terça-feira, 11 de novembro de 2025

Portugueses reconhecem importância de cuidar do planeta mas pouco fazem por isso




Um estudo nacional realizado por investigadores da Universidade Aberta e do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra revela que os portugueses estão conscientes de que é preciso proteger o planeta, mas poucos são os que realmente fazem alguma coisa para protegê-lo.

Intitulado “Os Portuguesas e a Natureza”, o inquérito revela, por exemplo, o que os cientistas chamam de “uma relação complexa e ambivalente dos portugueses com a natureza”.

Apresentados na semana passada numa conferência da Fundação Serralves, os resultados mostram que mais de 90% dos inquiridos diz reconhecer a importância da Natureza para o bem-estar e saúde, mas menos de metade admite envolver-se em práticas regulares de cuidado ambiental.

A Natureza é, acima de tudo, vista como uma fonte de tranquilidade, beleza e equilíbrio emocional, e menos como um espaço de responsabilidade ética e política, diz o CFE em nota, e inspira uma forte componente emocional, uma vez que é amplamente equacionada com memórias de infância, liberdade e refúgio espiritual.

Os investigadores dizem que, de facto, se denota uma “elevada consciência ambiental” dos portugueses, mas isso não se traduz em ações concretas, havendo, por isso, contradições entre valores e comportamentos.

Segundo o estudo, a maioria dos inquiridos reconhece a urgência da crise climática, mas admite não alterar significativamente o seu estilo de vida para combatê-la.

Por outro lado, as práticas ambientais, como a redução do consumo, a reciclagem ou a preferência por uma mobilidade mais sustentável, são “fortemente condicionadas por fatores socioeconómicos e estruturais, mais do que por vontade individual”, dizem os autores.

No que toca a perceções e emoções associadas ao planeta, ao ambiente e à Natureza, percebeu-se que existe um “mal-estar difuso perante a degradação ambiental” e é cada vez maior a perceção de que o mundo natural está a ser perdido. Contudo, a isso liga-se um sentimento de impotência face a essa destruição.

Muitos dos inquiridos expressaram tristeza, ansiedade e nostalgia relativamente à perda de biodiversidade e à incessante expansão urbana que cada vez mais pressiona e degrada o mundo natural.

Paralelamente a tudo isso, os investigadores dizem que se verificou “um desejo de conexão”, ou seja, as pessoas procuram na Natureza um espaço de cura e de reencontro com o que consideram ser o essencial da vida.

O inquérito foi desenvolvido no âmbito da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável e do CFE, com financiamento da Cátedra UNESCO, do CFE e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Foi coordenado por Fátima Alves (Investigadora Responsável), contando com a colaboração de Diogo Guedes Vidal, Rosário Rosa, Ana Mendonça, João Aldeia, Teresa Girão, Filipa Saraiva e Helena Freitas.

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