quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ética ambiental e a pós-modernidade

Rob Mackay
Por Sociedade Ética Ambiental
Alguns dos eticistas ambientais reclamam uma visão pós-moderna do Homem e do Mundo como forma de erigir uma autêntica abordagem ecológica capaz de enfrentar os desafios que a crise ambiental coloca.
Em que consiste essa visão pós moderna da Natureza?
Em 1º lugar convém identificar os traços caracterizadores da modernidade para depois, por oposição, caracterizar a "genuína ética ecológica" emergente da crítica a esses mesmos traços.

A visão moderna da Natureza e do Homem, em traços gerais, postula o seguinte:
1- Cisão entre a Natureza e o Homem
2- Cisão entre pensamento e matéria
3- A Natureza e os seres não humanos não são mais do que coisas (mecânicas); a razão é substância infinita
4- Os seres racionais têm um valor intrínseco; todos os seres não racionais têm um valor instrumental( meios para os fins do Homem)
5- Do ponto de vista do conhecimento o mundo divide-se em sujeito (Homem) e Objecto (Natureza)
6- O Saber é analítico, fragmentado- decomposição do conhecimento em parcelas- especilaizado em áreas distintas
7- Elege a razão instrumental, aquela cuja vocação é a produção de artefactos, tecnologia, tendo como ideal o progresso
8- A ideia de progresso identifica-se com o total domínio da Natureza e dos processos naturais
9- A verdade é objectiva, factual e inteiramente racional- mitos e religião não passam de fantasias primitivas.

A visão pós-moderna reclamada pelas éticas ambientais assenta nas conclusões da ciência contemporânea:
A Ecologia e a Biologia afirmam a continuidade e interdependência de todos os seres naturais (incluindo o Homem)
A Física quântica afirma a mútua influência entre sujeito e objecto
A neurobiologia afirma a importância do sentimento e das emoções nos processos cognitivos

A partir daqui, a visão que as éticas ambientais reclamam propõe:

1- Uma visão integrada do Homem e da Natureza
2- Uma compreensão holística do real
3- A assunção de uma sabedoria integradora da ciência, do mito, da religião na compreensão do ser humano e da sua relação com o mundo natural.
4- A concepção do humano na sua integralidade: Razão e Sentimento
5- A negação da ideia de progresso mensurável a partir da multiplicação de artefactos
6- A afirmação das implicações nefastas para o ser humano na sua acção contra a Natureza, dada a sua dependência do mundo natural
7- A revalorização da Natureza e das entidades não humanas como dignas de respeito e consideração moral
8- A valorização da afectividade, enquanto dimensão estrutural do ser, no reestabelecimento dos vínculos que ligam o homem a tudo o que o rodeia.

Em consequência, as éticas ambientais procuram alargar o horizonte da ética, libertando-a da clausura antropocêntrica e imediatista que a tem caracterizado na sua versão tradicional:
O Homem faz parte da Natureza e a Natureza faz parte dele.

Dedico esta postagem a um grande amigo meu, meu cunhado-irmão Arquitecto António Custódio. Vais ficar bom!


1 comentário:

rebelonya disse...

Caro João,
estando de momento activa no estudo da ecologia humana (FCSH-UNL) devo referir que a viragem da ética ambiental que defende é aquela que procuramos praticar no próprio estudo das ciências sociais e humanas, procurando "dissolver" um pouco o foco antropocêntrico... Porém, poucos são os que defendem que estejamos na pós-modernidade. Será que já virámos a página? Ou estamos a preparar-nos para uma mudança mais profunda? Obrigada pelos seus contributos sempre preciosos, ao longo destes anos :)
Inês Vieira