sexta-feira, 8 de junho de 2018

A Europa não se entende, por Agostinho da Silva

Ela Yeşildoğan- Detail shot of an Upper West Side cathedral

"... A Europa não presta para nada, a Europa não se entende, porque está a querer fazer uma coisa nova com uma trapalhada velha... [...] O que se deve é chegar a outra coisa muito importante: à liberdade cultural de cada homem! 
Já não se trata de esta região ou aquela ser desta ou daquela maneira: trata-se de ser à sua maneira cada pessoa! Temos de levar o mundo a um tal tipo de organização que permita a identidade cultural de cada homem, sem sofrer nenhuma espécie de atropelo. 
A liberdade cultural do Minho, ou da Catalunha, ou da Andaluzia, ou de qualquer coisa dessas, é apenas um degrau para passarmos ao último andar da casa, que é cada homem ter a sua plena liberdade cultural! 
Como se costuma dizer, fazer aquilo que lhe der na cabeça, ou no coração, ou nos pés, se preferir andar. Rumar exactamente como quiser rumar; e o mundo estar organizado de tal maneira que daí não resulte o caos, mas uma nova espécie de cosmos, isto é uma espécie de nova ordem. 
Que resulte um mundo que continue a ser mundo. As pessoas não se lembram que "mundo" é a palavra contrária de "imundo". [...] Mundo é um adjectivo, é o contrário de imundo. 
Nós não queremos um mundo imundo, queremos conservar o mundo cada vez mais mundo, cada vez mais puro... É preciso que cada pessoa seja cada vez mais pura. E o que é ser cada vez mais puro? É ser cada vez mais ele." 

- Agostinho da Silva, "Ir à Índia sem abandonar Portugal" in "Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações e Outros Textos", Assírio & Alvim, 1994, p. 44

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