com a espécie humana


O físico e cosmólogo de renome mundial, Stephen Hawking (1942-2018) deixou para trás uma trilha de citações famosas, palavras sábias e ditados inspiradores antes de sua morte.

Em 2016, durante uma entrevista com Larry King, do programa de entrevistas Larry King Now , Hawking disse que a humanidade sempre foi seu maior problema. Estamos conscientemente nos aproximando demais de um momento em que as mudanças climáticas seriam irreversíveis e, infelizmente, não há avanços à vista.

“Certamente não nos tornamos menos gananciosos ou menos estúpidos”, disse Hawking. “ Seis anos atrás eu estava preocupado com poluição e superlotação. Isso piorou desde então. A população cresceu meio bilhão desde a nossa última reunião [seis anos antes], sem fim à vista. Nesse ritmo, serão onze bilhões até 2100.

Em outra entrevista à BBC , Hawking disse: “Estamos perto do ponto crítico em que o aquecimento global se torna irreversível. A ação de Trump poderia levar a Terra à beira do abismo, para se tornar como Vénus, com uma temperatura de duzentos e cinquenta graus e chovendo ácido sulfúrico. ”…

“A mudança climática é um dos grandes perigos que enfrentamos e podemos evitar se agirmos agora.”

Realocação interplanetária como a única solução plausível

Embora ainda possa haver uma chance de salvar a Terra, Hawking estava convencido de que a humanidade nunca veria razões para tomar ações sólidas, unidas e bem direcionadas. Nas suas palavras, “[…] a evolução incorporou ganância e agressão ao genoma humano. Não há sinal de diminuição de conflitos, e o desenvolvimento de tecnologia militarizada e armas de destruição em massa pode tornar isso desastroso. ”

A única maneira de preservar nossa espécie seria garantir algum tipo de planeta reserva por um tempo em que a Terra se tornasse completamente habitável.

“A melhor esperança para a sobrevivência da espécie humana pode ser colónias independentes no espaço.”

Sobre poluição e abuso de IA

Hawking mencionou que a poluição do ar estava ficando rapidamente fora de controle, pois a curva de crescimento havia subido constantemente nos últimos cinco anos.

” A poluição do ar aumentou nos últimos cinco anos” , disse ele. ” Mais de 80% dos habitantes das áreas urbanas estão expostos a níveis inseguros de poluição do ar”.

A poluição do ar é o maior contribuinte para o clima. Hoje, a principal causa da poluição do ar é a combustão de combustíveis fósseis, um subproduto da industrialização e, como a humanidade a governou, não há como voltar atrás dos avanços da era moderna.

Hawking também discutiu a inteligência artificial com King, afirmando que os governos mundiais estão se envolvendo perigosamente em ” uma corrida armamentista da IA”.

“Pode ser difícil parar uma IA desonesta ” , disse o físico. ” Precisamos garantir que a IA seja projetada eticamente com as salvaguardas em vigor”.

A inteligência artificial tem muitos benefícios, mas quando usada para cumprir a agenda errada, pode se tornar uma ferramenta de invasão e destruição em massa.

De acordo com a pesquisadora Kate Crawford em 2017, “Assim como estamos vendo uma função de etapa aumentar na disseminação da IA, algo mais está acontecendo: a ascensão do ultra-nacionalismo, autoritarismo de direita e fascismo “, disse ela ao The Guardian

Stephen Hawking (QI-162 estimado) era mais conhecido por suas contribuições aos campos da cosmologia, relatividade geral e gravidade quântica, especialmente no contexto de buracos negros . O cientista formado em Cambridge e Oxford foi diagnosticado com uma forma de progressão lenta da esclerose lateral amiotrófica ou da doença de Lou Gehrig, uma doença da motoneurona que o deixou paralisado por grande parte de sua vida.

Ele causou um impacto permanente no mundo da ciência e da física, deixando inúmeros livros de autoria e citações inspiradoras em seu nome.

Fonte de referência: The Hearty Soul

HFC: substituto do CFC, gás também traz impactos


O HFC é um gás de efeito estufa, que tem contribuído para a intensificação do aquecimento global, trazendo problemas graves ao planeta

Os hidrofluorcarbonetos (HFCs) são gases do efeito estufa fluorados artificiais que rapidamente se acumulam na atmosfera. Eles começaram a ser usados como substitutos dos CFCs para aparelhos de ar condicionado, refrigeração, retardadores de chamas, aerossóis e solventes. Apesar de representarem uma pequena fração dos atuais gases estufa, o impacto é particularmente forte no aquecimento atmosférico e, se não forem controlados, esses poluentes climáticos de vida curta poderão ser responsáveis por quase 20% da poluição climática até 2050.

O efeito estufa é um processo que faz com que o planeta se mantenha aquecido e, dessa forma, possibilita a existência de vida e não apenas de geleiras na Terra. Mas o grande perigo está na aceleração desse processo, provocado pela atividade humana. Atividades como o desmatamento de florestas e a emissão de gases de efeito estufa têm sido determinantes no desequilíbrio do balanço de energia do sistema atmosférico da Terra, gerando maior retenção de energia e o aquecimento global. O HFC faz parte do grupo de gases estufa libertados pela ação antrópica que aceleram o aumento na temperatura, embora seja usado para amenizar o impacto do CFC sobre a camada de ozono.

Quando se trata de mudanças climáticas, o dióxido de carbono é o grande vilão da história. Mas a emissão de outros gases, como é o caso do clorofluorcaboneto (CFC), também é responsável por tal aceleramento, uma vez que contribui para a destruição da camada de ozônio. Por conta disso, em 16 de setembro de 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal – onde ficou acordado o banimento gradativo do CFC e sua substituição por outros gases que não agredissem a camada de ozônio.

A partir desse novo cenário, o mercado teve de se adaptar à nova realidade e buscar alternativas. Passou-se a usar os clorofluorcarbonetos (HCFCs), que, assim como o CFC, são usados para refrigeração (freezers de supermercado, geladeiras, frigoríficos, etc.) e são bem menos nocivos à camada de ozônio, porém ainda causam danos. Posteriormente, os HCFCs foram substituídos pelos hidrofluorcarbonetos, os HFCs, que são livres de cloro e por isso não prejudicam a camada de ozonio.

Porém, o que parecia ser uma solução acabou, com o tempo, mostrando limitações. Os gases HFC interagem com os outros gases de efeito estufa, contribuindo para o desequilíbrio do aquecimento global.

Hidrofluorcarbonetos (HFC)

O lançamento dos hidrofluorcarbonetos na atmosfera ao longo da segunda metade do século XX foi um dos motivos do aumento desproporcional da temperatura da Terra (como atesta o vídeo ao fim da matéria). O potencial individual e coletivo dos HFCs para contribuir com mudanças climáticas na superfície terrestre pode ser conferido pela sua eficiência radioativa, força radioativa e/ou Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em inglês) – que é muito maior que o do dióxido de carbono.

Pesquisadores alertam que o aumento do uso do gás HFC pode complicar o problema em relação ao aquecimento global, gerando uma variedade de impactos potencialmente graves, como o derretimento de geleiras, elevação do nível dos mares e oceanos, prejuízo à agricultura, desertificação de áreas naturais, aumento de desastres naturais como furacões, tufões e ciclones, entre outros diversos entraves.

A expectativa é a de que, só nos Estados Unidos, o uso do HFC dobre até 2020 e triplique em 2030. Caso não haja mudanças na emissão desse gás, este será responsável por 20% das emissões globais de efeito estufa até a metade do século XXI. Isso significaria que a meta de limitar o aumento da temperatura na Terra 2°C acima dos índices do começo do século XX (como os cientistas recomendam) seria impossível de ser atingida.

Os gases HFC também podem influir na temperatura da estratosfera, atmosfera e troposfera, e são responsáveis por um aumento na temperatura da tropopausa tropical (camada intermediária entre estratosfera e a troposfera) de 0.4 Kelvin (K).

Se, por um lado, o buraco na camada de ozônio está diminuindo desde o Protocolo de Montreal, a temperatura do planeta tem aumentado descontroladamente nas últimas décadas por conta (entre outros fatores) da emissão dos chamados hidrocarbonetos halogenados (entre eles o CFC e o HFC).

Então, para erradicar este problema, foi fechado um acordo com quase 200 países em outubro de 2016, em Quigali, capital de Ruanda, que visa a eliminação progressiva dos hidrofluorocarbonos (HFC).

O calendário adotado prevê que um primeiro grupo de países, os chamados desenvolvidos, reduza sua produção e seu consumo de HFC em 10% antes do final de 2019 em relação aos níveis de 2011-2013, e 85% antes de 2036.

Um segundo grupo de países em vias de desenvolvimento, entre eles a China – o maior produtor mundial de HFC -, a África do Sul e o Brasil se comprometeram a iniciar sua transição em 2024. Deverão alcançar uma redução de 10% em relação aos níveis de 2020-2022 para 2029 e de 80% para 2045.

Um terceiro grupo de países em desenvolvimento, incluindo Índia, Paquistão, Irã e Iraque terá redução de 10% em relação ao período 2024-2026 em 2032 e de 85% em 2047.

Como os hidrofluorcarbonetos formam parte dos chamados poluentes climáticos de vida curta e permanecem na atmosfera por entre cinco e dez anos, especialistas acreditam que sua erradicação terá efeitos imediatos na redução do aquecimento global. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o acordo fechado em Quigali evitará um aumento global da temperatura até o final do século XXI de até 0,5°C.

Alternativas

Fica claro então que o gás HFC e outros gases que contribuem para o aquecimento global são motivo de preocupação, devendo-se equilibrar as necessidades humanas com a segurança ambiental.

Segundo Paula Tejón Carbajal, da ONG Greenpeace, o Acordo de Quigali só terá êxito se a comunidade internacional optar por soluções de mudança que preservem o meio ambiente.

Um dos resultados desse acordo foi uma confirmação de certos países participantes de financiarem um compromisso para essa transição. Além disso, diversas empresas europeias substituíram o uso de HFC por hidrocarbonetos de baixo potencial estufa, em especial o ciclopentano e o isobutano.

Video

domingo, 25 de abril de 2021

O mundo admirável e sem paralelo da Peneda-Gerês

Fonte: Wilder

Neste seu quinquagésimo ano de vida, a Peneda-Gerês vive momentos decisivos de vária ordem. Se não libertarmos parte do território para a vida selvagem, se a pressão humana não for regulada e controlada, se as alterações climáticas não forem mitigadas através de uma urgente recuperação do coberto vegetal natural, o futuro deste mundo singular será cada vez mais sombrio.

O mundo admirável que mais uma vez é evocado nestas crónicas é um território de setecentos quilómetros quadrados que abrange não apenas o mítico Gerês mas também as serras da Peneda, do Soajo e a Amarela, os planaltos de Castro Laboreiro e da Mourela e que há cinquenta anos é o único parque nacional português.

Espaço montanhoso, com alguma amplitude altitudinal, de orografia complexa, está sujeito à interação de três influências climáticas. A continental, a atlântica e a mediterrânica. A mistura de inúmeros factores em que sobressaem precisamente o relevo, a ligação ao interior da península e a proximidade do oceano atlântico e da bacia mediterrânica, geram microclimas que exponenciam a grande diversidade de tipos de habitat, de associações vegetais, de espécies de fauna e de flora.

Na Peneda-Gerês existem meia dúzia de tipos de vegetação natural, a mais expressiva das quais são as cerca de duas dezenas de formações florestais. Os carvalhais destacam-se pela predominância e pela variedade das suas composições. São sistemas complexos. Um carvalhal não é uma monocultura de carvalhos, como um sobreiral não é apenas um conjunto de sobreiros. As árvores são o elemento mais visível e não devem viver isoladas nem ser dissociadas de toda a vida que sob elas progride, quando devidamente associadas.

Na Peneda-Gerês exigem-se manchas boscosas maduras, não meras arborizações ou arvoredo regenerado de incêndios cíclicos. E quando falamos da importância do arvoredo, não podemos esquecer o papel que ele continua a cumprir mesmo depois de sucumbir ao peso da idade. Sem manta morta, sem troncos a decompor-se no solo, não podemos falar de carvalhais. A maior mancha no Parque Nacional é a Mata de Albergaria que, numa situação ideal, deveria até ser expurgada aqui e ali de algumas intromissões estranhas do passado. Mas outras prioridades se impõem no território. Esta mancha referencial tem de ser replicada, unida a outras igualmente importantes que se encontram extremamente debilitadas.

Abordar o arvoredo da Peneda-Gerês impõe referir os vidoais de altitude, as únicas teixeiras (bosquetes de teixo) de Portugal, os azevinhais centenários, as galerias ripícolas nos afluentes dos cursos de água maiores.

Dependentes dos bosques, crescem as herbáceas próprias de ambientes húmidos e sombrios. Os matos, muito propagados pelo fogo, cobrem a maior parte do território. Os prados são de extrema importância e no seio da vegetação rupícola que prospera imersa no fraguedo granítico, encontram-se plantas raras que o fogo não alcança. Finalmente, são valiosas as comunidades de plantas associadas à água que apenas sobrevivem nos complexos hidroturfosos. As turfeiras de altitude são um tipo de habitat precioso e particularmente ameaçado, também pelas alterações climáticas.

A flora do Parque Nacional é enorme. Compõem-na trezentas plantas briófitas e mais de setecentas vasculares que incluem uma centena de endemismos ibéricos, sessenta da região noroeste. E a Peneda-Gerês é, em Portugal, o local de ocorrência quase exclusiva de cerca de uma dúzia de espécies florísticas.

A fauna não fica atrás. Cerca de 230 espécies de vertebrados, 200 com estatutos de proteção (convenções e directivas). Entre os mamíferos sobressai a cabra, o ícone maior e um exclusivo nacional. Mas outras preciosidades merecem destaque como a toupeira-d´água, a marta e 20 espécies de morcegos. Nos répteis e anfíbios o Parque Nacional também se impõe com as duas espécies de víboras que ocorrem em Portugal, a salamandra-lusitânica, a rã-ibérica e o tritão-de-ventre-laranja, à cabeça.

Maior ainda é o mundo dos invertebrados. Entre as cerca de 1.200 espécies identificadas, saltam – literalmente – à vista, as borboletas e as libélulas.Foto: Miguel Dantas da Gama

Neste seu quinquagésimo ano de vida a Peneda-Gerês vive momentos decisivos de vária ordem. Se não libertarmos parte do território para a vida selvagem, se a pressão humana não for regulada e controlada, se as alterações climáticas não forem mitigadas através de uma urgente recuperação do coberto vegetal natural, o futuro deste mundo singular será cada vez mais sombrio. As características que diferenciam positivamente o território esbater-se-ão, as suas especificidades ficarão mais pobres, a biodiversidade continuará a ser aniquilada.

Há problemas prementes a resolver. O peso da monocultura de pinheiro-bravo continua excessivo, grandes manchas de plantas infestantes em áreas mais ou menos definidas, comprometem seriamente o futuro.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês é, não me canso de o dizer, um território sem paralelo em Portugal, onde projectos ambiciosos de preservação da natureza ainda fazem sentido se o ser humano não continuar a exigir tudo para si, tudo moldado para sua conveniência. Se as espécies vegetais e animais motivam muitas vezes ações específicas em sua defesa, o que se impõe empreender neste mundo admirável é, mais do que nunca, uma intervenção que não perca de vista todo o espaço físico que lhe deu nome. Um parque nacional deve ensinar-nos o que é a natureza, um sistema complexo, dinâmico, composto por seres vivos, pelos elementos que os permitem, como a água e o ar e pelos espaços que os suportam.

O Parque Nacional é, antes de mais, um projecto de conservação da natureza e da vida selvagem. E porque cinquenta anos não bastaram para o confirmar, o último capitulo desta série de sete crónicas dedicadas ao seu quinquagésimo aniversário será, em cima do dia festivo que se aproxima, uma prosa diferente.

Filme: Torre-Bela (1975)


Sinopse

Torre Bela, velha propriedade do Duque de Lafões, uma herdade do Ribatejo com dois mil hectares, a maior herdade murada de Portugal, é ocupada por trabalhadores agrícolas sem trabalho nem terra, que, num dos momentos quentes do PREC, decidem organizar-se em cooperativa. Com o apoio de revolucionários idealistas, de um líder carismático de perfil duvidoso e de «soldados do povo», querem fazer ouvir a sua voz e as suas razões. Todos vêem nessa ilegítima apropriação um legítimo modo de reabilitação social, que inclui a recuperação de trabalhadores alcoolizados. Agem de boa-fé e sentem estar a contribuir com a sua experiência para o processo revolucionário em curso.

Em causa estão terras incultas desde 1961, que os ocupantes, residentes das povoações de Manique do Intendente, de Maçussa (Azambuja) e da Lapa (Cartaxo), pretendem explorar para produzir géneros de primeira necessidade. O processo é seguido passo a passo num filme que passo a passo se inventa, procurando decifrar o significado profundo de um gesto que excede o social, as questões de classe, e que outros personagens descobre, além daqueles que à partida tem em foco: «a base». os generosos soldados da «Polícia Militar, no âmbito das conquistas salvaguardadas pelo Movimento das Forças Armadas (MFA)» (Cit.: José de Matos-Cruz em O Cais do Olhar, ed. da Cinemateca Portuguesa, 1999).

Enquadramento histórico

Como filme militante

Entre outros militantes do cinema e muitos repórteres de televisão, encontra-se em Portugal em 1975 Thomas Harlan. Realiza, apoiado pela Agência Francesa de Imagens (a primeira agência francesa independente de fotografia), um filme sobre o papel do exército português na Revolução dos Cravos. Decide fazê-lo no prosseguimento de um projecto que inclui trabalho feito antes visando o papel do exército chileno de Pinochet (Thomas Harlan ver biografia).

Durante as filmagens feitas numa das assembleias do regimento de artilharia RAL I, em Sacavém, num momento crítico do PREC, um soldado faz um relatório sobre o movimento camponês e revela a ocupação iminente das propriedades da família real de Bragança, do Duque de Lafões. A equipa opta por se dirigir ao local e aí fica filmando durante oito meses. Para cobrir financeiramente o imprevisto recorre-se a uma cooperativa e algum dinheiro é conseguido de benfeitores, amigos ou crentes. Uma contribuição decisiva é obtida do industrial alemão Jörg Henle, presidente da sociedade Klöckner-Werke.

Thomas Harlan filma em puro cinema directo. Mas vê-se forçado a intervir ao confrontar-se com imprevistos personagens que não são exército: os agentes da ocupação, os verdadeiros heróis do filme. As coisas complicam-se e outras personagens entram em cena. Trata-se de uma “ocupação selvagem” feita contra a Lei da Reforma Agrária, e vê-se quem a invoca. O rosto do exército muda. O heróico soldado do povo deixa de o ser e outros militares surgem, novas e austeras figuras. Na confusão reinante, devido a repetidas afirmações do director português de produção do filme, Thomas Harlan é suspeito de espionagem e apontado como agente da CIA. Têm-no por inocente todos com quem trabalha e por inocente o tem a história.

Torre Bela é história e leitura da história num ângulo em que ela é dada a ver pelos seus próprios agentes, os ocupantes da herdade, que não suspeitam do profundo significado dos seus actos. «Assim sendo, em Torre Bela víamos coisas que jamais tínhamos visto, ou sonhado ver. E sem dúvida que os habitantes de Torre Bela poderiam dizer o mesmo : faziam coisas que, sem dúvida, nunca tinham pensado fazer anteriormente. Estavam presos numa engrenagem, num ciclo do qual não conseguiam fugir. Era preciso que quer nós quer eles inventássemos o dia-a-dia. Neste contexto, «a câmara acabou por ser respeitada como um instrumento de trabalho sempre presente»: um caso especial de «antropologia partilhada», expressão inventada por Jean Rouch para definir o caso em que observador e observado se olham através do mesmo espelho.

Como antropologia visual

Assume-se Torre Bela como exercício de pura antropologia visual visto ser difusa a matéria etnográfica que foca: mais que o grupo está em cena o Homem. Ao longo de anos, a obra evolui de montagem em montagem, de versão em versão. Perfilam-se, entretanto, pouco a pouco, sobressaindo da narrativa, melhorando em definição, várias personagens:

  • Camilo Mortágua: o revolucionário anti-fascista da LUAR (movimento de esquerda não leninista). Assalta bancos para financiar a luta contra a ditadura. Continuando a militar, já noutra época em que a liberdade se respira, tudo faz para dar vida à Torre Bela e nela poder viver.
  • Wilson, o líder popular da ocupação: «pulseira de ouro, dois aneís de ouro, sapato bicudo». Preso por ter assaltado o banco Pinto Magalhães, na Avenida de Roma, Lisboa, em 1971, é liberto com a Revolução dos Cravos. Personagem contraditória. Encerrada a cooperativa, torna-se vendedor de camiões.
  • Maria Vitória, «a mulher das azeitonas», que tinha as mãos em sangue por as apanhar no meio dos cardos e das silvas, dos restos que os senhores da terra deixavam. Corta com a família e com o marido, «que eram contra o que ela fazia». Entrega-se à cooperativa de corpo e alma.
  • D. Miguel de Bragança, o legítimo proprietário. Descreve-o assim o aventureiro Wilson: «Um homem sério, honesto naquilo que dizia, mas muito severo, ácido. Era ele, ele, e mais ninguém. Mas via-se que amava a Torre Bela. Não quis aceitar, então partimos para a ocupação».
  • Luís Banasol, personificação popular dos militares revolucionários, «então capitão, tão convicto que no 25 de Novembro gritou "Viva a Revolução"!». Encerrada a cooperativa por ordem do Governo em 1977, passa a viver na Ericeira.

Personagens complexas que se espelham em retratos humanos, densos e genuínos, agindo num contexto histórico, político e social inédito: um verdadeiro laboratório. Consciente disso, Harlan faz como Robert Flaherty e Jean Rouch faziam: projecta os “rushes”, o filme em bruto, diante dos seus protagonistas, confrontando-os com a sua própria imagem, despertando neles a consciência, até para melhor os perceber. São personagens que se tornam intérpretes de si próprios, que se confrontam com o desconhecido, que lutam pela utopia: o direito à terra e às coisas mais elementares da vida. Como lá chegar? Thomas Harlan segue-os, servindo-se da câmara e do carro: da máquina para os filmar e do carro para vir a Lisboa interceder junto dos poderes para que justiça lhes seja feita.

Desfeita a pretensão de filmar realidades como esta em «candid camera», desfeita a cooperativa, feitas e desfeitas várias montagens do filme, seria necessário um recuo de cerca de trinta anos para que Torre Bela tivesse versão definitiva (2007): versão em que se vê melhor a trágica e tocante vivência de gente do povo que se põe a inventar o futuro, contracenando com actores de primeiro plano, com importantes papéis na fita. A isso, o filme nada acrescenta. Deixa tudo na mesma, mas faz-nos pensar numa coisa: como foi possível passar-se o que se passou? O que é que aconteceu para se chegar a nada? Por que se esgota assim a esperança?

Questões lineares a que por certo as ciências do Homem saberão dar resposta.

Cenouras


Até o ano de 1.600 as cenouras eram de cor roxa, amarela e branca, até que fazendeiros resolveram cruzar os tipos disponíveis criando a tradicional cenoura de cor laranja que conhecemos hoje.
Ainda é possível encontrar a cenoura roxa e de outras cores ao redor do mundo, embora sejam muito raras e, em geral, são mudas doadas e trocadas entre fazendeiros e agricultores, não sendo mais viável a produção em larga escala, visto que a cor laranja caiu no gosto popular mundial.

sábado, 24 de abril de 2021

Documentário - Anos de Guerra - Guiné 1963-1974 (aviso- maiores de 16 anos)


A guerra colonial. Recordar o passado, registar no presente, pensando no futuro. Recolha de depoimentos de ex-combatentes ainda vivos e de imagens de arquivo possíveis. 
Produção: · Pedro Efe 
Realização: · José Barahona

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Our Forests | Timelapse in Google Earth

A monstruosa e arrepiante destruição das florestas do mundo, que a nossa espécie RACIONAL tem efectuado nos últimos anos.

 

Identificadas 272 espécies que devem ser travadas na Península Ibérica antes que seja tarde

Uma equipa de investigadores ligados a universidades portuguesas e espanholas identificou pela primeira vez as espécies que são potencialmente invasoras em águas interiores de Portugal e Espanha, anunciou esta quinta-feira o projecto LIFE Invasaqua.
Fonte: Wilder

No total são 272 espécies de plantas e animais agora publicadas na Lista de Espécies Exóticas Potencialmente Invasoras na Península Ibérica 2020, “o que permitirá a criação de sistemas de alerta e erradicação precoce para evitar o caos ecológico e económico”, indica uma nota divulgada pelo LIFE Invasaqua, projecto que impulsionou a investigação.

O LIFE Invasaqua, co-financiado por fundos comunitários, envolve três organizações portuguesas: Universidade de Évora, MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e ASPEA – Associação Portuguesa de Educação Ambiental.

As espécies identificadas “já estão na fase de transporte ou introdução na Península Ibérica e devem ser tidas em conta nos sistemas de alerta precoce de Espanha e Portugal”, avisam os cientistas. A maioria destes casos são de potenciais invasores que estão a chegar aos dois países “como animais de estimação, para fins ornamentais ou através da aquicultura”.

A lista agora divulgada resulta de um trabalho de avaliação e de consenso de 60 especialistas ligados a mais de 30 instituições de Espanha e Portugal e “pretende ser a base para a prevenção e alerta precoce por parte das administrações de ambos os países, bem como para promover a cooperação transnacional nesta área.”

Mais de 60% em falta nas listas oficiais

O projecto publicou também esta quinta-feira a Lista de espécies exóticas aquáticas da Península Ibérica 2020, que resultou do trabalho dos mesmos especialistas. Esta nova publicação identifica 306 espécies que já estão hoje introduzidas em águas interiores peninsulares. Destas, 200 estão “claramente estabelecidas ou naturalizadas” nos sistemas aquáticos de água doce e estuários da Península Ibérica, o que implica “um risco para o ambiente e para a economia muito elevado”.

No entanto, apenas menos de 40% destas espécies exóticas agora publicadas constam da lista oficial europeia ou das listas nacionais de Espanha ou Portugal, o que implica que a detenção ou comercialização de espécies não incluídas nestas listas ainda é permitida, avisa a equipa do projecto.

Vertebrados, crustáceos e moluscos são os grupos mais representados nestas 306 espécies, embora as plantas aquáticas exóticas também aqui estejam em número elevado. Em conjunto, estes grupos representam mais de 70% das espécies estabelecidas.

“Além das espécies invasoras mais emblemáticas, como o vison-americano, o peixe-gato-europeu, o mexilhão-zebra ou o jacinto-de-água, esta lista inclui também outras espécies menos conhecidas mas que constituem um problema, como o coipú, a rã-de-unhas-africana, a perca-sol, o lagostim-sinal, a amêijoa-asiática ou a azola”, exemplificam.

De acordo com estudos recentes feitos por toda a Europa, incluindo Portugal e Espanha, nota-se “um aumento preocupante dos problemas ecológicos e económicos associados às espécies exóticas invasoras”.

Para impedir que aconteçam ou responder rapidamente a essas situações, uma das principais apostas do Life Invasaqua tem passado pela elaboração e publicação de listas com as espécies exóticas que já estão presentes na Península Ibérica, ou que têm esse potencial. Segundo a equipa, estas “são uma ferramenta essencial para técnicos e gestores”.

“Estas listas são ferramentas para compreender e gerir as vias de introdução de espécies exóticas em sistemas de água doce e estuários, bem como para comunicar a dimensão do problema a todas as autoridades e partes interessadas relacionadas”, concorda Spyridon Flevaris, Chefe de Políticas de Biodiversidade da Comissão Europeia, citado na nota de imprensa.

As duas publicações agora divulgadas vão servir de base para o acompanhamento da implementação do objetivo da Estratégia da UE para a Biodiversidade até 2030 para combater espécies exóticas invasoras (EEI) e para a implementação de outras diretivas europeias (Habitats e Aves, Água e Estratégia Marinha).


Saiba mais

Conheça aqui algumas das espécies aquáticas invasoras que mais se destacam em Portugal, no âmbito de uma parceria entre a Wilder e o LIFE Invasaqua.