quarta-feira, 29 de abril de 2020

Covid-19: o isolamento está a mudar até a maneira como a Terra se move

Uma redução no ruído sísmico devido a mudanças na atividade humana é um benefício, asseguram geocientistas.

Fonte: aqui
É verdade que a pandemia trouxe caos às nossas vidas – e à economia – um pouco por todo o mundo, mas os esforços para conter a propagação do vírus podem estar a ter outros efeitos. Por exemplo, que o próprio planeta se está a mover um pouco menos.  
Os investigadores que estudam o movimento da Terra estão a relatar uma quebra no ruído sísmico, que é o nome dado àquele zumbido das vibrações na crosta do planeta – e estão convencidos de que julgam que é resultado da baixa considerável das atividades humanas. O grande benefício? Poderá ser possível detetar terramotos menores e intensificar a atividade vulcânia e outros eventos similares.  
“Uma redução de ruído desta magnitude ocorre geralmente, por um período muito breve, na época do Natal”, nota Thomas Lecocq, um sismólogo do Observatório Real da Bélgica em Bruxelas, onde a queda dos valores foi observada.  
A explicação, lê-se na revista Nature, é relativamente simples: assim como eventos naturais (por exemplo, terremotos) fazem com que a crosta terrestre se mexa, o mesmo ocorre com as vibrações causadas por veículos em movimento e máquinas industriais. E embora os efeitos de fontes individuais possam ser pequenos, o ruído de fundo que produzem em conjunto reduz parte da capacidade dos sismólogos de detetar outros sinais que possam ocorrer na mesma frequência. 

“A queda é enorme”

Os dados que a equipa de Lecocq recolheu, no Observatório Real da Bélgica, revelam que o ruído sísmico induzido pelo homem caiu mesmo cerca de um terço e a informação está a despertar a atenção de outros cientistas.  
“Se o estado de confinamento se prolongar nos próximos meses é expetável que haja um afinamento tanto na deteção de tremores secundários como de eventos maiores”, avança Andy Frasseto, sismólogo do IRIS, um consórcio de pesquisa universitário dedicado a explorar o interior da Terra, situado em Washington, nos EUA.   
Um tweet de Celeste Labedz, estudante de geofísica no Instituto de Tecnologia da Califórnia, do outro lado dos Estados Unidos, dava também sinal do mesmo: “A queda é enorme”, comentou, em resposta a um sismólogo do Imperial College de Londres.
No entanto, nem todas as estações de monitorização do movimento sísmico terão um efeito tão pronunciado quanto o observado em Bruxelas, observa Emily Wolin, geóloga do Serviço Geológico dos EUA em Albuquerque, Novo México. E porquê? Muitas estão propositadamente localizadas em áreas remotas, para evitar o ruído humano. Aí, nota a cientista, será certamente menor.

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