sábado, 10 de setembro de 2011

Lilás Postes Mórbidos



Desde tempos medievais e até actualmente os músicos experimentavam colectivamente as suas composições e em festas promoviam as suas canções e os seus hits propagavam-se nas aldeias próximas e havia os bailes. Na entrecuzilhada mais tecno e no séc XXI isso continuará, umas bandas ou temas não ficarão nos cancioneiros nem de portugueses, nem dos islandeses, eu sei lá...algum musicólogo depois fará a história desta explosão de inúmeros nadas que com pequeno conjunto de instrumentos nascem melodias. Umas chegam aos grandes charts de consumo, outras preferem o estatuto indie, outras um aborto e ainda outras pequenas pérolas no universo do youtube. Também chegou a minha vez. Tinha 19 anos e conheci um grupo de amigos, a ideia da banda foi crescendo e foi um poema meu que embaixo reproduzo deu nome à banda. Escolhi este clip porque me faz lembrar o tipo de sonoridade mais próxima dos Lilás Postes Mórbidos, por vezes mais bauhauístas, outras vezes chameloneanos, cureanos e tuxedomoon, sem metais....muito baixo, bateria, caixa de ritmos e guitarra e garra e sonhos e muita independência. Tudo isto porque a banda se inspirou neste poema que o fiz no dia de 18 de Agosto de 1985. Há 27 anos...Bolas, 27 anos!! Ao Pauplonio Sacrilégio, Gusto, Dr. Faustus foi bom conhecer-vos e termos feito concertos. Agora mal nos vemos, mas foram bons momentos. A vida é assim, revolução e evolução. Revolução e evolução até a um funeral, uma imortalidade que ficará nos corações que conseguimos tocar e perpetuar muito mais ou igualmente como os livros, blogues, trabalho profissional e obras de arte.

Lilás Postes Mórbidos

Os meus olhos
ardem copiosos
Mesmo o musgo que escorria
pelos pigmentos ferrosos
garganteia cânticos de paixão

Até mesmo os azulejos em flor
garganteia cânticos
que estilhaçam
em cacos no céu da boca

O sangue mistura-se com força
nas náuseas da minha angústia

No pátio, sinistros
postes mórbidos
acautelam o caixão
grinaldas de rosas sobre lilás
pincelam o manto

Ai a fúria, o ódio, o rancor
profundo e reservado
de já não me pertenceres
embrenharam-se num solene
pranto...

João Paulo Soares, 18.08.85

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