sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Nobel da Paz 2021 vai para a Liberdade de Expressão: Maria Ressa e Dimitri Muratov

O Nobel da Paz 2021 vai para a liberdade de expressão e informação . "Não existe democracia sem liberdade de expressão", disse Berit Reiss-Andersen, quando anunciou que os dois distinguidos com o Nobel da Paz 2021 são os jornalistas e ativistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov da Rússia, dois países em que este direito democrático não está garantido.


Os jornalistas Maria Ressa das Filipinas e Dmitri Muratov da Rússia são os dois galardoados com o prémio Nobel da Paz 2021, anunciado esta sexta-feira, pontualmente, às 11h em Oslo (uma hora menos em Portugal).

Ressa e Muratov são dois profissionais que lutam pela “defesa da liberdade da expressão”, de acordo com o comité Nobel.

O dois laureados vão receber o prémio de dez milhões de coroas suecas (quase um milhão de euros), um diploma e uma medalha do Nobel.

"O jornalismo independente e baseado em factos serve para [nos] proteger do abuso de poder, das mentiras e da propaganda de guerra. Sem liberdade de expressão e de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre as nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso em nosso tempo", disse Berit Reiss-Andersen do Comité Nobel quando anunciou o nome dos dois jornalistas distinguidos com o Nobel da Paz 2021.

Recorde-se que os nomes dos candidatos - excepto a candidatura laureada - e dos respetivos proponentes permanecem em segredo durante 50 anos, de acordo com as regras do Comité Nobel. Entre 1901 e 1967 foram apresentadas 4425 candidaturas ao Nobel da Paz, segundo informação da Fundação Nobel.

Ao longo destes 66 anos de candidaturas apresentadas ao Nobel da Paz que podem ser consultadas no arquivo online da Fundação Nobel, surge um único nome português: Sebastião Magalhães Lima, escritor, jornalista, co-fundador do matutino "O Século" de que foi o primeiro diretor, foi indigitado para o Nobel da Paz em 1909 pelo deputado Feio Terenas que tinha sido eleito como parlamentar das Cortes em 1908 [o nome ainda era este porque a implantação da I República em 1910].

Os distinguidos em 1909 foram Auguste Marie François Beernaert e Paul Henri Benjamin Balluet d’Estournelles de Constant, pela seu papel “proeminente no movimento internacional" para o estabelecimento da paz.

Com a implantação da I República a 5 de Outubro de 1910, Sebastião de Magalhães Lima é um dos candidatos ao cargo de (primeiro) Presidente da República eleito em Portugal. Nesse tempo o PR era eleito por voto indireto. A 24 de agosto de 1911 o resultado foi conhecido, Manuel de Arriaga eleito por 121 votos e Magalhães Lima (um dos quatro candidatos) teve um voto.

Dois anos antes do nome de Magalhães Lima ser proposto para Nobel da Paz, em 1907, o Comité Nobel distinguiu o italiano Ernesto Teodoro Moneta, pelo seu trabalho em prol da paz. Moneta era também jornalista e, nessa época, os limites entre a atividade de informar e militar no terreno eram muito mais ténues. Louis Renault foi o outro co-galardoado com o Nobel da Paz nesse ano.

Em 2021, o Comité Nobel Norueguês recebeu 329 candidaturas ao Prémio Nobel da Paz, sendo que 234 são de personalidades individuais e 95 de organizações.

O número de candidaturas que deram entrada em 2021 é o terceiro mais alto de sempre, o recorde foi registado em 2016, anos em que o Comité Nobel recebeu 376 candidaturas ao galardão que tem como objetivo – definido por Alfredo Nobel – distinguir quem contribui para "a aproximação dos povos e a eliminação ou redução dos armamentos, bem como a formação ou promoção de congressos de paz".

As candidaturas ao Nobel da Paz são válidas desde que apresentadas por cidadãos ou entidades que cumpram as regras definidas pelo prémio, como é o caso de pessoas ou organizações (já) galardoadas com o Nobel da Paz, professores universitários, parlamentares ou governantes de Estados reconhecidos pelo Direito Internacional. Os critérios definidos pela Fundação Nobel pode ser lidos AQUI.

O nome do cidadão ou organização laureada com o Nobel da Paz é quase sempre uma surpresa e 2021 não foi exceção, tal como tinha acontecido em 2020. Recorde-se que há um ano, os três grandes favoritos (cujo nome foi repetido amiúde pela imprensa internacional) eram a ativista ambiental Greta Thunberg, o opositor russo Alekséi Navalny, e o secretário-geral da OMS, Tedros Adhanom. No final, o prémio foi entregue ao Programa Alimentar Mundial pelo "seu esforço no combate à fome, pela seu contributo para criar condições de paz nas zonas afetadas por conflitos, tentando (assim) evitar que a fome seja usada como uma arma de guerra" como tantas vezes acontece.

Os grandes favoritos de 2021

Alterações climáticas, direitos humanos, saúde e vacinação eram os temas que mais consenso reuniam para 2021, bem como os protagonistas que atuam em sua defesa.

Até às 11h desta sexta-feira (em Oslo) ninguém sabia se o Nobel da Paz seria novamente entregue a uma organização ou a uma ou mais personalidades, mantendo assim a prática de não galardoar organizações dois anos seguidos.

De acordo com a revista Time, alguns dos nomes tidos como favoritos são os mesmo de há um ano, como é o caso da Organização Mundial de Saúde pelo papel desempenhado no programa COVAX de vacinação contra a covid-19 que, desde fevereiro último, assegurou a distribuição de 311 milhões de vacinas em 143 países.

A nível coletivo, a publicação americana refere ainda a organização Repórteres Sem Fronteiras. Recorde-se que a situação que está a ser vivida pelos jornalistas afegãos pode pesar na escolha de uma organização que luta pela liberdade de informação e de expressão, direito que não está totalmente garantido em mais de cem países.

O oposicionista russo Alexei Navalny, que já foi considerado pela Amnistia Internacional como prisioneiro político [prisioneiro de consciência], a oposicionista bielorrussa Svetlana Tikhanovskaya, que se candidatou às eleições do seu país em vez do marido, Sergei Tikhanovskaya, que tinha sido preso pelo regime do fiel aliado de Putin, Alexander Lukashenko, e a ambientalista Greta Thunberg são os três nomes de personalidades individuais que parecem mais consensuais.

O anúncio foi uma surpresa para (quase) não fugir à regra. A agência France Presse define a jornalista filipina Maria Ressa, 58 anos, como "um símbolo da luta pela liberdade de imprensa"

Em 2012, Maria Ressa foi uma das fundadoras do site de notícias Rappler, uma plataforma que reúne reportagens multimédia e artigos que oferecem um olhar não oficioso sobre a governação do Presidente Rodrigo Duterte.

Ressa e o site Rappler enfrentaram várias acusações criminais depois de publicarem trabalhos sobre Duterte. Recorde-se que Maria Ressa já tinha sido nomeada "Person of the Year" pela revista Time, em 2018, pelo "seu trabalho sobre liberdade de imprensa", escreve a France Presse. As sucessivas detenções de que foi alvo chamaram a atenção do mundo para o seu caso e a falta de liberdade de expressão nas Filipinas.

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