quarta-feira, 20 de abril de 2022

Um texto revolucionário



Há um tempo que queremos divulgar este material aqui na página. Ele foi escrito em 1971, mas é mais atual do que nunca.
Escrito por Artur, revisado e complementado por Ana, "Nós e o Meio Ambiente" fala sobre a Agricultura Biológica, Regenerativa, Biodinâmica, ECOLÓGICA, da qual tanto se fala hoje mas que eles vem ensinando há anos.
Este material, hoje parte do acervo da BORA-Unicamp, foi uma Conferência proferida por Artur Primavesi na Escola Superior de Guerra em 13 de março de 1971.
É impactante como o que eles descreviam como problemas (já parte daquela época e os vindouros) estão presentes e como descrevem a maneira com a qual deveríamos manejar a natureza para que ela não fosse rapinada, um manejo que aos poucos, se incorpora à prática agrícola atual por meio da Agroecologia.
Transcrevemos somente algumas partes. Link para acesso ao livro completo ao final do post.
"Errada é a nossa concepção do solo. O solo não é somente um acúmulo de minerais em diversos estados de trituração e decomposição... Não é somente um local onde se acha depositada ou não alguma matéria orgânica ou que, por razões inexplicáveis, se apresenta ora mais poroso, ora mais compacto. O solo é um organismo vivo. Chamamos organismo vivo cada ser que respira, que tem temperatura própria, que possui seu metabolismo e cujos processos de catabolismo e de anabolismo se influenciam mutuamente. Isso ocorre na planta, no animal, no homem e no solo.
"O solo não é, pois, um suporte...onde seres vivos vivem como num edifício de apartamentos, um ao lado do outro, sem se conhecerem. É um organismo vivo onde a função de um influi no outro. O solo pode viver e morrer. E quando morto, não produz mais, como uma vaca morta não dá mais leite e um homem morto não trabalha mais.
“O homem está mudando o ambiente e o mundo. Ele vem fazendo isso desde seu aparecimento como nova espécie, mas agora a atual população tem aumentado tanto e a tecnologia atingiu tal ponto de desenvolvimento que há verdadeiro perigo de que o homem possa destruir a capacidade da Terra em sustentar a vida, porque a cada avanço técnico temos de sacrificar uma parcela da natureza.
“No campo de experimentação havia uma plantação de pessegueiros muito atacados por pulgão. Como consequência surgiu a crespeira das folhas. Dever-se-ia pulverizar com inseticida? Ou o que poderia faltar ao solo para que a planta não tivesse mais resistência? Os pulgões são animaizinhos muito frágeis. Só podem perfurar as células foliares quando estas tiverem membranas muito fracas. Mas o que faz a membrana ser mais resistente? Cálcio e potássio. Assim, os pessegueiros foram adubados com Ca e K. Três semanas mais tarde não havia mais pulgões sobre as folhas e em quatro semanas não havia mais folhas encrespadas, enquanto que as testemunhas deixadas com suas folhas encrespadas estavam carregadas de pulgões. Por que os pulgões não passavam para as plantas adubadas, já que estas com suas folhas sadias encostavam nas das folhas atacadas?
“Na cultura de aveia, existe um grande desenvolvimento de nematoides. Sabe-se que estes são sensíveis às concentrações de açúcar, na zona radicular. Precisaríamos, então, manejar as plantas de tal modo que excretassem bastante açúcar. O que necessita uma planta para uma rápida síntese de açúcar? As sementes foram enriquecidas de Mn, Mg, B e Cu. A cultura de aveia não só se desenvolveu melhor, mas também formou uma camada de 2 mm de espessura ao redor das raízes, que não pôde ser atravessada pelos nematoides de 0,01mm de tamanho.
“Os trabalhos dos Institutos mencionados provaram dois fatos: Primeiro, poderíamos reduzir o uso dos inseticidas a casos de emergência se a indústria resolvesse em vez disso produzir adubos de composição específica para as culturas a serem pulverizadas. Segundo, nota-se, claramente, que a fertilização ainda não leva em consideração o equilíbrio dos nutrientes, o que finalmente ir-se-á no homem, já que nós nos situamos no centro daquele ciclo da senda dos minerais, que passam do solo às plantas para o homem; e de volta ao solo.
“A atual fertilização unilateral com NKP influi negativamente no equilíbrio mineral do solo: ele necessita de 24 minerais diferentes que lhe são constantemente retirados, e não só os três que lhes são adicionados desproporcionalmente. O que importa não é a quantidade de um elemento no solo e sim, a sua proporção em relação aos outros. Doenças vegetais podem ser evitadas quando o solo for tratado em sentido biológico ou biodinâmico.
"A solução do problema está, pois, na pesquisa, na legislação e na educação, que deve começar no Jardim de Infância e ir até as escolas superiores e Universidades. Somente um órgão nacional e com capacidade de síntese, pode resolver o maior problema de nossa época."

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