terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cidade pedestre, cidade rápida

Andar a pé Por João B. Serra (Cidade Imaginária e autor blogue O que Eu Andei) Crónica originalmente publicada no Gazeta das Caldas, 28 de Junho de 2008

A alta dos preços dos combustíveis conferiu acuidade aos problemas da mobilidade e ao planeamento das deslocações no interior da cidade. A cidade que andamos a construir nos últimos 30 anos mostra-se agora dispendiosa e penalizadora do ambiente. O deficiente planeamento das implantações dos serviços e dos sistemas de transportes e comunicações sobe agora o valor da factura do efeito de estufa e dos custos energéticos. Em muitas cidades europeias está em curso a recuperação do andar a pé. Tomam-se medidas que favorecem a deslocação pedestre, elaboram-se planos de mobilidade pedonal. As cidades procuram garantir que os percursos para peões sejam seguros, conviviais e atractivos. Em nome da saúde, mas também da qualidade de vida e da reanimação do espaço público. 

Num texto intitulado Cidade pedestre, cidade rápida , o geógrafo Jacques Levy propõe um método de análise urbana dos modos de gestão da distância centrada no peão. Denomina essa metodologia de métrica pedestre. Mede os percursos dos peões em espaços públicos, em espaços semi-públicos ou de acesso condicionado, e em espaços privados. A aplicação da métrica pedestre permite-lhe operar uma classificação de cidades e bairros. A verificação de bons resultados na métrica pedestre equivale a desenvolvimento urbano. É preciso perceber que os indicadores clássicos da mobilidade urbana (velocidade média da deslocação) são hoje de pouca utilidade. 

Interessa medir a eficácia relativa da deslocação, que depende mais do objectivo que se pode atingir do que do número de quilómetros percorridos. Se a qualidade urbana (a urbanidade) depende cada vez mais dessa eficácia, traduzida em modelo de gestão da distância, o que se verifica é que em certas cidades e em certas áreas das cidades o automóvel não é eficaz. O automóvel é um grande consumidor de superfícies, por esse facto aumentando as distâncias em vez de as diminuir. De modo que, nas áreas urbanas densas e diversificadas, a métrica pedestre é mais rápida que a métrica do transporte em automóvel particular (Vide o dossiê Marcher no nº 359 da Revue Urbanisme, Março/Abril de 2008)

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