O filme Dias Perfeitos (Perfect Days, 2023), dirigido por Wim Wenders, é uma obra contemplativa e profundamente humanista que aborda temas como rotina, simplicidade, solidão, e o sentido da vida.
A história segue Hirayama, um homem de meia-idade que trabalha limpando casas de banho públicos em Tóquio. À primeira vista, leva uma vida monótona e solitária, mas o filme revela pouco a pouco a beleza e a plenitude que ele encontra nas pequenas coisas do quotidiano: o som das folhas ao vento, a luz da manhã, a música que ouve em cassetes antigas, os livros que lê, as fotografias que tira.
🌿 Temas centrais:
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A dignidade do trabalho simples: Hirayama faz o seu trabalho com dedicação e calma, mostrando que há valor e beleza mesmo nas tarefas mais humildes.
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A contemplação do quotidiano: o filme celebra o minimalismo e a atenção plena — viver o presente e encontrar alegria em gestos simples.
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O silêncio e a introspeção: Wenders usa longos planos e pouca fala, convidando o espectador a observar e refletir junto com o protagonista.
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A solidão e a escolha de um estilo de vida: Hirayama parece viver à margem da sociedade moderna, mas o faz por escolha — há uma liberdade na sua rotina.
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A natureza e a cidade: o contraste entre o betão urbano e o verde das árvores reflete a harmonia que o personagem busca entre o mundo humano e o natural.
🎬 Destaques:
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Koji Yakusho (no papel de Hirayama) ganhou o prémio de Melhor Ator no Festival de Cannes 2023.
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A banda sonora é nostálgica, com músicas de Lou Reed, Patti Smith e The Animals — canções que traduzem o estado de espírito do protagonista.
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A fotografia é poética e meticulosa, mostrando Tóquio como uma cidade silenciosamente viva.
Em suma, Dias Perfeitos é um filme sobre a beleza da rotina e a profundidade da simplicidade, uma espécie de meditação visual sobre o que significa viver bem — mesmo (ou talvez sobretudo) quando se vive com pouco.
🧍♂️ Resumo
Hirayama (interpretado magistralmente por Koji Yakusho) vive uma rotina precisa e quase ritualística: acorda cedo, arruma a cama, cuida das plantas, apanha o mesmo comboio, limpa os sanitários públicos de Tóquio com esmero e, no tempo livre, lê livros usados, tira fotos em filme analógico e ouve música em cassetes antigas.
Essa repetição não é um vazio, mas uma forma de contemplação — uma vida em harmonia com o presente. Contudo, o filme deixa escapar, aos poucos, fragmentos do passado de Hirayama, sugerindo que ele escolheu esse modo de vida após um afastamento profundo da sua antiga realidade.
Quando a sobrinha adolescente, Niko, o visita inesperadamente, descobrimos que Hirayama pertence a uma família abastada, provavelmente da elite empresarial japonesa. A visita mostra o contraste entre o seu modo de vida simples e o materialismo do mundo que ele deixou para trás. Niko, fascinada pela autenticidade do tio, decide fugir da sua casa, e esse encontro reacende em Hirayama uma certa ternura, mas também uma melancolia silenciosa — ele sabe que as suas escolhas o afastaram de vínculos humanos.
🎞️ O final
No último ato, depois de reencontrar o irmão (pai de Niko), Hirayama regressa à sua rotina. Tudo parece igual — ele volta a acordar cedo, limpar, almoçar sozinho, dirigir. Mas há uma subtil diferença emocional: a visita da sobrinha parece ter reavivado algo dentro dele.
O filme termina com ele dentro do carro, conduzindo para o trabalho, enquanto ouve “Feeling Good” de Nina Simone. A câmara foca lentamente o seu rosto: ele sorri, depois o sorriso se desfaz, e lágrimas discretas surgem. O ecrã escurece.
🌅 Significado simbólico do final
Essa sequência final é profundamente ambígua — e é aí que está a sua força:
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A lágrima não é tristeza pura. É um momento de epifania. Hirayama sente, por um instante, a plenitude da sua própria existência. É o reconhecimento da beleza e da dor de estar vivo.
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“Feeling Good” reforça essa ideia: a música fala de recomeços (“It’s a new dawn, it’s a new day, it’s a new life for me”), ecoando o possível renascimento interior do protagonista.
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O sorriso que se transforma em emoção mostra que, embora ele viva só, ele sente profundamente — o filme desmonta a ideia de que uma vida simples é uma vida vazia.
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O ciclo recomeça, mas não de forma mecânica: cada dia é o mesmo e, ao mesmo tempo, único — daí o título Dias Perfeitos.
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